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por MARCELO BARROS |
Desde que
Howard Gardner demonstrou que a inteligência humana é muito diversificada e fez
o mapa das “múltiplas inteligências”, as pessoas descobriram a importância da
“inteligência emocional”. Até hoje, o livro de Daniel Goleman faz sucesso em
muitos países. O que talvez seja mais novo e agora nesse inicio de 2013 mereça
especialmente nossa atenção é o que tem sido chamado, em muitos círculos, de
inteligência espiritual, ou transcendente.
O psiquiatra Robert Cloninger,
estranho ao mundo religioso, prefere denomina-la: “capacidade de
autotranscendência”. Victor Frankl, criador da logoterapia existencial, afirma
que a autotranscendência dá ao ser humano a possibilidade de superar barreiras
e a buscar o que está oculto para além dos limites do seu conhecimento.
A
autotranscendência pode levar a pessoa a superar a si mesma de forma inesperada
e surpreendente. Isso foi demonstrado por prisioneiros de várias tradições
espirituais e mesmo ateus, nos campos de concentração do nazismo e das
ditaduras militares latino-americanas. Essa inteligência espiritual pode
unir-se a uma dimensão de fé e de pertença religiosa, mas é sobretudo um elemento
antropológico.
É a capacidade do ser humano ser livre e transcender os limites,
sejam biológicos, sejam intelectuais para viver uma relação de identidade
profunda consigo mesmo, ou seja, com sua essência mais íntima, com o outro,
visto como mistério e sujeito de amor e com todo o cosmos. É a inteligência
espiritual que nos faz viver o anseio por uma vida plena. A busca de sentido é
uma característica humana. Uma criança de três ou quatro anos, mal aprende a
falar, já pergunta, dia e noite às pessoas com as quais convive, o porquê de
tudo e de cada coisa. Por que? Por que?
Por que?
A inteligência
espiritual organiza as respostas possíveis sobre o sentido da vida e os
mistérios das coisas. Quando se supera o nível das aparências e se busca as
raízes mais profundas tem inicio a vida espiritual inteligente. Ela leva a
pessoa a se maravilhar e encontrar beleza e sentido nas pequenas coisas do dia
a dia, a ser capaz de gratidão, a desenvolver a gentileza e a delicadeza com os
outros e consigo. No caso de uma opção de fé, a pessoa sente-se em comunhão com
a comunidade dispersa de todas as pessoas que fazem de sua busca interior um
caminho de vida.
Muitas pessoas e grupos organizam essa busca na convivência interior e comunitária com esse
mistério último, presente misteriosamente no mais profundo do seu ser, no mais
íntimo das outras pessoas e no coração do universo. Esse mistério de amor está
em nós, como algo que, como disse Santo Agostinho, é mais íntimo a mim do que
eu mesmo. As religiões o chamam de Deus. Está em cada um de nós, mas não é
apenas uma dimensão do nosso próprio ser e de alguma forma nos transcende. Por
isso, cada pessoa o encontra no outro e no amor solidário que nos compromete
com a libertação integral de toda humanidade e de cada ser humano em sua
integridade. É isso que as tradições espirituais mais antigas ensinam e,
segundo a fé cristã, Jesus Cristo veio nos revelar e nos ensinar a viver
profundamente mergulhados nele.
Não é fácil
viver esse caminho de aprofundamento interior e de desenvolvimento da
inteligência espiritual em uma sociedade que banaliza tudo e vende a dispersão
como supérfluo para nos acomodar e nos distrair da busca mais profunda que nos
alimenta a paixão pela vida e a compaixão. Por outro lado, ao nos apoiar uns
aos outros nesse caminho, descobrimos que a inteligência espiritual não é
somente íntima e subjetiva, mas tem uma dimensão social e comunitária. E ela
nos abre à fé e ao reconhecimento da presença de Deus. Jesus afirmou: “Onde
duas ou três pessoas estão reunidas no meu nome, eu estou no meio delas” (Mt
18, 20).
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