Por
Frei Betto
Com
perdão do trocadilho, há sim que temer o governo Temer! A 23 de agosto, a
bancada ruralista ganhou dele um gordo Papai-Noel antecipado: ele prometeu
rever a demarcação de terras indígenas; revogar a decisão da Advocacia-Geral da
União, que desde 2010 proíbe a venda de terras brasileiras a estrangeiros
(embora haja testas de ferro e sobrem “laranjas”); e agilizar as licenças
ambientais (leia-se: dane-se o meio ambiente!).
Em
almoço com a Frente Parlamentar Agropecuária, o presidente interino teve o
descaramento de proclamar: “Em face da globalização, padrões de 40, 50 anos não
podem mais prevalecer.” Que globalização é essa que mantém o Brasil na
periferia do sistema capitalista?
No
ensino fundamental, aprendi que a riqueza do Brasil dependia de ciclos de
exportação de matérias-primas: pau-brasil, açúcar, ouro, café etc. Hoje nada
mudou, apenas as mercadorias (carne, frutas, soja etc.) e o nome dos produtos
primários, agora batizados com o elegante nome de commodities.
Se
nem os governos do PT conseguiram evitar o desmatamento de nossas florestas,
agora, com o governo globocolonizado de Temer, tudo tende a se
agravar.
No
almoço com os ruralistas, o presidente usurpador defendeu a “compatibilização”
entre o agronegócio e o licenciamento ambiental. Quem o leitor acha que sai
vencedor: o motosserra ou a vegetação? O trator ou os mananciais?
O
ministro da Agricultura é Blairo Maggi, que dispensa apresentação. Ele foi o
relator da PEC que elimina a necessidade de licenciamento ambiental para obras
de infraestrutura, como hidroelétricas. Se isso for aprovado, só resta ao
governo Temer conceder o Grande Colar da Ordem Nacional do Cruzeiro do
Sul, a mais importante comenda brasileira, aos assassinos de Chico Mendes.
O
“apreço” de Temer pela questão ambiental é comprovado pelo fato de ter nomeado
Neuvaldo David de Oliveira para a Superintendência do Ibama na Bahia. Este
cidadão não possui militância ou formação na área ambiental, exceto ao se opor à
criação de uma reserva extrativista federal em Caravelas (BA), da qual foi
prefeito e, hoje, é vice-prefeito pelo PV.
O
mais curioso, porém, é que Neuvaldo tem pendente junto ao Ibama, desde 2007,
multa de R$ 133 mil, e é parte contrária em um processo movido pelo órgão
ambiental...
Pelo
andar do jegue planaltino, não devemos nos espantar se Temer nomear Fernandinho
Beira-Mar para chefiar, na Polícia Federal, o combate ao narcotráfico.
Frei
Betto é escritor, autor de “Fidel e a Religião” (Fontanar), entre outros
livros.
Copyright
2016 – FREI BETTO – Favor não divulgar este artigo sem autorização do autor. Se desejar divulgá-los ou
publicá-los em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou
impresso, entre em contato para fazer uma assinatura anual. – MHGPAL –
Agência Literária (mhgpal@gmail.com)
http://www.freibetto.org/>
twitter:@freibetto.
Você acaba de ler este artigo de Frei Betto e
poderá receber todos os textos escritos por ele - em português, espanhol ou
inglês - mediante assinatura anual via mhgpal@gmail.com
Nenhum comentário:
Postar um comentário