![]() |
por MARIA CLARA LUCCHETTI BINGEMER |
Há
quatro anos o mundo parou para ver algo impensado: a entrada de um negro na
Casa Branca, sede da presidência dos Estados Unidos. E não entrando pela
porta dos fundos ou da cozinha. Mas como presidente eleito pela maioria
dos estadunidenses, a fim de governá-los por quatro anos consecutivos.
Naquela ocasião, após torcer e rezar durante meses, eu escrevi aqui que “Black is beautiful” e que o rosto da maior potência do mundo havia mudado radicalmente naquela ocasião histórica. A força do símbolo alargava os pulmões e dilatava os espaços interiores. E era possível acreditar que o novo abria caminho onde o mesmo e o continuísmo pareciam instalados para sempre. Era possível acreditar na liberdade do ser humano que escolhe, que opta, que decide e consegue manter-se imune às coações de qualquer tipo.
Agora, quatro anos depois, o sentimento e a expectativa foram os mesmos, senão maiores. A campanha foi dura, sofrida, apertada. Primeiro debate perdido, ataques contínuos que se repetiam. O olhar preocupado de Michelle perscrutando o rosto cansado do marido trazendo maus presságios. E os números, os números. As percentagens mínimas fazendo diferenças que pareciam enganosas e davam mais medo que esperança. O furacão Sandy abatendo-se sobre Nova York, acabando com a eletricidade, deixando os eleitores isolados e sem poder votar.
Mas quando a contagem começou, o alívio tomou conta dos corações e pulmões. E Obama subiu mais uma vez no palanque de Chicago para dar “forward” – adiante! Para a frente! - nas expectativas de milhões de cidadãos que confiaram nele e apostaram na continuidade de seu governo.
Escolha mais importante porque mais consciente essa de agora do que a de quatro anos atrás. Verdadeira eleição no sentido de escolha de uma opção para deixar de lado as outras. Os estadunidenses agora já conhecem seu presidente. Para o bem e para o mal. Alegraram-se com seu carisma e inteligência, e com a harmonia transmitida por sua relação com a esposa e a família. Comemoraram algumas das magras conquistas que conseguiu sob as mais diversas pressões.
Igualmente decepcionaram-se com o que pareceu ser sua pouca firmeza quanto a questões espinhosas como a saúde pública e a volta das tropas do Oriente Médio. Nem todos terão apreciado a maneira como foi capturado e morto Osama Bin Laden. Ou as posições do presidente sobre o aborto. E sobre o matrimonio gay.
No entanto, alguns destes, muitos votaram nele. Porque reconheceram que apesar de todas as decepções a outra escolha seria nitidamente pior. Escolheram dar a Barack Obama a oportunidade de levar adiante o positivo trabalho de governo iniciado e que precisa de tempo para amadurecer.
E apesar de todas as pressões, os ataques, as incertezas, deram seu voto ao presidente negro, que ficará mais quatro anos na Casa Branca. E os que votaram e os que acompanharam de longe esta eleição que influi nos destinos de todos os habitantes do planeta continuam torcendo e rezando.
Ficam esperando, sobretudo que o olhar de Obama se volte para aqueles que novamente o colocaram onde está por quatro anos mais. Ele sabe que não foi eleito pelos brancos WASP. Foi eleito pelas minorias: pelos latinos, que desejam não sofrer mais com deportações injustas; pela comunidade afro-americana, que reitera seu apoio a esse que é de sua raça; pelas mulheres, que seguramente gostaram de vê-lo ao lado de Michelle e apostaram no novo que ele traz; pelos jovens, que são a esperança de um país que tem tão tremendo potencial, mas ao mesmo tempo tão imensas dificuldades em levar adiante sua utopia livre e democrática.
Espera-se que Obama governe para as minorias que, na verdade, já se tornam maioria, como demonstra sua eleição. Espera-se que o presidente reeleito mostre ao mundo que os EUA de hoje não são mais a terra do Kukluxklan, do enriquecimento irresponsável e do preconceito contra outras culturas e raças.
A América para os americanos, dizia um velho refrão branco. Agora, com a reeleição de Obama isso se repete. Com a diferença de que sabemos quem são os americanos: são os latinos, os afrodescendentes, as mulheres, os jovens, os “diferentes” de todo tipo que mudaram o rosto desse país continente tão fascinante, mas tão conflitivo e contraditório. Para eles e com eles espera-se que aconteça o segundo governo de Obama.
