Marcelo Barros
Por todo o
Brasil ecoam os preparativos para as comemorações do 7 de setembro, quando se
completam 200 anos do lendário grito da independência do Brasil, em relação ao
reino de Portugal. A história mostra que o Brasil apenas mudou de donos. A
imensa maioria da população continuou na servidão e na dependência de uma
minoria que se adapta às conveniências do momento, mas mantém o controle social
e merece bem o nome dado por Jessé de Souza: “a elite do atraso”.
Desde que os
europeus invadiram essas terras, escravizaram os povos originários deste
continente e sequestraram milhões de africanos/as como escravos/as, o povo
oprimido nunca deixou de se organizar, lutar por seus direitos e sempre gritar
por vida e dignidade.
Agora, no
contexto das comemorações oficiais dos 200 anos da (in)dependência e da
instrumentalização político-partidária que o atual desgoverno federal ameaça
fazer no dia 7 de setembro, é importante nos juntarmos todos e todas no Grito
dos Excluídos e Excluídas.
Será o 28º
grito organizado, a partir da iniciativa, que, desde 1995, reúne movimentos
populares e pastorais sociais da Igreja Católica e grupos ecumênicos de outras
confissões de fé para gritar “A vida em primeiro lugar”. De modo especial, o
grito deste ano ecoará o grito que, por cinco séculos, denuncia o genocídio
praticado contra os povos originários, revela a crueldade imensa contra os
povos negros e o racismo estrutural que faz do Brasil um dos países mais
desiguais e violentos do mundo.
Esse 28º Gritos
dos excluídos e excluídas toma como tema: “Vida em primeiro lugar. Terra, Teto
e Democracia. Brasil, 200 anos de (In)dependência. Para quem?”. De fato, como
falar em independência, quando trinta milhões de brasileiros/as passam fome e
um número bem maior vive em insegurança alimentar? Como fazer festa quando
nossas cidades e capitais têm seus centros convertidos em ruínas, como depois
de uma guerra?
Nossas praças
abrigam uma multidão de pessoas sem teto e sem trabalho, que com suas famílias,
tentam sobreviver nos escombros do que antes era um país que, há mais de uma
década, tinha saído do mapa da fome.
O Grito
dos Excluídos e
Excluídas não se restringe apenas a uma manifestação de rua que ocorre
no dia 7 de setembro. Significa um conjunto de iniciativas que se dão em um
processo de construção coletiva de cuidado popular, de debates e mobilizações
nas áreas da educação, saúde e defesa da
natureza agredida. Tudo para que a vida das pessoas e da Mãe- Terra esteja em primeiro lugar.
Esta
mobilização dos Mutirões pela Vida coincide com a campanha eleitoral mais
importante e mais difícil das últimas décadas. Para que, de fato, possamos
caminhar para uma verdadeira independência do nosso povo, precisamos garantir
que a mentira não seja vencedora. O restabelecimento da democracia, mesmo formal,
depende do nosso voto.
Nesse momento,
é importante que as pessoas que professam qualquer religião ou simplesmente
buscam uma espiritualidade humana testemunhem que, se Deus existe, só pode ser
Amor e Justiça. Deus não é de direita e está do lado do povo que busca por
Terra, Teto e Democracia.
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