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por MARCELO BARROS |
Em tempos de mudanças climáticas
repentinas e imprevisíveis as estações do ano podem ser interrompidas ou
prejudicadas por fenômenos como o aquecimento global ou pela interferência
humana nos ecossistemas. Do mesmo modo, nas sociedades, experiências novas podem
ser sufocadas ou postas em perigo.
Na Igreja Católica, no dia 11 de
outubro de 1962, há exatamente 50 anos, o papa João XXIII convocou o Concílio
Vaticano II para renovar a Igreja e preparar melhor a estrutura eclesial para
abrir-se à unidade das Igrejas cristãs, como, segundo os evangelhos, Jesus
desejou. João XXIII foi o papa bom e santo que comoveu o mundo inteiro pela sua
simplicidade e seu desejo de que a Igreja voltasse a se parecer mais com a
comunidade evangélica de Jesus. Não passava ao mundo a imagem de um homem
fechado sobre seus próprios medos e saudoso dos tempos antigos. Ele propôs como
critérios da renovação uma volta às fontes da fé (o evangelho), mas também uma
verdadeira atualização da Igreja. Pela primeira vez no mundo, em um concilio
universal, a Igreja conseguiu reunir os bispos católicos do mundo todo. Também
pastores, teólogas, leigos e leigas de várias outras Igrejas cristãs foram
convidados como observadores fraternos. O Concílio Vaticano II teve quatro
sessões e produziu 16 documentos. Não condenou nenhuma heresia, nem proclamou dogmas.
Abriu o diálogo da Igreja com a humanidade.
Esse diálogo fraterno e espiritual
foi o estilo da Igreja até o final dos anos 70. Hoje, 50 anos depois da abertura
do Concílio, uma grande parte de cristãos desejam que a Igreja retome aquele
clima espiritual. Mas, nem todos pensam assim. Na Igreja Católica atual, há três
interpretações diferentes sobre o Concílio e o modo de viver a fé. Há as
pessoas e grupos que se recordam do Concílio como uma bênção divina para a
Igreja e para o mundo. São os grupos que compreendem a renovação da Igreja como
vontade divina. Essa linha foi majoritária nos anos 60. Desde os tempos do
Concílio, houve alguns bispos, padres e leigos católicos (uma pequena minoria)
que rejeitaram o Concílio em nome da tradição. Uma terceira interpretação, hoje
oficial na cúpula da Igreja, aceita o Concílio, mas apenas nos pontos em que
ele garante continuidade com a velha tradição. Ignora e mesmo o desrespeita nos
pontos em que ele ousou mudar o modo de ser vigente. Os que defendem esse tipo
de postura acentuam uma Igreja clerical, centrada em si mesma e mais preocupada
com suas estruturas do que com o seguimento do evangelho. Por causa desse tipo
de postura, dois dias antes de falecer, há pouco mais de um mês, o saudoso
cardeal Carlo Maria Martini, ex-arcebispo de Milão, afirmava: “Infelizmente, a
Igreja está ao menos 200 anos atrasada com relação ao diálogo com o mundo
atual”.
De todos os modos, não podemos perder
a esperança. Jesus disse: “A verdade vos libertará!” (Jo 8, 35). Ninguém
consegue deter a voz do vento, nem afogar o grito da profecia. As pastorais
sociais, comunidades eclesiais de base e o caminho ecumênico que o Concílio
abriu são hoje opções minoritárias e quase marginais. Mas, mesmo minoritárias e
pouco compreendidas, são como os chamava Dom Hélder Câmara, “minorias
abraâmicas”. Assim como o patriarca Abraão, apesar de frágil, velho e estéril,
Deus o tornou fecundo, também, pela força divina, essas minorias se tornam
sinal de transformações importantes. Hoje, no mundo e também nas estruturas da
Igreja, essas minorias mantêm viva a voz do Espírito e testemunham que o
reinado divino vem a esse mundo. Unem-se a todos/as que na terra buscam e trabalham
por um novo mundo possível.
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