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por MARCELO BARROS |
As propostas para os dias
de Natal são as mais diversas. Agências de turismo oferecem passeios
paradisíacos. No comércio, há sempre um Papai Noel para dar algum presente que a
pessoa tem de comprar. E em muitas famílias e empresas, Natal é época de comer
e beber desenfreadamente. Além dessas propostas consumistas, Natal pode ser
ocasião de bons encontros e confraternizações. Entretanto, se você quiser mais
do que isso, lembre-se que, originalmente, Natal significa renascimento. Embora
ninguém saiba a data exata do nascimento de Jesus, desde o século IV, os
cristãos tomaram o 25 de dezembro, solstício do inverno no hemisfério norte,
como referência para celebrar a vinda do Cristo, como sol que ilumina e dá
sentido novo a nossas vidas. No hemisfério norte, o sol quase desaparece
totalmente, quando, a partir desse dia do solstício, como que renasce e volta a
brilhar no horizonte. Assim também, os cristãos festejam o nascimento do Cristo
que renasce em nós para nos fazer renascer com ele. Por sua origem de festa solar,
o Natal é mais a celebração do renascimento do que do simples nascer.
Aliás, o
que significaria nascer, se não fosse para se dispor a um constante renascer? O
poeta Pablo Neruda afirmava: “Nascemos como esboço – É preciso sempre renascer.
Nascemos para renascer”. Podemos dizer que renascemos toda vez que realizamos
os passos que a vida exige. Eles acarretam um superar uma etapa que exige de
nós como morrer para o jeito de ser anterior e assumir o compromisso de renascer
para uma nova etapa de vida. Continuamente. Paulo escreve: “Quando eu era
criança, pensava como criança, falava como criança. Ao me tornar adulto, deixei
as coisas de criança” (1 Cor 13, 11). Em cada idade física, o ser humano larga
uma idade e renasce para outra. Em uma conversa com Nicodemos, Jesus explica:
“O que nasce conforme o mundo (ou no modo de falar hebraico: o que nasce da
carne) é carne, ou seja, do mundo. O que nasce do Espírito, é espírito. Por
isso, insisto, é preciso nascer de novo, nascer do Espírito” (Jo 3, 7).
O sentido mais profundo da
celebração do Natal é nos dispor a renovar em nós essa disposição do renovar-se
interiormente, ou como diz Paulo: deixar de lado o velho modo de ser e
revestir-se interiormente de um novo modo de ser. Conforme os evangelhos, foi
isso que Jesus fez durante toda a sua vida. “Ele cresceu em sabedoria, em idade
e em graça, diante de Deus e dos homens” (Lc 2, 40). Em grego, o termo “Cristo”
significa “ungido” ou “consagrado”. Na história bíblica, vários profetas e
personagens importantes foram chamados de Cristo ou de consagrado. Jesus de
Nazaré viveu essa vocação de modo tão profundo e pleno que, ao dizermos “Jesus
é o Cristo, o consagrado de Deus”, tomamos essa afirmação como se fosse um nome
próprio: Jesus Cristo. E ele faz de nós irmãos seus porque nos dispõe para
sermos também, cada um/uma do seu modo, Cristos, consagrados de Deus nesse
mundo para testemunhar o projeto que Deus tem de amor e justiça para o
universo.
A festa do Natal é a
celebração desse novo renascimento. A cada ano, marcamos um passo a mais nesse
caminho. Cada pessoa é chamada a fazer de sua vida uma gruta natalina, uma
caverna que como útero grávido, acolha o nascimento do novo ser que somos
chamados a ser e que no Natal nos comprometemos a nos tornar: humanos como
Jesus.
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