por Marcelo Barros

No Brasil, Rubem Alves e Richard Schaull, professores do Seminário Presbiteriano de Campinas, foram pioneiros nesse tipo de reflexão. Foram perseguidos pela ditadura militar e incompreendidos pela hierarquia de sua Igreja. Na Igreja Católica, Leonardo Boff, Hugo Assman e outros jovens trilharam o mesmo caminho. Desde o começo, a Teologia da Libertação se diversificou em vários ramos e setores. Alguns autores aprofundaram mais a relação entre o compromisso cristão e a economia. Outros pesquisaram como aplicar à Teologia alguns conceitos vindos da análise da realidade, feita pelos socialistas. Homens e mulheres aprofundaram uma leitura da Bíblia a partir da realidade do povo. O que fez de pensadores tão diversos companheiros de uma mesma causa foi o compromisso de sempre tomarem como base a realidade de sofrimento injusto dos empobrecidos para servirem à sua libertação. Eles e elas elaboraram uma teologia que expressa a fé com palavras atuais e de modo a ser melhor compreendida pelo homem e pela mulher de hoje. Pela primeira vez, a teologia passou a interessar a muita gente do mundo inteiro, independentemente das pessoas terem ou não fé religiosa. Muitos jovens e intelectuais passaram a sentir-se ligados à caminhada cristã.
Na América
Latina, durante séculos, o Cristianismo tinha legitimado a política injusta dos
poderosos desse mundo. Com algumas exceções honrosas, desde a colonização, a
maioria dos padres e pastores foi cúmplice da escravidão dos índios e negros. A
Teologia da Libertação transformou isso. Não com discursos sobre a libertação,
mas com um novo modo de fazer teologia a partir da realidade e em permanente
contato com os movimentos populares. Esse método da teologia da libertação
continua hoje vigente nas teologias indígenas, negras e feministas. Também, com
toda razão, a categoria pobre e oprimido pode ser usada em relação à Terra e à
natureza. Por isso, a Eco-teologia é uma expressão atual da Teologia da
Libertação.
Não tem
sentido discutir se, por acaso, a Teologia da Libertação morreu, quando as
correntes nela engajadas já realizaram três fóruns mundiais sobre Teologia e
Libertação e preparam um próximo. Quem entrar em qualquer livraria mais sortida
descobrirá vários livros escritos recentemente a partir dessa corrente. De
qualquer modo, é claro, o importante não é a Teologia da Libertação. É a
própria caminhada da libertação, hoje, sempre mais atual e necessária não
apenas na América Latina, mas para todo o mundo. Quem procura viver a
espiritualidade ligada à realidade da vida tem na Teologia da Libertação uma
boa ajuda para aplicar à nossa realidade a palavra de Jesus: “Quando vocês
virem essas coisas começarem a acontecer, levantem as cabeças. É a libertação
que se aproxima” (Lc 21, 28).
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