O Jornal On Line O PORTA-VOZ surgiu para ser o espaço onde qualquer pessoa possa publicar seu texto, independentemente de ser escritor, jornalista ou poeta profissional. É o espaço dos famosos e dos anônimos. É o espaço de quem tem alguma coisa a dizer.

quarta-feira, 13 de fevereiro de 2019

DO NÃO-SER AO SER: UM CAMINHO DE AMOR


Hoje temos a alegria de receber um novo colaborador para o PortaVoz. Que ele seja muito bem - vindo. O Porta Voz está muito feliz com a sua vinda.


Por Kinno Cerqueira

Na peça A tragédia de Hamlet, príncipe da Dinamarca, de William Shakespeare, faz-se ouvir uma voz que traduz a angústia que habita o mais profundo da experiência humana: “Ser ou não ser, eis a questão...”. Esta questão posta por Sheakespeare parece ter estado bem presente na tradição geradora da literatura joanina, em especial da Primeira Epístola de João.
O leitor atento logo perceberá que esta epístola fala de dois tipos de existências: “a existência sem amor” e “a existência no amor”.
A existência sem amor designa o humano fascinado pela própria imagem, incandescido por seu próprio brilho, ensurdecido pela vibração da sua própria voz, enfim, preso no claustro de seu egoísmo. Seu contrário é a existência no amor, a qual descreve o ser humano que, por meio do amor, faz a experiência de libertação de si mesmo, tornando-se capaz de sair de si para encontrar-se com o outro e no outro.
A existência no amor é iluminativa, porque desensombra que o sentido da vida reside num movimento “para-além-mim”, que permite aprofundar a identidade do meu “eu” no encontro com um outro que, justamente por ser diferente de mim, faz-me ser mais plenamente humano (1 Jo 2,10). A caminhada do nosso eu para um outro constitui a dilatação interior que nos possibilita acolher o Amor, que é Deus mesmo (1 Jo 4,8).
A existência sem amor é solitária, sombria, tenebrosa. A existência sem amor é a fonte geradora de preconceitos, pois os preconceitos resultam do egoísmo que me faz querer que todas as pessoas sejam iguais a mim. O não-amor (que é o egoísmo) se revela no fechamento, na indisposição para o outro, na exarcebação do medo de que a singularidade do outro questione a absolutidade do meu eu.
No amor não existe medo; antes, o verdadeiro amor lança fora o medo... (1 Jo 4,18). A liberdade do amor não conhece trincheiras, pois nada é tão forte que não seja tão fraco diante do amor.
A esta altura, penso que não seria demasiada imponderação  redizer a afirmação de Sheakespere em linguagem joanina: “Amar ou não amar, eis a questão...”.

Kinno Cerqueira é pastor batista e assessor do CEBI (Centro de Estudos Bíblicos) - na área de estudos bíblicos.

4 comentários: