Prof. Martinho Condini
Durante os
séculos XX e XXI vários esportistas negros se manifestaram de maneiras
diferentes contra o racismo e a favor de políticas antirracistas em seus países.
Em 1968,
nos jogos olímpicos da cidade do México os atletas negros norte-americanos
Tommie Smith e John Carlos protagonizaram uma das cenas mais emblemáticas da
história dos jogos olímpicos. Ao subirem ao pódio e receberem as medalhas de
ouro, e ao tocar o hino do seu país baixaram a cabeça e ergueram o punho usando
luvas pretas, saudação dos Panteras Negras (organização política socialista e
revolucionária estadunidense). Um gesto de protesto contra o racismo, o
preconceito e a violência contra os negros nos Estados Unidos.
Lembrando que na década em que ocorreram os jogos olímpicos no México os ativistas
e líderes negros Malcolm X e o pastor protestante Martin Luther King foram
assassinados.
Nesta mesma década, o pugilista negro
Cassius Clay (que posteriormente mudou o seu nome para Mohammed Ali) campeão
olímpico e mundial de boxe perdeu seu cinturão por se negar a ir lutar na Guerra
do Vietnã (1955-1975). Mohammed Ali sempre foi uma voz importante na luta
contra a violência aos negros norte-americanos.
Em 2020 os jogadores de basquete negros
e brancos do Milwakee Bucks boicotaram as partidas dos playoffs da NBA, em
protesto pelo assassinato de um cidadão negro, George Floyd, por um policial
branco.
Um dos astros do basquete norte
americano, o negro Lebron James do Los Angeles Lakers frequentemente utilizou as
quadras como espaço do movimento ativista afro americano Black Lives Mater.
Nos jogos olímpicos na cidade de
Tóquio, em 2021, a atleta americana, a negra Raveb Saunders medalhista de prata no
arremesso, ao receber a medalha levantou os braços e cruzou os punhos sobre a
cabeça como um gesto de apoio e solidariedade em favor dos oprimidos espalhados
pelo mundo.
Esses relatos me despertaram o
interesse em escrever um artigo sobre a história do ativismo dos atletas brasileiros
contra o racismo ou em apoio a práticas antirracistas.
A folha em que eu ia começar a escrever
este artigo está em branco até agora.
Será que o Brasil é um país diferente
dos Estados Unidos? Será que aqui não há racismo, preconceito, violência contra
a população negra? Ou vivemos numa democracia racial como sugere Gilberto
Freire em Casa Grande e Senzala?
Se partirmos do princípio que nossos
atletas cresceram profissionalmente em bolhas alienantes em relação às questões
sociais e raciais, esses atletas, em algum momento se não vivenciaram ou
presenciaram situações de preconceito e racismo, pelo menos sabem que elas
ocorrem diuturnamente em nosso país desde sempre. Nós sabemos o quanto é forte a voz de um atleta, de um astro
do esporte. A sua fala repercute e ecoa por todos os cantos, principalmente
para os milhares de jovens que os tem como ídolos e em muitos casos querem ser
como eles.
Muitos atletas poderiam ter se tornado protagonistas,
ou melhor, ainda podem, mas se calam. Isso é uma constatação, não é uma crítica,
afinal de contas, todas as pessoas são livres para agirem da maneira que bem
entendem.
Mas tenho a impressão que se esses atletas não tivessem se calado, a
história da luta contra o racismo e da construção de políticas antirracistas no
Brasil poderia estar mais fortalecida.
As vozes de lideranças do esporte fazem muita diferença nas lutas contra
todos os tipos de injustiças, porque eles são porta vozes dos que não tem vez e
voz.
Mas infelizmente, a minha folha
continua em branco.
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