Frei Betto
Ao destruir os palácios dos três poderes no domingo, 8 de janeiro, em Brasília,
os terroristas bolsonaristas mostraram as caras e as garras. Trumpistas
miméticos, reproduziram aqui em dimensões mais amplas o vandalismo
ocorrido no Capitólio, em Washington, há dois anos, numa demonstração cabal de
que seu lema é “ditadura sim, democracia não!”
A segurança falhou por cumplicidade do governador de Brasília, Ibaneis Rocha, e
seu secretário de Segurança, o ex-ministro da Justiça Anderson Torres. A
Polícia Militar da capital federal, responsável pela defesa do patrimônio
nacional, facilitou a ação dos criminosos e só prendeu alguns vândalos após
Lula decretar intervenção federal na segurança pública de Brasília.
As Forças Armadas se omitiram, em evidente postura de apoio tácito ao
terrorismo. Aliás, as “incubadoras de terroristas”, como bem qualificou o
ministro da Justiça, Flávio Dino ao se referir aos acampamentos bolsonaristas
diante de quartéis, afinal chocaram o ovo da serpente.
A Justiça brasileira cometeu o grave erro de, nos primórdios da
redemocratização do país, em meados de 1980, não punir com rigor os assassinos
e torturadores a serviço da ditadura militar que se apossou do país durante 21
anos (1964-1985). Tivesse seguido o exemplo da Argentina, do Uruguai e do
Chile, o Brasil teria separado o joio do trigo. Porém, um recurso esdrúxulo, a
“anistia recíproca”, impede que haja punição a quem, em nome e a soldo do
Estado, torturou, matou, sequestrou e fez desaparecer opositores do regime
militar.
Bolsonaro, cuja trajetória familiar é comprovadamente vinculada às milícias,
como o demonstra o livro “O negócio do Jair – a história proibida do clã
Bolsonaro”, de Juliana Dal Piva (Zahar), a tudo assistiu de seu camarote em
Miami. Na mesma cidade se encontrava de férias Anderson Torres, agora demitido
do governo do Distrito Federal.
Felizmente se abortou o golpe pela ação enérgica de Lula, do ministro da
Justiça Flávio Dino e do ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal
Federal. A turba ensandecida foi expulsa dos palácios da República
e presos três centenas de vândalos. Resta agora descobrir
e punir quem financiou as caravanas terroristas a Brasília e por que as Forças
Armadas se mantiveram em gritante silêncio.
Frente ao autoritarismo só há um antídoto: mais democracia. E isso significa
reforçar a participação popular no governo Lula. A governabilidade não pode
depender apenas das tratativas parlamentares e da anuência das Forças Armadas.
É imprescindível que a sua principal sustentação seja o povo politizado e
organizado.
Não é com o teto de gastos que o governo Lula deve se preocupar. É com o chão
firme da mobilização popular.
Frei Betto é escritor, autor de “Jesus militante –
o Evangelho e o projeto político do Reino de Deus” (Vozes), entre outros
livros. Livraria virtual: freibetto.org
Frei Betto é autor de 73 livros, editados no Brasil e no exterior. Você
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