Por Marcelo Barros
Neste domingo,
06 de outubro, o papa Francisco abriu em Roma mais um Sínodo extraordinário dos
bispos, representantes do episcopado de todo o mundo católico. Essa sessão do
Sínodo tem como tema “A Amazônia, o desafio da Ecologia Integral e
a Missão das Igrejas”.
Cristãos e não
cristãos, amazonenses ou não, só podem se alegrar com o fato de que o papa
Francisco convocou uma sessão extraordinária do Sínodo sobre a Amazônia e seus
desafios para o mundo e para as Igrejas. Há dois anos (2017), desde que o papa
anunciou esse sínodo, aqui na América do Sul e em Roma, se iniciou um processo
de preparação. A Amazônia tem sido centro de atenção, tema de estudos e de
interesse para as comunidades e organizações de todo o mundo. Nesse Sínodo que
começou ontem em Roma, há algumas coisas novas:
O documento
preparatório ao sínodo afirma que pastores e fieis, todos são convocados por
esse Sínodo a escutar o que o texto chama “a
voz da Amazônia”. Está se referindo às culturas tradicionais dos diversos
povos que habitam a região pan-amazônica. Na segunda parte do instrumento de
trabalho, a proposta é escutar o clamor da terra e dos pobres. E a terceira
parte propõe uma Igreja profética (que escuta e se insere na realidade da
Amazônia).
Até os nossos
dias, a missão das Igrejas cristãs na Amazônia e em todo o continente ainda
esteve ligada a uma cultura colonizadora e pouco inserida na realidade dos
pobres. É urgente essa conversão. Ela se fará por uma Igreja que se ponha à
escuta e acolha as culturas e tradições amazônicas como expressão do Espírito
de Deus que conduz os povos e a vida. Por isso, a perspectiva do Sínodo não é
como converter a Amazônia para a Igreja e sim como converter a Igreja para a
Amazônia.
Muitos grupos
propõem amazonizar toda a Igreja.
Isso não significa exportar as culturas amazônicas de modo artificial a outros
lugares. Esse sínodo chama a atenção para um fato: A Amazônia contém um desafio
importante para todo o mundo. Na Amazônia, o destino da humanidade e da vida
está sendo decidido. Ou encontramos um novo caminho de respeito às populações
pobres, à terra, às águas e à própria vida no planeta Terra, ou sucumbimos
todos. Ecologia integral une o cuidado com o ambiente, a justiça social e o
próprio equilíbrio interior e pessoal. O Sínodo sobre a Amazônia vê a Ecologia
integral como tradução concreta da proposta de Jesus no evangelho: a
sinalização de que o projeto divino para o mundo começa a se realizar.
O atual sínodo dos
bispos que o papa abriu nesse domingo em Roma conta com quase um terço de
participantes leigos e leigas. Participam também do sínodo evangélicos
representantes de Igrejas irmãs. Nos países da região amazônica, o processo sinodal
de diálogo e de mobilização comunitária não vai parar.
“O que o Senhor nos pede, em certo sentido,
já está contido na palavra Sínodo” (Francisco). Caminhar juntos – leigos,
pastores e o bispo de Roma... como forma de ser Igreja. Trata-se da
corresponsabilidade e participação de todo o Povo de Deus na vida e na missão
da Igreja. Isso supõe uma Igreja descentralizada, atenta aos processos locais e
em comunhão com as outras Igrejas irmãs e com a Igreja universal.
É preciso
fortalecer os “organismos de comunhão”
para tomar decisões pastorais. É preciso traduzir em instrumentos
institucionais a compreensão do sensus
fidei (como os fieis interpretam a fé). Esse caminho em comum vai continuar
suscitando uma Igreja mais igualitária e de comunhão, como é do desejo de
Jesus. Antigamente, os pastores ensinavam que a Igreja deveria ser ensaio de um
mundo novo. Na Amazônia, berço de tantas culturas extremamente comunitárias,
essa vocação suscitada pelo Evangelho ainda é mais forte e profunda.
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