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por MARCELO BARROS |
Neste 10 de dezembro, o mundo
comemora os 64 anos da assinatura da declaração universal dos direitos humanos.
Esse aniversário é desafiador porque, tantos anos depois, diversos dos
compromissos assumidos pela ONU em 1948, até hoje, ainda não foram postos em
prática. Direitos básicos como segurança alimentar, moradia, saúde e trabalho
têm sido sistematicamente negados pelo sistema social e econômico dominante. Sem
esses, outros direitos como à informação ou à liberdade de associação e culto,
ficam prejudicados. No entanto, o fato ainda mais grave é que a sociedade
regrediu. Em anos recentes, mesmo direitos básicos, anteriormente adquiridos
pela humanidade, têm sido ignorados. Países nos quais o Estado garantia saúde e
educação para todos tiveram esses setores privatizados. Novas leis econômicas,
provocadas pelo neoliberalismo, fizeram a sociedade internacional retroceder a
relações de trabalho vigentes no começo do século XX. Empresas ignoram direitos
antes adquiridos pelos trabalhadores, pelos aposentados e por outras categorias
sociais. Governos e corporações econômicas usam o pretexto da crise para
esvaziar a democracia. Em outras décadas, a supressão da democracia era
perpetrada por ditaduras que revogavam constituições nacionais. Agora isso não
é mais necessário. Mesmo sem suspender as leis, quem de fato manda é o Fundo
Monetário Mundial e o mercado. Os governos se transformaram em meros lacaios
dos bancos e dos conglomerados multinacionais. Um a um, os direitos sociais são
eliminados. O Estado, antes sustentado pelos impostos passou a ser financiado
pelos créditos. Agora, os bancos alemães são mais importantes do que a Europa e
seus países. Multinacionais e governos decretam o desemprego, como forma normal
de organizar a sociedade e reduzem a natureza à condição de simples mercadoria.
Protestos sociais e movimentos populares são confundidos com terrorismo. Por
tudo isso, a declaração dos direitos humanos, proclamados pela ONU, precisa sim
de uma atualização. Aos direitos individuais, hoje se somam direitos coletivos
e comunitários. Aos direitos humanos se unem direitos reconhecidos à terra e à
natureza. Ao sistema democrático parlamentar, as novas constituições da Bolívia
e Equador unem a democracia comunitária e social. Os critérios comuns devem ser
interculturais. Enquanto houver pessoas empobrecidas e exploradas, todos os
direitos humanos são desrespeitados. Não é possível direito à liberdade
individual sem justiça social.
Apesar desse quadro social, não
podemos perder a esperança. Há pouco tempo, nos muros de La Paz, capital da
Bolívia, havia uma grafite: “Guardemos o pessimismo para dias melhores!”. Dom
Hélder Câmara gostava de afirmar: “Mesmo a noite mais escura traz em seu bojo a
aurora”. Quando na luta cotidiana e no engajamento de cada dia, lutamos para
transformar essa realidade, podemos testemunhar: a escuridão das injustiças e
do desamor pode ser vencida e o dia da libertação e da justiça raiará em nosso
horizonte. Para quem crê em Deus, a Bíblia revela que o Espírito atua no mundo
e o Pai de amor maternal tem um projeto de justiça e irmandade para todos. Foi
para testemunhar esse projeto e trazê-lo ao mundo que Jesus nasceu e nos chama
a ser discípulos dele. Conforme o evangelho, ele afirmou: “Procurem o reinado
divino e a sua justiça e tudo o mais lhes será dado por acréscimo” (Mt 6, 33).
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