Frei Betto
O IBGE
divulgou, na última semana de fevereiro, que o desemprego voltou a crescer no
Brasil. Agora são 12,7 milhões de pessoas. Quem se encontra nessa situação, ou
já passou por isso, sabe como é terrível estar desempregado. A autoestima se
reduz, as incertezas assustam, a insegurança se aprofunda. Como pagar o
aluguel, o gás, a luz, o telefone, e as prestações dos eletrodomésticos?
O trabalho é o
nosso fator de identidade social. Quando somos apresentados a uma pessoa não
basta saber-lhe o nome. Paira a pergunta: e o que faz? A resposta qualifica
socialmente o interlocutor.
Segundo
levantamento do Instituto de Economia da Fundação Getúlio Vargas, no final de
2018 a desigualdade se agravou devido à dificuldade de os trabalhadores menos
qualificados aumentarem seus rendimentos. O governo modificou os critérios de
aumento anual do salário mínimo, o que reduziu o poder aquisitivo dessa parcela
da população.
Desde 2015 o
salário mínimo não tem ganho real, porque o PIB, que mede a riqueza do país,
encolheu em 2015 e 2016. E piorou com a reforma trabalhista da gestão Temer,
porque o emprego informal, quase sempre desqualificado, passou a pagar salários
indignos, muito aquém das necessidades básicas dos empregados.
O Brasil é,
hoje, o 9º país mais desigual do mundo, e o 1º da América Latina. Os outros
oito países mais desiguais ficam todos na África. Hoje, a renda média da
metade mais pobre da população é de R$ 787,69 por mês, inferior ao valor do
salário mínimo (R$ 998). Sessenta por cento dos brasileiros sobrevivem com
menos de um salário mínimo por mês.
Em
2016, os pobres tinham renda média de R$ 217,63. No ano seguinte, R$ 198,03.
Perda de 9%. Já os 10% mais ricos tiveram 2,09% de aumento na renda, que chegou
a R$ 9.519,10 por mês. Desses 10%, 12 milhões ganharam até R$ 17,8 mil de renda
tributável. E a parcela de 1% mais rico, que abrange 1,2 milhão de
brasileiros, teve rendimento médio superior a R$ 55 mil por mês (Oxfam).
Portanto, ainda
que o PIB volte a crescer, isso não significa que haverá aumento da renda dos
trabalhadores. A desigualdade é agravada pela apropriação abusiva que uma
pequena parcela da sociedade faz da riqueza nacional.
O Brasil é um
país de jovens. Nessa faixa etária, segundo a ONU (Pnud), o
desemprego em nosso país é de 30,5%, o maior percentual da América do Sul. E 1
em cada 4 jovens integra o time dos “nem nem”, ou seja, aqueles que nem
trabalham nem estudam.
Ora, não é
preciso ter bola de cristal para saber como esses jovens conseguem bancar seus
gastos. Ou desfrutam de renda alheia (família, herança etc) ou recorrem a
atividades ilícitas (narcotráfico, contrabando, roubos etc).
Os economistas
do FMI e do Banco Mundial, que controlam as finanças internacionais, defendem
que, para o Brasil crescer, é preciso impor austeridade, promover ajuste
fiscal, respeitar o teto de gastos e fazer a reforma da Previdência. Como diz
Stiglitz, Prêmio Nobel de Economia (2001), o capitalismo só cresce se contar
com produtores e consumidores. Mas hoje o sistema tem como foco principal a
financeirização da economia, denunciada por Piketty.
Com um PIB de
R$ 6,3 trilhões, o Brasil é um país rico. Daria para toda a nossa população
viver muito bem. Somos 208 milhões de habitantes. Dividido o valor do PIB pelo
número de habitantes, cada um teria uma renda anual de R$ 30 mil. Ou R$ 10 mil
por mês para cada família de 4 pessoas, o que asseguraria a todos uma vida
digna.
Portanto, como
alerta o economista Ladislau Dowbor, o problema brasileiro não consiste na
falta de recursos. Reside na falta de justiça e de distribuição da renda.
Frei Betto é escritor, autor de “Calendário do
Poder” (Rocco), entre outros livros.
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