Frei Betto
Feliz Ano Novo
aos que se acobertam sob o telhado de vidro do ano velho e recolhem pedras em
suas aljavas. Aos colecionadores de afetos que jamais permitem que suas
lagartas se transmutem em borboletas.
Feliz Ano Novo
às bordadeiras de emoções que passam a vida desfiando intrigas e agulhando a
boa fama alheia. Aos céticos desprovidos de horizontes e aos que debruçam sobre
a própria solidão para contemplar abismos.
Feliz Ano Novo
aos sonegadores de esperanças e aos que creem apenas nos valores da Bolsa. Aos
mancos de bondade, cegos de utopias, ébrios de ambições e medrosos perante a
ousadia de viver. Aos que têm asas e não sabem voar, são águias e ciscam como
galinhas, guardam em si um tigre e miam como gatos.
Feliz Ano Novo
aos que exibem no pedestal de sua mente o próprio corpo, jejuam por razões
estéticas e mendigam aos olhos alheios a moeda falsa da admiração convencional.
Aos que ficam inebriados diante da paisagem televisiva e nunca contemplam a
silenciosa orgia dos galhos retorcidos na copa de uma árvore. Aos que proferem
palavras furtivas, segredam mentiras, sonham com elefantes de papel e tentam
fugir da própria sombra.
Feliz Ano Novo
aos voluntários da servidão, aos que amam amar desamores alheios e nunca
experimentam uma paixão inefável. Aos crentes desprovidos de fé, aos que fazem
de seus dias tijolos de catedrais opacas e naufragam em pingo d'água. Aos que
cimentam árvores, fazem pontaria em orquídeas e pintam o verde de marrom. Aos
que jamais escutam o silêncio e vociferam palavras sem nexo.
Feliz Ano Novo
aos que traçam labirintos em seus mapas imaginários, enfeitam a vida com buquês
de impropérios e rasgam o ventre da água com os seixos adormecidos no leito de
seus pesadelos. Aos que escondem montanhas debaixo da cama, congelam estrelas
no bolso e torcem o arco-íris até sangrar.
Feliz Ano Novo
aos que cavalgam em hipocampos grávidos de dinamites, multiplicam teorias para
subtrair a prática e escondem a alegria no fundo da gaveta.
Feliz Ano Novo
a todos os infelizes que fazem de suas vidas luas minguantes e se vestem com o
escafandro de seus temores, afogados no sal de um oceano ressecado. Novos lhes
sejam o ano, o governo Lula, a vida no espírito, revertidos e revestidos de
ensolaradas esperanças.
Frei Betto é escritor, autor de "A arte de
semear estrelas" (Rocco), entre outros livros. Livraria virtual: freibetto.org
Frei Betto é autor de 73 livros, editados no Brasil
e no exterior. Você poderá adquiri-los com desconto na Livraria Virtual – www.freibetto.org Ali
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