Por Marcelo
Barros
Nessa
segunda-feira, 24 de outubro a ONU completa 71 anos, desde que a Carta de sua
fundação foi aprovada em 1945. Desde então, a utopia da unidade entre todos os
povos sofreu muitos desgastes. A ONU continua controlada pelas grandes
potências. É urgente uma profunda reforma nos estatutos da ONU e dos organismos
internacionais. Precisamos avançar para a união de uma sociedade planetária que
respeite a autonomia de cada país, mas garanta que todos os seres humanos
possam sentir a Terra como sua casa comum.
Desde que a
ONU foi fundada, os governos-membros foram aprovando vários estatutos e
convenções que complementam a Carta da ONU, a Declaração de Direitos Humanos e
as convenções internacionais. No entanto, todos os dias, as grandes potências
mostram que fazem o que querem. Todos os dias, as convenções internacionais são
desrespeitadas e as leis burladas. Isso é praticado principalmente pelas
grandes potências das quais a ONU depende. Os impérios continuam a dominar e
explorar sem que haja um organismo internacional que tenha força de impedir a
invasão de outros países e o massacre de populações inteiras, na Ásia e na
África, apenas para garantir aos Estados Unidos a exploração de reservas
petrolíferas ou outras riquezas do subsolo. Apesar de todas as convenções
assinadas sobre o direito dos migrantes e refugiados, diariamente, milhares de
famílias são confinadas em novos campos de concentração construídos pelos
países europeus ou devolvidos ao mar para morrerem.
Nas últimas
décadas, os países do Sul tentaram se organizar entre si para fazer valer os
seus direitos. Na África, a Organização dos Estados Africanos tentou se tornar
um espaço de autonomia para os países africanos. Depois que os Estados Unidos
mataram Kadafi e dominaram a Líbia, tudo voltou atrás. Na América Latina, Hugo
Chávez, Evo Morales e outros fundaram a Comunidade de Estados Latino-americanos
e Caribenhos (CELAC), a União das Nações Sul-americanas (UNASUL). Os diversos
golpes militares ou parlamentares, patrocinados pelo governo norte-americano na
região, fazem de tudo para esvaziar esse projeto. Entre 2014 e 2015, mais de
seis bilhões de dólares foram dados à Sociedade Interamericana de Imprensa que
reúne 88 grandes meios de comunicação na América Latina para diariamente
mostrar que a Bolívia vai mal, o governo da Venezuela não presta e o Equador é
um caos. As televisões distorcem as notícias, a maioria acredita e as
intervenções do império se tornam possíveis.
O Instituto
de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA) divulgou um estudo que mostra: o topo da
pirâmide social brasileira é composto por cerca de 71 mil super-ricos. Eles
representam 0, 05 da população adulta do Brasil, o que representa um escândalo
de desigualdade social de dimensões planetárias". Nessas eleições
municipais, vários desses milionários foram eleitos. No atual governo federal,
vários deles são direta ou indiretamente responsáveis pela situação política e
pela crise que vivemos. Enquanto isso, a imensa população brasileira vota nos seus
opressores. Nessas eleições municipais, a população mais pobre votou como uma
barata tonta que escolhesse se proteger embaixo do chinelo que vai esmagá-la. Nossos
telejornais conseguem milagres. Mulheres pobres pregam contra a igualdade entre
o homem e a mulher. Negros de periferia falam contra as cotas raciais. Até o
povo pobre da Colômbia, esmagado por uma guerra de mais de 50 anos e que
produziu quase oito milhões de mortos, vota contra a Paz.
Nesse
contexto, movimentos sociais, organizações de base e povos tradicionais se
articulam e se unem por uma pauta comum. A partir das bases, ressurge o projeto
de uma organização internacional que não seja apenas de governos e sim
representativo da sociedade civil. Seu objetivo é dar voz e vez às pessoas
comuns e fazer ressoar aos governos que há uma insatisfação geral com o sistema
social e político atual. Como afirma o Fórum Social Mundial: "Uma outra
forma de organizar o mundo é necessária. Juntos podemos torná-la possível".
Todas as
religiões têm como missão tornar a humanidade melhor e o mundo mais amoroso. Se
olhamos a realidade internacional e o Brasil, podemos pensar que as religiões
fracassaram. O que mais se vê hoje é uma onda de ódio, intolerância e
incapacidade de conviver com o diferente. Infelizmente, os próprios religiosos das
mais diversas tradições nem sempre têm dado um exemplo diferente das pessoas
sem religião. No entanto, de um modo ou de outro, todos os caminhos espirituais
propõem conversão e transformação interior. Através do diálogo e da
colaboração, elas podem ajudar a humanidade a construir uma sociedade
planetária unida. Ao fazer isso, darão um testemunho que irá além de todas as
suas pregações e ensinamentos. Revelarão que "Deus é amor e só quem vive o
amor vive em Deus e Deus vive com essa pessoa" (Cf. 1 Jo 4, 16).
Marcelo Barros, monge beneditino e teólogo católico é especializado em Bíblia e assessor nacional do Centro Ecumênico de Estudos Bíblicos, das comunidades eclesiais de base e de movimentos populares. É coordenador latino-americano da ASETT (Associação Ecumênica de Teólogos/as do Terceiro Mundo) e autor de 45 livros publicados no Brasil e em outros países.
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