por Juracy Andrade

Com a substituição do cardeal Tarcisio
Bertone, na Secretaria de Estado, pelo embaixador do Vaticano na Venezuela,
Pietro Parolin, Parolin, a partir de outubro, o papa Francisco remove
finalmente da cúpula da Cúria Romana uma fonte de escândalos. É claro que o
velho tecnoburocrata da corte de Bento 16 não concorda com essa acusação e
chamou seus detratores de “corvos e víboras”. O que não muda nada.
O jornalista italiano Gianluigi Nuzzi
escreveu dois livros importantíssimos sobre escândalos (que não são poucos) no
Estado papal, que pretende representar a Igreja de Cristo. Sobre esses livros
já falei aqui: Vaticano SpA e Sua Santità - Le carte segrete di Benedetto XVI. Neste último,
a partir da pagina 53, o autor inicia o capítulo sobre “corrupção nos sacros
palácios” tratando de um encontro entre o todo-poderoso secretário de Estado e
o monsenhor Carlo Maria Viganò no dia 22 de março de 2011. Este último era o
secretário geral do governo do Vaticano (governatorato) e fora encarregado,
pelo papa Ratzinger, de fazer o saneamento do balanço, por ordem nas contas.
Segundo ele mesmo, foi vítima de uma conspiração, ganhando como prêmio de
consolação a embaixada (nunciatura) do Vaticano em Washington.
Poucos
dias depois, aparecia na imprensa (Libero
e Il Fatto Quotidiano) uma série de artigos com documentos secretos da assim
dita Santa Sé (caso Vatileaks). O establishment Vaticano faz de tudo para
encobrir a verdade que começa a emergir: desencontros entre purpurados,
divisões e guerra entre os fiéis de Bertone e outros, próximos ao cardeal
Angelo Bagnasco, presidenre da Conferência Episcopal Italiana. Em boa parte,
essa guerra envolvia a política italiana: Bertone é berlusconiano.
Rigoroso e chegado à transparência, Viganò
estava inquieto, enquanto aguardava a audiência com o poderoso chefão do Vaticano
(uma espécie de primeiro-ministro). Tinha feito muitos inimigos enquanto
tentava repor em ordem contas e despesas contrariando interesses e privilégios
consolidados. Estava convencido de que os prejudicados se haviam unido para uma
vingança, buscando fortes protetores. Sabia que Bertone conseguira construir,
nos últimos anos, sua estrutura de poder ao nomear cardeais e monsenhores de
sua confiança para a direção de numerosas entidades-chave do Império Papal. E,
havia poucos dias, um artigo anônimo no Il
Giornale o colocara como um
adepto do antigo secretário de Estado Angelo Sodano.
Como temia o responsável pelo saneamento
das despesas e balanços da mal designada Santa Sé, Bertone o demite
sumariamente, está apressado, o encontro dura pouco tempo. Viganò tenta em vão
esclarecer algo por escrito, para que fique memória do encontro. Fez um apelo
direto ao papa, mas parece que esse era refém do secretário de Estado. Nada
feito. Esta é apenas uma pequena amostra dos amplos e graves malfeitos da sinistra
figura de Bertone. A renúncia de Bento 16, que não conseguia domar feras tão
ferozes, foi um duro golpe para a prepotência de Bertone. Talvez o papa
Francisco tenha deixado alguns meses Berrone em seu velho posto esperando que
ele tivesse a compostura de pedir demissão. Mas, além de suas fortes tendências
mafiosas, Sua Eminência (?!) é cara de pau mesmo.
Fatos como esses fortalecem a posição
daqueles que desconfiam da instituição Vaticano, de uma Sé nada Santa. Quem
sabe Francisco consiga desmontar essa máquina tão danosa à Igreja, tão longe do
Evangelho e da tradição apostólica. Agora mesmo, o papa fez um apelo insistente
e emocionado pela paz, numa hora em que o Império Americano pretende dar mais
um bote do Oriente Médio, junto com seus satélites França e Grã Bretanha. O
pretexto das armas químicas é hipócrita. O que fizeram os Estados Unidos no
Vietnam?
Juracy Andrade é
jornalista com formação em filosofia e teologia
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