Marcelo Barros
Há
menos de um mês das eleições para presidente da República, governadores dos
Estados, senadores e deputados, um fator que todos sabem que terá grande peso
será a questão religiosa. Infelizmente, a fé e a espiritualidade estão sendo
usadas de forma desonesta e não para tornar o mundo melhor e mais justo e
amoroso. Conforme o evangelho, Jesus denunciou como errados os fariseus e
doutores da lei que se achavam de Deus e desprezavam os outros. Grupos religiosos
tradicionalistas, padres católicos e pastores evangélicos ou pentecostais que
apregoam notícias falsas, provocam medo nas pessoas e inventam perigos que não
existem não têm nada a ver com Jesus e o seu evangelho. Há ministros desonestos que afirmam publicamente
que se Lula ganhar, vai fechar Igrejas. Ao lado disso, a atual mulher do
presidente da República convoca evangélicos para um jejum para pedir a Deus a
vitória contra o inimigo como se a campanha eleitoral fosse um combate entre
crentes e ateus.
Ao
contrário desse procedimento desonesto, nestes dias, uma carta aberta ao povo
brasileiro, assinada por centenas de padres de todo o país pede que não permitamos
que o nome de Deus seja usado para interesses partidários e eleitorais. É
preciso sempre lembrar que Jesus afirmou: “Não são as pessoas que ficam
gritando Senhor, Senhor que entram no reino dos céus e sim as pessoas que fazem
a vontade do Pai que está nos céus” (Mt 7, 21).
De
fato, a Política não deve depender de
padres e pastores. A espiritualidade deve influir na Política de modo positivo:
ao valorizar o compromisso político com o bem comum e a proteção da vida na
natureza e da justiça para todas as pessoas, principalmente as mais
vulneráveis. Ama a Deus quem testemunha que Deus é Amor e inclusão. O deus que
favorece amigos e abandona a outros não é o Deus de Jesus. É um ídolo.
Na
primeira metade do século XX, Simone Weil, espiritual francesa afirmava: “Eu
reconheço quem é de Deus não por falar de Deus e sim pelo seu modo de viver e
de se relacionar com as outras pessoas”.
Quem é de Deus deve colaborar para construir
uma sociedade mais justa e não favorecer quem prega ódio e intolerância. Quem
favorece armas e violência não tem nada a ver com Deus. O evangelho diz que
devemos julgar as pessoas e partidos conforme a prática e pelos seus
resultados. “Pelos frutos bons, vocês podem discernir que a árvore é boa, assim
como pelos maus frutos, verão que uma árvore é má. Pelos frutos, vocês podem
discernir se a árvore é boa ou má” (Mt 7, 18).
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