Por Frei Betto
A direita muda a retórica, não os métodos e objetivos. Para defender o mercado
financeiro e os rentistas, adota eufemismos, como chamar o arrocho de ajuste
fiscal. Para impor sua ideologia neoliberal, faz a campanha da Escola Sem
Partido.
Agora a falácia é o Partido Sem Políticos e os Políticos Apolíticos... O Lobo
Mau se disfarça de Chapeuzinho Vermelho, e as vovozinhas ingênuas aplaudem os
gestores que prometem governar a cidade como administram suas empresas - muito
dinheiro em caixa, graças à privatização do patrimônio público, e pouco
respeito aos direitos dos cidadãos.
Vejam a contradição: o sujeito se inscreve em um partido político, é apontado
candidato na convenção do partido político, faz campanha pelo partido político,
enche a boca de propostas e promessas políticas... e diz que não é político!
É o quê? Como se fosse possível um ser humano ser apolítico! Pobre Aristóteles!
Há quem acredite que sim. A minha tia, por exemplo, do alto de seus 96 anos.
Isso não significa que ela não faça política. Faz, como todo mundo. Por omissão
ou participação.
Quem se omite, resguardado pela indiferença ou envenenado pelo nojo, passa
cheque em branco aos atuais políticos e à política vigente. Quem não gosta de
política é governado por quem gosta. E tudo que os maus políticos mais querem é
que os cidadãos fechem os olhos a seus desmandos e às suas maracutaias.
Muitos participam ao reforçar ou tentar mudar a política vigente. Não apenas
através do voto. Também via movimentos sociais, ONGs, sindicatos, associações,
partidos, atividades artísticas etc.
O neoliberalismo é mestre em artimanhas linguísticas. Insiste em tentar rimar
capitalismo e democracia; apregoa que a livre iniciativa regula a distribuição
de riquezas (o que a história jamais comprovou); defende ardorosamente a
propriedade privada (nunca o direito àqueles que não a possuem); qualifica de
crescimento econômico a piramidização da riqueza sobre a base da pobreza e da
miséria.
O objetivo é o que se vê na atual proposta Temer-Mendonça de reforma do ensino:
evitar que os alunos tenham consciência crítica; abracem a utopia de “outros
mundos possíveis”; tornem-se protagonistas de transformações sociais. Uma
sociedade de dóceis cordeiros comandada por lobos sagazes.
Há quem acredite em Papai Noel. E ainda mais que o bom velhinho cometa, no
Natal, a maldade de presentear fartamente os ricos e deixar os pobres de mãos
vazias. Portanto, não é de estranhar que haja quem acredite em político
apolítico, travestido de bom gestor capaz de presentear o município com uma
administração cinco estrelas. Quem viver, verá.
Frei Betto é escritor,
autor do romance policial “Hotel Brasil” (Rocco), entre outros livros.
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