Prof. Martinho Condini
Algumas
pessoas defendem a ideia que não se deva misturar esporte com protestos sociais
ou políticos, partindo do princípio que o esporte é algo para as pessoas se
divertirem.
Porém, o esporte é algo que não esta
separado da vida real a qual todos nós estamos envolvidos. Viver é uma ação
política. Acredito que o esporte em vários momentos foi utilizado como
instrumento ideológico, principalmente em regimes autoritários.
Mas também é verdadeiro que atletas que
ao longo da história se engajaram em movimentos de protestos por causas nobres,
como por exemplo a luta contra o racismo, o preconceito e a violência contra
negros e negras. Esse ativismo desses atletas ficaram marcados na marcados na
história das suas modalidades, agremiações e do seu país. A atitudes desses atletas prova que o esporte
não só entretenimento, mas atitude diante das injustiças.
Os jogos olímpicos em Berlim em 1936 serviram para o regime nazista
de Adolf Hitler tentar provar ao mundo a superioridade da raça ariana em
relação às demais – crença sustentada pela ideologia nazista.
Mas o norte americano negro Jesse Owens, atleta dos 100 e
200 metros rasos, salto em distância e revezamento 4×100 metros, garantiu
quatro medalhas de outro para os
americanos. Owens derrotou o atleta alemão Luz Long, grande esperança no salto
em distância. Apesar de não se tratar de nenhuma
manifestação política específica, a gloriosa vitória de Owens acabou por
frustrar as intenções dos nazistas de tornar os Jogos em um grande símbolo de
seu regime.
Em 1968, nos jogos
olímpicos da cidade do México os atletas negros norte-americanos Tommie Smith e
John Carlos protagonizaram uma das cenas mais emblemáticas da história dos
jogos olímpicos. Ao subirem ao pódio e receberem as medalhas de ouro e bronze
na prova dos 200 metros rasos, ao tocar o hino do seu país baixaram a cabeça e
ergueram o punho usando luvas pretas, saudação dos Panteras Negras (organização
política socialista e revolucionária estadunidense). Um gesto de protesto contra
o racismo, o preconceito e a violência contra os negros nos Estados
Unidos.Lembrando que na década em que ocorreram os jogos olímpicos no México os
líderes negros Malcom X e o pastor protestante Martin Luther King foram
assassinados.
Nesta mesma década, o pugilista negro
Cassius Clay (que posteriormente mudou o seu nome para Mohammed Ali) campeão
olímpico e mundial de boxe perdeu seu cinturão por se negar a ir lutar na
Guerra do Vietnã (1955-1975). Mohammed Ali sempre foi uma voz importante na
luta contra a violência a comunidade negra norte-americana.
Em 2016 Colin Kaepernick, jogador de
futebol americano, iniciou um grande protesto nos Estados Unidos ao ajoelhar-se
no momento do hino americano, para mostrar o seu descontentamento em relação ao
assassinato de cidadãos negros. Sua atitude inspirou outros jogadores, que passaram a ter o mesmo
gesto. Até de outras ligas, como os astros da NBA Stephen Curry e Carmelo
Anthony. Na época o então presidente Barack Obama, endossou a atitude. Naquela
época, já havia a campanha "Black Lives Matter" (Vidas Negras
Importam), que hoje espalhou-se pelo mundo.
Em 2020 os jogadores de basquete negros
e brancos do Milwakee Bucks boicotaram as partidas dos playoffs da NBA, em
protesto pelo assassinato de um cidadão negro, George Floyd, por um policial
branco.
Um dos astros do basquete norte
americano, o negro Lebron James do Los Angeles Lakers frequentemente utilizou as
quadras como espaço do movimento ativista afro americano Black Lives Mater.
E nos últimos jogos olímpicos na cidade
de Tóquio, a atleta americana, a negra Raveb Saunders medalhista de prata no
arremesso, após receber a medalha levantou os braços e cruzou os punhos sobre a
cabeça como um gesto de apoio e solidariedade em favor dos oprimidos espalhados
pelo mundo.
Enfim, diante dessas atitudes tão
significativas só me resta reverenciá-los e dizer que jamais serei um
protagonista nessa luta...aliado sempre!
O Prof. Martinho Condini é historiador, mestre em Ciências da Religião e doutor em Educação. Pesquisador da vida e obra de Dom Helder Camara e Paulo Freire. Publicou pela Paulus Editora os livros 'Dom Helder Camara um modelo de esperança', 'Helder Camara, um nordestino cidadão do mundo', 'Fundamentos para uma Educação Libertadora: Dom Helder Camara e Paulo Freire' e o DVD ' Educar como Prática da Liberdade: Dom Helder Camara e Paulo Freire. Pela Pablo Editorial publicou o livro 'Monsenhor Helder Camara um ejemplo de esperanza'. Contato profcondini@gmail.com
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