Por Roberto E.
Zwetsch
Dom
Pedro, pastor, poeta, profeta,
Pedro
irmão, amigo, defensor
De
gente humilde, esquecida,
Como
abandonado era o sertão onde ele foi morar
Viver,
evangelizar.
E
então ser bispo, articulador, semente de resistência.
São
Félix do Araguaia nunca mais foi a mesma
Depois
que ele chegou!
A
carta de uma Igreja na Amazônia em
conflito com o latifúndio
E
a marginalização (1971)
Inaugurou um grito, instituiu o que mais tarde
Passaria a se chamar “uma igreja com rosto
amazônico”.
Mas foi como uma senha,
Causou furor nos inimigos da gente pequena,
Espantou os governantes, fruto de um golpe militar
e
Civil, apoiado pela elite de sempre.
O golpe outro, aquele que durou 21 anos,
Que hoje se repete no novo golpe deste século 21
E já nasce torto, obscuro, violento,
Dominado pelo conluio de forças
Midiáticas, parlamentares, judiciais,
Que agem amparadas na lei higienicamente burlada,
Forçada, quebrada ao sabor dos interesses.
Mas não menos covarde como outrora.
Pedro entre nós resiste, chora, ora, preservando
A mesma verve, embora o corpo sofra e grite.
A lucidez o mantém vivo, alerta, solidário sempre
Com a Amazônia, os povos da floresta,
O papa Francisco, o último Sínodo,
Aquele da ecologia integral
Que uniu num só espírito
A luta da terra e a luta dos pobres.
Pedro sonhou com este conclave maior fazia muito
E o viveu na solidão do sertão do Mato Grosso
Cercado pelo carinho do seu povo e da comunidade.
Teria estado lá com seus irmãos e irmãs
Não fosse a debilidade vivida no limite,
Na fé e na ousadia teimosa de quem aprendeu
– a duras penas – a dizer: Não!
À injustiça, à desigualdade, à violência, ao crime
hediondo,
Diante da desfaçatez, ele foi sempre enfático: Não!
E pagou um alto preço pela ousadia.
Em seu lugar, pregou a união dos diferentes,
A comunhão dos pequenos, a partilha do pouco,
A vivência da fé na coragem de ser,
A alegria da festa comunitária, a criançada
A correr feliz na beira do grande rio
Que ele conheceu como poucos em suas muitas
Travessias, atento às margens, aos pássaros,
Às tartarugas e aos peixes voadores.
Nunca se furtou à conversa com os canoeiros,
Os peões de fazenda, as moças das vilas,
Os jovens das escolas,
As avós famintas, os lavradores sem terra
Que produziam feijão, macaxeira, banana,
As frutas do quintal.
Essa gente amiga que sempre o abrigou
Nas casas de palha, de barro batido,
Onde havia rede e um café passado na hora.
Por isso mesmo, casa fraterna e mesa repartida.
Pedro teve por báculo o remo tapirapé,
Como anel, o tucum dos povos indígenas,
Por mitra, o chapéu de palha
E por calçado a sandália de borracha.
Escândalo episcopal, profecia encarnada no corpo,
Na mente e no espírito inquieto da
Insurreição do evangelho.
Viveu a colegialidade do ministério com
O clero, as religiosas e o povo das comunidades
Sempre à escuta da sabedoria popular.
Hoje vive sua própria páscoa, travessia,
Na entrega do corpo, da vida, da inteligência,
Da fé, dos sonhos que sonhou
de olhos abertos e espírito apaixonado.
Uma entrega que se mostra símbolo de utopia
E do compromisso maior
Na senda aberta pelo Senhor dos Passos,
O Cristo Jesus de Nazaré e de todos os povos.
Em comunhão com Pedro, seguiremos seu caminho
Na unidade do Espírito da Liberdade.
O Deus de toda paz o cubra de bênção, de amor
De misericórdia e de compaixão.
A alegria do evangelho vencerá,
Ah, vencerá mesmo, Pedro,
Ainda que a maldade pareça infinita.
Vem, Senhor Jesus!
No fim, permanecem a fé, a esperança e o amor.
Mas o maior é e sempre será o Amor!
Pelotas, novembro de 2019.
Roberto E. Zwetsch
Pastor luterano
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