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por MARCELO BARROS |
As comemorações do 20 de novembro,
dia de união e consciência negra e os eventos dessa semana de valorização da
negritude são importantes não apenas
para as pessoas que se definem como de raça e cultura afrodescendente, mas para
toda a sociedade brasileira. Embora em nosso país, toda expressão de racismo
seja considerada crime grave e imprescritível, ainda há muito por fazer para
retirar da memória cultural dos brasileiros o preconceito e a discriminação
racial, heranças da escravidão, abolida oficialmente, mas, na prática, mantida
em relações de trabalho injustas e em uma estratificação social rígida e
impiedosa. O racismo e a discriminação social não fazem bem a ninguém e não
ajudam a criar um mundo mais justo e feliz. Ao contrário, trazem dor e
violência tanto para as vítimas da injustiça, quanto para os que a praticam e ainda
para os que com esse tipo de prática são coniventes.
O Brasil é um dos países mais negros
do mundo. De acordo com o censo de 2010, voluntariamente 50, 7 da população se
declarou negra, o que significa mais da metade dos brasileiros. Infelizmente, a
maioria desses irmãos e irmãs ainda representa a parte mais empobrecida da
população brasileira. Em todo o Brasil, jovens negros são mais vítimas da
violência estrutural de cada dia do que qualquer outra faixa da população. A
maioria dos assassinatos atinge a população negra. Por isso, são importantes as
medidas para integrar e dar igual direito de cidadania social e política aos
afrodescendentes.
Há duas décadas, várias cidades
brasileiras consagram o 20 de novembro, aniversário do martírio de Zumbi dos
Palmares, como feriado municipal e todo o país celebra o dia consagrado à união
e consciência negra. Toda essa semana é coroada com eventos sobre a imensa
contribuição das raças negras na história e na construção das culturas
formadoras do Brasil de hoje.
A Constituição de 1988 garante o
direito das comunidades negras e remanescentes de quilombos à posse de suas
terras ancestrais e à manutenção de sua cultura própria. Conforme cálculos do
governo, existem hoje no Brasil cerca de 2.842 comunidades quilombolas. São
verdadeiras repúblicas de homens e mulheres livres, formadas por descendentes
de escravos, fugidos do cativeiro e de alguns índios e brancos que decidiram
viver solidariamente com eles. Estes quilombos espalham-se por quase todos os
estados do país e são símbolos da resistência dos pequenos. Servem de modelos
como comunidades verdadeiramente solidárias. Entretanto, ainda faltam leis
complementares para por em prática à Constituição que, quando não favorece à
elite, é facilmente esquecida. Por outro
lado, há iniciativas no Congresso que visam anular o prescrito na Constituição
federal e dar poder aos estados de retirar quilombolas e indígenas de suas
terras ancestrais.
Todos nós, brasileiros,
temos responsabilidade social, junto com o governo, de trabalharmos por um país
mais igualitário e justo. A manutenção das religiões ancestrais e de expressões
culturais negras, mantidas vivas de geração em geração, têm sido instrumentos
importantes para a unidade dessas comunidades e para garantir uma mais profunda
consciência da dignidade dos seus membros. Para os cristãos, um valor central
que a Bíblia aponta é a consciência da cidadania de todos os seres humanos,
como filhos e filhas de Deus e cidadãos do seu reino. Essa revelação divina
pode ser encontrada, como valor intuído e praticado nas comunidades
afrodescendentes. Paulo escreveu que onde há aspiração e luta pela liberdade,
aí está presente e atuante o Espírito Divino (Cf. 2 Cor 3, 16. Que esse
aniversário do martírio do Zumbi confirme e reavive em todos nós o caminho de
comunhão e partilha!
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