Marcelo Barros
Quanto mais a situação
social e política se apresenta complexa e difícil, mais a fé suscita
manifestações da profecia para assegurar que o projeto divino é de transformar
essa realidade. Nesse contexto, neste 07 de fevereiro, recordamos os 113 anos
do nascimento do profeta Helder Camara no Ceará, enquanto no sul do Brasil, o
povo celebra o martírio do cacique Sepé Tiaraju e a destruição da República
Guarani pelos exércitos de Portugal e Espanha (1756).
Quem crê deve atuar para que
esse mundo se transforme de acordo com o projeto divino de paz, justiça e
comunhão com a Terra e a natureza. Até hoje, a profecia de Helder Camara nos
convoca: "Deus deu ao ser humano o poder e a responsabilidade de não se
conformar com o sofrimento e com a dor do inocente, mas de combater o mal e a
injustiça. Esta é a tarefa de todos nós”.
Para crentes e não crentes,
é urgente recordar quatro elementos desta profecia:
1 - Qualquer ser humano só
pode ser verdadeiramente feliz no dia em que o mundo for um só e justo para
todos. Desde que Dom Hélder peregrinou pelo mundo todo afirmando esta profecia
da inclusão, o mundo piorou muito. As injustiças se agravaram, fazendo com que
os países do norte triplicassem sua riqueza, enquanto o sul explorado e roubado
afunda na fome e na miséria.
Os Estados Unidos e a Europa
Ocidental erguem novos muros de discriminação e isolamento do mundo dos pobres.
Dentro de nosso próprio país, a diferença entre pobres e ricos tem se agravado.
É, então, urgente nos pronunciar sobre o grito que ele nos repete ainda hoje:
"Nenhuma felicidade pode basear-se na infelicidade dos outros, porque
ofenderia o sentido de justiça que diz respeito a todos".
2 – Cada vez mais soa atual
o apelo de Helder Camara para nos constituirmos como "minorias
abraâmicas" O mundo não mudará pela ação isolada de líderes esclarecidos e
sim pelo empenho comunitário de grupos de resistência e de profecia que se
consagrem a transformar o mundo a partir de uma profunda convicção de fé no ser
humano e na vida. Estes grupos que não precisam ser multidões e podem mesmo ser
minoritários na sociedade (Dom Hélder os chamava minorias abraâmicas) são
fecundos fermentos de uma humanidade nova. Só neste caminho de humanização, tem
sentido falar em fé cristã para as pessoas que querem crer e viver o Evangelho.
3 - O compromisso com a Paz
e a não-violência A transformação do mundo começa pelo nosso compromisso com a
Paz, através de um método de vida que elimine qualquer violência em nossa forma
de ser e de agir. Dom Hélder vivia isso profundamente. Sempre conviveu com pessoas
que discordavam de seu pensamento e nunca os agrediu ou se valeu do fato de ser
arcebispo para removê-los de suas paróquias ou cargos eclesiais. Mas, sua opção
pela não-violência não o levava a ser menos forte na defesa da justiça. Sempre
apoiou e defendeu os lavradores sem-terra que continuam indefesos em sua
caminhada e incompreendidos em sua causa. O cuidado com a Paz e a não-violência
era também sua forma de viver as relações humanas na Igreja e no seu ministério
de pastor. É preciso que, ao celebrar agora a sua memória, nos sintamos
convocados/as de novo para este mutirão de esperança e solidariedade tão
urgente no mundo.
Não pode ser coincidência
que neste mesmo dia, recordemos a resistência do povo Guarani que, junto aos
outros povos originários, depois de todo esse tempo, continua a recordar ao
mundo a profecia da Terra sem Males. Estamos juntos nesse caminho.
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