por Marcelo Barros
A partir desse domingo, no Ocidente, durante 50 dias, as Igrejas cristãs mais antigas celebram a festa da Páscoa. É a proclamação de que Jesus ressuscitou. Ele não apenas sobreviveu à morte sofrida na cruz.
Recebeu do Pai uma vida nova que se manifesta nas comunidades que nele creem como energia divina de amor e força transformadora do mundo.
Os textos bíblicos proclamados na festa da Páscoa são lindos. Os cânticos pascais expressam a confiança de que se Jesus ressuscitou, o mundo está salvo. As orações pedem a Deus a graça de que essa realidade da ressurreição ainda invisível engravide a humanidade e o mundo. Dê a luz a uma vida nova, baseada na solidariedade e na justiça amorosa do Espírito. O desafio de cada celebração da Páscoa é que essa fé deve, de alguma forma, se concretizar em sinais concretos de renovação da vida, tanto das pessoas que creem, como na ação criativa de todos os homens e mulheres, sedentos de paz e de justiça, que se consagram a transformar a realidade do mundo.
De fato, vivemos em um mundo no qual a concentração de renda e a desigualdade se tornaram mais graves do que em qualquer outro período da história humana. Quando a humanidade podia ter atingido um maior grau de civilização, temos, em todos os continentes, sinais claros de racismo e discriminação social. Cresce uma cínica indiferença em relação ao sofrimento e à pobreza injusta de tantos irmãos e irmãs. Quem olha tudo isso a partir da fé deve se perguntar como essa realidade pôde chegar a esse ponto extremo, apesar de uma cultura na qual a religião era central. Mesmo se todas as grandes religiões sempre pregaram o amor, a compaixão e a solidariedade, isso não parece ter influído nas sociedades e nem mesmo nos ambientes religiosos.
Já nos anos 60, em seus escritos e discursos, Dom Helder Camara, então arcebispo católico de Olinda e Recife, expressava o seu sofrimento, quando se lembrava de que as nações que mais oprimem outros povos se dizem cristãs. E, nos anos 80, em Riobamba, no Equador, as pessoas que acompanhavam Monsenhor Leónidas Proaño, bispo dos índios, em seu leito de morte, o ouviam gemer e afirmar chorando: “Que tristeza quando penso que a minha Igreja foi a principal responsável da morte e da escravidão dos índios".
Alguém pode estranhar como impróprio para a festa da Páscoa lembrar essa responsabilidade imensa da Igreja Católica e de outras Igrejas em relação ao sofrimento que índios e negros viveram nas Américas. Ao contrário, a Páscoa nos chama a uma permanente conversão. E nos leva a agradecer a Deus iniciativas e gestos de proteção e defesa dos índios e negros realizada durante a História por alguns missionários. No entanto, a ressurreição de Jesus é mais o anúncio de um futuro de paz e de justiça do que simplesmente a celebração de algo passado. É preciso que hoje, aqui e agora, a Igreja seja ela mesma uma profecia de libertação para toda a humanidade e só assim ela será, junto com os movimentos sociais e outras parábolas de amor no mundo uma fecunda semente de ressurreição e de vida nova. Na alegria dessa festa pascal, no Nordeste, as comunidades cantam um hino tradicional cujo refrão diz assim:
Recebeu do Pai uma vida nova que se manifesta nas comunidades que nele creem como energia divina de amor e força transformadora do mundo.
Os textos bíblicos proclamados na festa da Páscoa são lindos. Os cânticos pascais expressam a confiança de que se Jesus ressuscitou, o mundo está salvo. As orações pedem a Deus a graça de que essa realidade da ressurreição ainda invisível engravide a humanidade e o mundo. Dê a luz a uma vida nova, baseada na solidariedade e na justiça amorosa do Espírito. O desafio de cada celebração da Páscoa é que essa fé deve, de alguma forma, se concretizar em sinais concretos de renovação da vida, tanto das pessoas que creem, como na ação criativa de todos os homens e mulheres, sedentos de paz e de justiça, que se consagram a transformar a realidade do mundo.
De fato, vivemos em um mundo no qual a concentração de renda e a desigualdade se tornaram mais graves do que em qualquer outro período da história humana. Quando a humanidade podia ter atingido um maior grau de civilização, temos, em todos os continentes, sinais claros de racismo e discriminação social. Cresce uma cínica indiferença em relação ao sofrimento e à pobreza injusta de tantos irmãos e irmãs. Quem olha tudo isso a partir da fé deve se perguntar como essa realidade pôde chegar a esse ponto extremo, apesar de uma cultura na qual a religião era central. Mesmo se todas as grandes religiões sempre pregaram o amor, a compaixão e a solidariedade, isso não parece ter influído nas sociedades e nem mesmo nos ambientes religiosos.
Já nos anos 60, em seus escritos e discursos, Dom Helder Camara, então arcebispo católico de Olinda e Recife, expressava o seu sofrimento, quando se lembrava de que as nações que mais oprimem outros povos se dizem cristãs. E, nos anos 80, em Riobamba, no Equador, as pessoas que acompanhavam Monsenhor Leónidas Proaño, bispo dos índios, em seu leito de morte, o ouviam gemer e afirmar chorando: “Que tristeza quando penso que a minha Igreja foi a principal responsável da morte e da escravidão dos índios".
Alguém pode estranhar como impróprio para a festa da Páscoa lembrar essa responsabilidade imensa da Igreja Católica e de outras Igrejas em relação ao sofrimento que índios e negros viveram nas Américas. Ao contrário, a Páscoa nos chama a uma permanente conversão. E nos leva a agradecer a Deus iniciativas e gestos de proteção e defesa dos índios e negros realizada durante a História por alguns missionários. No entanto, a ressurreição de Jesus é mais o anúncio de um futuro de paz e de justiça do que simplesmente a celebração de algo passado. É preciso que hoje, aqui e agora, a Igreja seja ela mesma uma profecia de libertação para toda a humanidade e só assim ela será, junto com os movimentos sociais e outras parábolas de amor no mundo uma fecunda semente de ressurreição e de vida nova. Na alegria dessa festa pascal, no Nordeste, as comunidades cantam um hino tradicional cujo refrão diz assim:
"Cristo ressuscitou,
o sertão já virou flor,
da pedra a água saiu,
era noite e o sol surgiu. Glória ao Senhor"
Marcelo Barros, monge beneditino e escritor, autor de 26 livros dos quais o mais recente é "O Espírito vem pelas Águas", Ed. Rede-Loyola, 2003. Email: mostecum@cultura.com.
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