Maria Clara Bingemer é autora de "Secularização: novos desafios" (Editora da PUC)
http://agape.usuarios.rdc.puc-rio.br
Copyright 2012 – MARIA CLARA LUCCHETTI BINGEMER – Não é permitida a reprodução deste artigo em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização. Contato – MHPAL – Agência Literária (mhpal@terra.com.br)
Naquela ocasião, após torcer e rezar durante meses, eu escrevi aqui que “Black is beautiful” e que o rosto da maior potência do mundo havia mudado radicalmente naquela ocasião histórica. A força do símbolo alargava os pulmões e dilatava os espaços interiores. E era possível acreditar que o novo abria caminho onde o mesmo e o continuísmo pareciam instalados para sempre. Era possível acreditar na liberdade do ser humano que escolhe, que opta, que decide e consegue manter-se imune às coações de qualquer tipo.
Agora, quatro anos depois, o sentimento e a expectativa foram os mesmos, senão maiores. A campanha foi dura, sofrida, apertada. Primeiro debate perdido, ataques contínuos que se repetiam. O olhar preocupado de Michelle perscrutando o rosto cansado do marido trazendo maus presságios. E os números, os números. As percentagens mínimas fazendo diferenças que pareciam enganosas e davam mais medo que esperança. O furacão Sandy abatendo-se sobre Nova York, acabando com a eletricidade, deixando os eleitores isolados e sem poder votar.
Mas quando a contagem começou, o alívio tomou conta dos corações e pulmões. E Obama subiu mais uma vez no palanque de Chicago para dar “forward” – adiante! Para a frente! - nas expectativas de milhões de cidadãos que confiaram nele e apostaram na continuidade de seu governo.
Escolha mais importante porque mais consciente essa de agora do que a de quatro anos atrás. Verdadeira eleição no sentido de escolha de uma opção para deixar de lado as outras. Os estadunidenses agora já conhecem seu presidente. Para o bem e para o mal. Alegraram-se com seu carisma e inteligência, e com a harmonia transmitida por sua relação com a esposa e a família. Comemoraram algumas das magras conquistas que conseguiu sob as mais diversas pressões.
Igualmente decepcionaram-se com o que pareceu ser sua pouca firmeza quanto a questões espinhosas como a saúde pública e a volta das tropas do Oriente Médio. Nem todos terão apreciado a maneira como foi capturado e morto Osama Bin Laden. Ou as posições do presidente sobre o aborto. E sobre o matrimonio gay.
No entanto, alguns destes, muitos votaram nele. Porque reconheceram que apesar de todas as decepções a outra escolha seria nitidamente pior. Escolheram dar a Barack Obama a oportunidade de levar adiante o positivo trabalho de governo iniciado e que precisa de tempo para amadurecer.
E apesar de todas as pressões, os ataques, as incertezas, deram seu voto ao presidente negro, que ficará mais quatro anos na Casa Branca. E os que votaram e os que acompanharam de longe esta eleição que influi nos destinos de todos os habitantes do planeta continuam torcendo e rezando.
Ficam esperando, sobretudo que o olhar de Obama se volte para aqueles que novamente o colocaram onde está por quatro anos mais. Ele sabe que não foi eleito pelos brancos WASP. Foi eleito pelas minorias: pelos latinos, que desejam não sofrer mais com deportações injustas; pela comunidade afro-americana, que reitera seu apoio a esse que é de sua raça; pelas mulheres, que seguramente gostaram de vê-lo ao lado de Michelle e apostaram no novo que ele traz; pelos jovens, que são a esperança de um país que tem tão tremendo potencial, mas ao mesmo tempo tão imensas dificuldades em levar adiante sua utopia livre e democrática.
Espera-se que Obama governe para as minorias que, na verdade, já se tornam maioria, como demonstra sua eleição. Espera-se que o presidente reeleito mostre ao mundo que os EUA de hoje não são mais a terra do Kukluxklan, do enriquecimento irresponsável e do preconceito contra outras culturas e raças.
A América para os americanos, dizia um velho refrão branco. Agora, com a reeleição de Obama isso se repete. Com a diferença de que sabemos quem são os americanos: são os latinos, os afrodescendentes, as mulheres, os jovens, os “diferentes” de todo tipo que mudaram o rosto desse país continente tão fascinante, mas tão conflitivo e contraditório. Para eles e com eles espera-se que aconteça o segundo governo de Obama.
Maria Clara Bingemer é autora de "Secularização: novos desafios" (Editora da PUC)
http://agape.usuarios.rdc.puc-rio.br
Copyright 2012 – MARIA CLARA LUCCHETTI BINGEMER – Não é permitida a reprodução deste artigo em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização. Contato – MHPAL – Agência Literária (mhpal@terra.com.br)
Nenhum comentário:
Postar um comentário