Prof. Martinho Condini
Caras amigas e amigos, desde do
assassinato de Bruno Pereira e Dom Philips, muito já se falou sobre os
problemas na Amazônia, bem como o descaso com que a Carniça desse atual desgoverno trata as questões relacionada ao
desmatamento, reservas indígenas, garimpeiros ilegais e grileiros.
Sabemos
que estão distantes as resoluções e soluções para os problemas amazônicos, mas devemos
acreditar que as mudanças são possíveis, desde que haja vontade política para que
isso ocorra, é claro. Não é o caso atualmente, apesar de haver milhares de
pessoas do bem imbuídas no processo de preservação de tudo que compõe o
ecossistema da imensa região amazônica.
Diante desse contexto conhecido por vocês,
não quero ser repetitivo, mas apenas fazer uma justa homenagem a esses dois
ativistas, por meio da letra da belíssima canção composta em 1984, pelo cantor
e compositor baiano de Vitória da Conquista, Elomar Figueira Mello, também
conhecido como o “Menestrel das Caatingas”.
Acredito
que através das manifestações artísticas, neste caso a poesia e a música, os
artistas fazem o seu ativismo, e conseguem atingir os ouvidos e corações de
todas as pessoas sensíveis às causas sociais, ambientais e raciais que afligem
o nosso país desde sempre. Mas um dia há de mudar, afinal de contas, “Num país
como o Brasil, manter a esperança viva é em si um ato revolucionário”, como nos
lembra o mestre Paulo Freire.
Espero que essa poesia nos mantenha alerta,
porque neste Brasil a luta por justiça e igualdade social e racial é permanente.
Estou convencido que cada cidadão está nessa luta a sua maneira, com a sua
leitura de mundo e compreensão ética da realidade em que está inserido.
Boa sorte amigas e amigos e “ninguém solta
a mão de ninguém”.
Saga da Amazônia
Era
uma vez na Amazônia a mais bonita floresta
Mata
verde, céu azul, a mais imensa floresta
No
fundo d'água as Iaras, caboclo lendas e mágoas
E os
rios puxando as águas
Papagaios,
periquitos, cuidavam de suas cores
Os
peixes singrando os rios, curumins cheios de amores
Sorria
o jurupari, uirapuru, seu porvir
Era
fauna, flora, frutos e flores
Toda
mata tem caipora para a mata vigiar
Veio
caipora de fora para a mata definhar
E
trouxe dragão de ferro, pra comer muita madeira
E trouxe
em estilo gigante, pra acabar com a capoeira
Fizeram
logo o projeto sem ninguém testemunhar
Pra
o dragão cortar madeira e toda mata derrubar
Se a
floresta meu amigo, tivesse pé pra andar
Eu
garanto, meu amigo, que o perigo não tinha ficado lá
O
que se corta em segundos gasta tempo pra vingar
E o
fruto que dá no cacho pra gente se alimentar?
Depois
tem o passarinho, tem o ninho, tem o ar
Igarapé,
rio abaixo, tem riacho e esse rio que é um mar
Mas
o dragão continua na floresta a devorar
E
quem habita essa mata, pra onde vai se mudar?
Corre
índio, seringueiro, preguiça, tamanduá
Tartaruga,
pé ligeiro, corre, corre tribo dos Kamaiurá
Mas
o dragão continua na floresta a devorar
E
quem habita essa mata, pra onde vai se mudar?
Corre
índio, seringueiro, preguiça, tamanduá
Tartaruga,
pé ligeiro, corre, corre tribo dos Kamaiurá
No
lugar que havia mata, hoje há perseguição
Grileiro
mata posseiro só pra lhe roubar seu chão
Castanheiro,
seringueiro já viraram até peão
Afora
os que já morreram como ave de arribação
Zé
de Nana tá de prova, naquele lugar tem cova
Gente
enterrada no chão
Pois
mataram o índio que matou grileiro que matou posseiro
Disse
um castanheiro para um seringueiro que um estrangeiro
Roubou
seu lugar
Pois
mataram o índio que matou grileiro que matou posseiro
Disse
um castanheiro para um seringueiro que um estrangeiro
Roubou
seu lugar
Foi
então que um violeiro chegando na região
Ficou
tão penalizado e escreveu essa canção
E
talvez desesperado com tanta devastação
Pegou
a primeira estrada, sem rumo, sem direção
Os
olhos cheios de água, sumiu levando essa mágoa
Dentro
do seu coração
Foi
então que um violeiro chegando na região
Ficou
tão penalizado e escreveu essa canção
E
talvez desesperado com tanta devastação
Pegou
a primeira estrada, sem rumo, sem direção
Os
olhos cheios de água, sumiu levando essa mágoa
Dentro
do seu coração
Aqui
termina essa história para gente de valor
Pra
gente que tem memória, muita crença, muito amor
Pra
defender o que ainda resta, sem rodeio, sem aresta
Era
uma vez uma floresta na linha do Equador
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