por ASSUERO GOMES

O
médico jamais recebe comissões por seu trabalho, nem mesmo salário, nem abonos
ou gratificações, pois sua arte não tem preço. Concede o direito de retribuição
a título de honra (honorário), pois é digno e justo. É claro e límpido nas suas
ações e condutas, frente à sua família, ao paciente e aos seus familiares,
estendendo seu comportamento à toda sociedade. Deve ser suave no trato às
pessoas, diligente e equânime. Atencioso e com postura ereta em todo lugar no
qual se apresenta, exercendo ou não seu trabalho, pois ele é espelho no qual se
reflete a esperança das pessoas, inspiração e aspiração para os jovens,
emanando da sua pessoa, conceitos que serão aspergidos por sobre toda classe
médica.
Há
que ser culto sem ser esnobe, e ter a consciência que, por mais hábil que seja,
mais informado, mais competente, será apenas um ser humano ajudando o outro na
sua fragilidade. Curar, amenizar o sofrimento, consolar, são atributos de Deus,
do qual somos infiéis depositários de uma graça que não merecemos. Um dia o
médico, sua esposa ou seu filho estarão recebendo os cuidados de outro médico,
isso faz parte da inexorabilidade da vida; por isso, jamais, em momento algum,
deve receber alguma compensação por atender outro médico, isso, por si só já é
uma honra. Participará com determinação e vontade inquebrantável de todas as
lutas justas da sua classe.
Há
que ter poesia no seu espírito, pois de que outra maneira suportaria o
sofrimento do outro? Quanto à fé, não se
pode compreender um ser humano que vai a um lugar de onde os outros fogem, os
umbrais da morte, o vale da dor e das lágrimas, o misterioso limite do
suportável, sem ter fé. A fé será seu único alimento em algumas situações e sem
ela, certamente o médico perecerá, a não ser que não seja humano, então não
seria médico.
Deve
levar sempre consigo um lenço limpo, e não idolatrar a tecnologia sedutora, não
fumar e se trajar de forma coerente com a pessoa que é. Jamais se embriagar,
respeitar as leis de seu coração e o limite de seu corpo. Lembrar que o país no
qual nasceu é a extensão de seu corpo, portanto você está inserido carnalmente
nele. O médico não é uma pessoa comum. É um formador de opinião e é o ser
humano que se lhe é permitido chegar mais perto da alma do outro. O sacerdote,
no seu ofício sagrado, chega perto desta íntima e delicada relação com outro,
no entanto, dificilmente um fiel se mostrará desnudo a um sacerdote, e muito
menos permitirá que este lhe perscrute suas mucosas e suas vísceras.
O
médico não decidirá sobre sua conduta, pressionado por quem quer seja, nem por
forças ocultas, nem religiosas, nem econômicas, nem políticas. Respirará e
transpirará Ética todos os dias de sua vida sobre a Terra, e terá uma atenção
especial para com os pobres no seu momento de dor, sempre, pois serão eles que
o receberão, quando as glórias humanas tiverem passado e das vaidades restarem
apenas umas poucas palavras nalguma lápide esquecida varrida pelo vento do
tempo e do esquecimento.
Assuero Gomes
Médico
e escritor
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