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segunda-feira, 19 de março de 2018

CINCO ANOS DE FRANCISCO

Por Maria Clara Lucchetti Bingemer

            Já lá se vão cinco anos que a fumaça branca subiu nos céus de Roma e anunciou a eleição de um novo papa. Pouco depois foi anunciado seu nome à multidão que ali esperava: Jorge Mario Bergoglio, cardeal de Buenos Aires, que escolheria para seu pontificado o nome de Francisco. 

            Ao dirigir-se aos fiéis que o saudavam efusivamente, chamava a atenção a simplicidade de suas vestes brancas, apenas com um crucifixo de metal ao peito.  Nada de casulas bordadas ou ornamentos luxuosos.  Apenas a simpatia de um “boa noite” e o pedido enternecedor de que o povo o abençoasse.

            Ao longo desses cinco anos, o Papa que veio “do fim do mundo” não fez mais que confirmar esta primeira impressão que deixou para uma Praça de São Pedro lotada e emocionada. A simplicidade tem sido sua marca, a comunicação franca, direta e alegre seu modo habitual de proceder. Nada de solenidades excessivas e distanciamentos hierárquicos.  Mas uma maneira autêntica e simpática de estar perto das pessoas. 

            Para muitos católicos, a impressão foi, desde o início, que o Concílio Vaticano II estava de volta: presente nas palavras, nos gestos e nas atitudes do novo pontífice.  Respirava-se novamente os ares de diálogo e abertura que caracterizaram a revolução iniciada pelo bom e santo João XXIII. Os pobres e a justiça brilharam outra vez como prioridades da Igreja.  A esses pobres de muitos rostos – sem teto, refugiados, deficientes, abandonados – o Papa tem voltado de modo privilegiado sua atenção e cuidado pastoral. 

            Para os não católicos, os de outras religiões ou não crentes, o papado atual tem trazido positivas novidades.  Certamente jamais haviam visto um papa tão próximo, tão familiar. E seguramente não esperavam ver um chefe de estado com tamanha habilidade diplomática e tanta liderança.  Para muitos que se encontram fora da Igreja, Francisco é, sem dúvida, um líder.  Para estes e para todos, trata-se  da única liderança mundial positiva no atual momento da história. 

            Entre as vítimas da injustiça no mundo atual há uma que se destaca no pontificado de Francisco: os migrantes.  Diante da massa de homens e mulheres que atravessam continentes em busca de uma vida melhor para si e suas famílias e que terminam muitas vezes mortos afogados no Mar Mediterrâneo, há todo um serviço organizado de acolhida e atendimento, que ocupa a linha de frente da ação do Vaticano regido por Francisco. 

            Sendo chefe de uma Igreja que muitas vezes dá a impressão de estar fechada e distante dos problemas profundos e íntimos da humanidade, o Papa tem traçado uma linha mestra composta de uma só palavra: misericórdia.  Assim o documento Amoris Laetitia, que trata da família e do amor é perpassado do começo ao fim por esse olhar que não é de juízo e punição, mas de acolhida, compreensão, escuta e compaixão. 

            Para os que acompanham seu itinerário cotidiano, feito de surpresas e novidades contínuas que enlouquecem a assessoria de imprensa, Francisco tem mudado radicalmente a imagem do papado como instituição.  E os jornalistas e fotógrafos correm sem cessar atrás desse Papa que sai do Vaticano e anda pelas ruas, que senta para comer um sanduíche ao lado do guarda suíço, que instala duchas e máquinas de lavar roupa para os mendigos de Roma.  E que além disso carrega a própria maleta, vai a uma ótica para trocar os óculos e usa banheiros públicos quando deles sente necessidade. 

            Para os pequenos e desvalidos de toda sorte, Francisco, o Papa das surpresas é todo ternura e carinho.  Beija as crianças, desce do papamóvel para segurar a mão e abençoar uma guarda que levou um tombo do cavalo, acaricia os doentes.  E diz às jovens mães com bebês de peito que choram durante a missa que amamentem seus filhos, pois se choram é porque têm fome. 

            Após cinco anos desse pontificado surpresa, evidentemente Francisco é amado e admirado por muitos, mas também não tão benquisto e combatido por alguns.  Há quem se sinta incomodado por sua maneira de ser e de pensar.  Sua ousadia semeia o temor entre aqueles que temem perder a segurança da vida que levam e não desejam sair da zona de conforto.  

            Ele, no entanto, avança firme, sem voltar atrás nas decisões tomadas que lhe parecem corretas.  Segue adiante com seu sorriso e olhar radiante.  Sendo um chefe religioso, o Papa tem se mostrado como alguém profundamente humano. 

           Maria Clara Bingemer é teóloga, professora do Departamento de Teologia da PUC-Rio, autora de  Testemunho: profecia, política e sabedoria, Editora PUC-Rio e Reflexão Editorial.
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