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terça-feira, 8 de outubro de 2019

POR UMA IGREJA SINODAL E A PARTIR DA AMAZÔNIA





Por Marcelo Barros

Neste domingo, 06 de outubro, o papa Francisco abriu em Roma mais um Sínodo extraordinário dos bispos, representantes do episcopado de todo o mundo católico. Essa sessão do Sínodo tem como tema  A Amazônia, o desafio da Ecologia Integral e a Missão das Igrejas”.

Cristãos e não cristãos, amazonenses ou não, só podem se alegrar com o fato de que o papa Francisco convocou uma sessão extraordinária do Sínodo sobre a Amazônia e seus desafios para o mundo e para as Igrejas. Há dois anos (2017), desde que o papa anunciou esse sínodo, aqui na América do Sul e em Roma, se iniciou um processo de preparação. A Amazônia tem sido centro de atenção, tema de estudos e de interesse para as comunidades e organizações de todo o mundo. Nesse Sínodo que começou ontem em Roma, há algumas coisas novas:

O documento preparatório ao sínodo afirma que pastores e fieis, todos são convocados por esse Sínodo a escutar o que o texto chama “a voz da Amazônia”. Está se referindo às culturas tradicionais dos diversos povos que habitam a região pan-amazônica. Na segunda parte do instrumento de trabalho, a proposta é escutar o clamor da terra e dos pobres. E a terceira parte propõe uma Igreja profética (que escuta e se insere na realidade da Amazônia).

Até os nossos dias, a missão das Igrejas cristãs na Amazônia e em todo o continente ainda esteve ligada a uma cultura colonizadora e pouco inserida na realidade dos pobres. É urgente essa conversão. Ela se fará por uma Igreja que se ponha à escuta e acolha as culturas e tradições amazônicas como expressão do Espírito de Deus que conduz os povos e a vida. Por isso, a perspectiva do Sínodo não é como converter a Amazônia para a Igreja e sim como converter a Igreja para a Amazônia.

Muitos grupos propõem amazonizar toda a Igreja. Isso não significa exportar as culturas amazônicas de modo artificial a outros lugares. Esse sínodo chama a atenção para um fato: A Amazônia contém um desafio importante para todo o mundo. Na Amazônia, o destino da humanidade e da vida está sendo decidido. Ou encontramos um novo caminho de respeito às populações pobres, à terra, às águas e à própria vida no planeta Terra, ou sucumbimos todos. Ecologia integral une o cuidado com o ambiente, a justiça social e o próprio equilíbrio interior e pessoal. O Sínodo sobre a Amazônia vê a Ecologia integral como tradução concreta da proposta de Jesus no evangelho: a sinalização de que o projeto divino para o mundo começa a se realizar. 

O atual sínodo dos bispos que o papa abriu nesse domingo em Roma conta com quase um terço de participantes leigos e leigas. Participam também do sínodo evangélicos representantes de Igrejas irmãs. Nos países da região amazônica, o processo sinodal de diálogo e de mobilização comunitária não vai parar.

O que o Senhor nos pede, em certo sentido, já está contido na palavra Sínodo” (Francisco). Caminhar juntos – leigos, pastores e o bispo de Roma... como forma de ser Igreja. Trata-se da corresponsabilidade e participação de todo o Povo de Deus na vida e na missão da Igreja. Isso supõe uma Igreja descentralizada, atenta aos processos locais e em comunhão com as outras Igrejas irmãs e com a Igreja universal.

É preciso fortalecer  os “organismos de comunhão” para tomar decisões pastorais. É preciso traduzir em instrumentos institucionais a compreensão do sensus fidei (como os fieis interpretam a fé). Esse caminho em comum vai continuar suscitando uma Igreja mais igualitária e de comunhão, como é do desejo de Jesus. Antigamente, os pastores ensinavam que a Igreja deveria ser ensaio de um mundo novo. Na Amazônia, berço de tantas culturas extremamente comunitárias, essa vocação suscitada pelo Evangelho ainda é mais forte e profunda.

 MARCELO BARROS é monge beneditino e escritor. Tem 44 livros publicados, dos quais  “O Espírito vem pelas Águas", Ed. Rede da Paz e Loyola. Email: irmarcelobarros@uol.com.br  

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