Por Marcelo Barros
Embora a, cada ano, a
ONU consagre o 07 de abril, como “dia mundial da saúde”, já desde os anos 90, é
no 11 de fevereiro, festa da Virgem de Lourdes, que a Igreja Católica comemora
o “Dia mundial do enfermo”. Não é ruim que haja duas datas anuais em que
possamos recordar que saúde não é luxo nem artigo de comércio. É direito humano
universal e necessidade de primeira categoria. Em um mundo no qual mais de um
bilhão de pessoas sofre de extrema pobreza, agravada desde o início deste
século XXI, a fome se torna epidemia e a saúde se transforma em algo quase
inalcançável.
A Organização Mundial
da Saúde (OMS) define a saúde como “o
estado de completo bem-estar físico, psíquico, mental e social”. De acordo
com essa compreensão, a saúde consiste não apenas em não estar doente, mas em
alcançar um equilíbrio de vida sadia. As religiões antigas chamavam isso de salvação, no sentido de plenitude da
vida e da graça divina em nossas vidas. A diferença entre uma pessoa santa e uma pessoa sana (sadia) é apenas um t. Isso não liga doença e pecado, culpa ou
erro pessoal. Recorda que saúde plena é a realização total da vida. A tradição
afro-brasileira denomina esta energia de Axé.
Se se aplicar
rigidamente a definição da OMS, ninguém pode-se
considerar com plena saúde. Todos estamos continuamente na luta para vencer alguma
fragilidade do corpo e do espírito que atenta contra o que seria a saúde
profunda. Somos todos/as mais ou menos doentes. A saúde é um ideal a ser
buscado cada dia.
No mundo moderno, os
Estados assumiram que a saúde e sua proteção é direito humano. A sociedade tem
obrigação de zelar pelo bem estar físico e psíquico de seus membros.
Infelizmente, os governos de ideologia neoliberal decidiram diminuir ao máximo os
encargos do Estado. O Banco Mundial defende que os investimentos na saúde têm
dois tipos de serviço: os competitivos,
passiveis de financiamento (por exemplo, campanhas de vacinação) e os discricionários, oferecidos à
sociedade, de acordo com a capacidade de aquisição das pessoas. Isso significa
que o cuidado com saúde tem de ser comprado. De fato, na maior parte dos
países, como no Brasil atual, se multiplicam os planos privados. Vende-se
saúde, como se fosse Coca-Cola.
A Constituição Brasileira estabelece que “saúde é direito de todos e dever do
Estado”. Depois de uma longa luta dos
movimentos populares, a implantação do Sistema Único de Saúde (SUS), no início
da década de 90, foi uma grande conquista da sociedade brasileira. Poucos anos depois,
o governo de Fernando Henrique Cardoso aprovou um plano de terceirização da
saúde que só não destruiu totalmente o SUS, porque os movimentos sociais e
comunidades lutaram muito para denunciá-lo e para garantir as conquistas da
Constituição. A partir daí, em muitos Estados, os governos entregam a
administração de hospitais públicos e até do Sistema de Saúde a organizações
privadas, denominadas de organizações sociais. Estas recebem hospitais e
equipamentos públicos. O Estado investe e gasta, mas é o setor privado que
administra e lucra. Mesmo neste sistema iníquo, veem-se sinais e testemunhos de
generosidade humana, amor gratuito e doação por parte de médicos/as,
enfermeiros/as e agentes de saúde. Entretanto, é claro que o sistema privado só
cuida da saúde se tem lucros e benefícios, pois essa é a sua natureza. Por isso, é importante que organizações da
sociedade civil e de Igrejas se esforcem para chamar a atenção de todos para o
cuidado com as pessoas doentes.
Neste 11 de fevereiro de 2019, a Igreja Católica
celebra o XXVII Dia mundial do Doente que será celebrado de modo especial em
Calcutá na Índia. Para essa celebração, por conhecer essa realidade de um mundo
que tende a transformar tudo, até a saúde, em mercadoria o papa Francisco propôs o tema evangélico “Recebestes de graça,
dai de graça” (Mt 10, 8).
Na carta publicada pelo papa para esse dia, o papa
insiste em denunciar “a cultura do descarte e da indiferença”. Para
contrabalançar essa realidade, pede que se coloque “a generosidade gratuita como paradigma capaz de desafiar o
individualismo e a fragmentação social dos nossos dias e para promover novos
vínculos e formas de cooperação humana”. Escreve ainda: “O cuidado dos doentes precisa de
profissionalismo e ternura, assim como de gestos gratuitos, imediatos e
simples, como uma carícia, pelos quais fazemos sentir ao outro que nos é
«querido».
No Brasil,
atualmente, parece que muita gente prefere escolher o ódio e a violência como
caminhos sociais e políticos. Certamente, isso adoece. O papa tem razão ao
lembrar: Só o amor cura e dá saúde.
Nenhum comentário:
Postar um comentário