
Há quem julgue essas tradições como
resquícios de um tempo passado e de culturas rurais que as cidades destruíram.
Entretanto, o significado profundo dessa piedade se mantém vivo e atual. De
fato, para as comunidades cristãs populares pouco importa se a página do
evangelho que conta a visita dos sábios do Oriente ao menino de Belém é de tipo
simbólico. Os próprios magos não são figuras históricas, mas a tradição os
tornou reis magos e fez da viagem deles, conduzidos por uma estrela, do Oriente
até Belém o protótipo de toda a busca humana do Mistério.
Pessoas pertencentes a todas as
tradições espirituais, como também intelectuais de todas as culturas, mesmo se
não pertencem a nenhuma religião específica vivem uma verdadeira peregrinação
interior na busca de apreender e viver o mistério mais profundo da vida. A luta
cotidiana pela existência e a agitação da sociedade atual tenta as pessoas a
esquecer ou mitigar essa busca. O sentido mais profundo das celebrações
populares do Natal e Reis Magos é revigorar essa procura no mais profundo das
pessoas.
Este começo de 2013 coincide com a
exibição no circuito cinematográfico brasileiro do filme “As aventuras de Pi”,
filme do diretor tailandês Ang Lee que antes nos dera filmes da qualidade de Razão
e Sensibilidade ou mesmo A montanha de Brokeback Mountain. Agora,
adaptando um romance canadense , nos mostra o jovem hindu com esse nome misterioso,
ao mesmo tempo engraçado e enigmático (Pi). Ele se diz, ao mesmo tempo, hindu,
cristão e muçulmano e deve sobreviver a um naufrágio e enfrentar o mar revolto
em um pequeno barco e junto com um tigre de Bengala, do qual ele deve se
defender e, ao mesmo tempo, conviver. O oceano da história de Pi
simboliza o universo no qual navegamos, cada um em seu pequeno barco, junto com
seus anjos e suas feras. As devoções populares natalinas, assim como o filme
nos fazem reviver a busca que os evangelhos simbolizam ao contar a visita
daqueles astrólogos do Oriente a Jesus. Hoje, os reis magos somos nós e todas
as pessoas que não desistem da busca interior e se dispõem a aprofundar o
diálogo na escuta e no aprendizado uns com os outros. Que, para cada um/uma
de nós, esse ano novo seja marcado pela verdade do que canta Milton Nascimento
em uma de suas mais famosas canções: “Por tanto amor, por tanta emoção, a vida
me fez assim. Doce ou atroz, Manso ou feroz, eu, caçador de mim”.
Marcelo Barros,
monge beneditino e autor de 37 livros publicados, entre os quais : “Dom
Helder Câmara, Profeta para o nosso Tempo”. Ed. Rede da Paz, 2006. e “O
Amor fecunda o Universo (Ecologia e Espiritualidade) com co-autoria de
Frei Betto. Ed Agir, 2009. Email: mosteiro@rededapaz.com.br
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