por JURACY ANDRADE

Pretendo neste artigo
fazer uma reflexão sobre a desgraça da nossa política em um país que se diz tão
cristão. Renan Calheiros, que há poucos anos renunciou à Presidência do Senado
e ao seu mandato para escapar à cassação, é reconduzido ao mesmo cargo,
triunfalmente, pelos mesmos senadores que queriam pegá-lo naquela época. O
presidente que entrega o cargo, o inefável José Ribamar Sarney, chora ao se
despedir.
Com mais de 80 anos, acha difícil continuar sustentando
indefinidamente sua satrapia no infeliz Maranhão e continuar mandando e
desmandando no Senado, na Justiça, no governo do país. E chora, pois sabe que
todos os impérios do mundo ruíram e a sua numerosa prole talvez não seja capaz
de manter um mando tão ruinoso para o Maranhão e para o Brasil.
Muito católico, ele é de
ir à missa, rezar, comungar, mas nem o procurador-geral da República, o Gurgel,
faz muita fé nesse ilibado personagem. O Gurgel é aquele que engaveta processos
contra quem ele quer proteger e acaba de dar estranha prioridade ao processo do
dito Mensalão, para coincidir com as eleições municipais. Tutti buona gente
(tradução livre: tudo farinha do mesmo saco). Na Câmara, o eleito para a
Presidência também é suspeito e acusado de privatização de dinheiro público.
É
o Henrique Eduardo Alves, do clã fundado por Aluísio Alves ainda antes do golpe
de 1964.
Aqui no Recife, o deputado
Guilherme Uchoa se eterniza na Presidência da Assembleia Legislativa, que
também não está assim tão interessada em representar o povo pernambucano, e sim,
com honrosas exceções, interesses particulares e paroquiais de Suas
Excelências. Na Câmara Municipal, as coisas não vão melhor. É auxílio paletó,
são outros expedientes para viver às custas do dinheiro público. Essa
designação de auxílio paletó é de um cinismo repelente. O cara ganha um
pagamento pelo tempo gasto na representação popular (não deveria, pois supõe-se
que tenha uma profissão; deveria ser um serviço prestado gratuitamente, como o é
em outros cantos mais civilizados). Mas, mesmo bem remunerado, precisaria de
uma verba extra para comprar um reles paletó?! É gozação. É deboche. Breve
veremos auxílio cueca, auxílio bermuda, auxílio sapato ...
O cronista Mário Melo, que
tinha uma língua ferina, chamava a Câmara Municipal do Recife de “o parlamento
da Rua da Guia”, já nos longínquos anos 50, 60. A Rua da Guia era conhecida na
época como espaço do baixo meretrício. Depois ela mudou-se para o prédio onde
havia funcionado a antiga Escola Normal, no Treze de Maio. E agora está achando
o prédio pequeno e quer construir um novo.
Quando se criticam os
procedimentos delituosos do Poder Legislativo, logo alguém se escandaliza
afirmando que o crítico está querendo um governo arbitrário, é contra a
democracia. Conversa fiada. Democracia não é usar imunidades e atribuições
legais para extorquir o dinheiro público e defender interesses que não são os
da imensa maioria do povo.
É de admirar que Suas
Excelências, seja em Brasília, na Rua da Aurora, ou no Treze de Maio, em sua
grande maioria se dizem religiosos e cristãos. Tem até uma bancada evangélica,
contrariando a laicidade republicana. Um partido político não pode se dizer de
tal ou tal igreja ou religião. Pode até dizer, mas a Justiça deveria cuidar de
sanar essa aberração anticonstitucional.
Juracy Andrade é jornalista com formação em filosofia e
teologia
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