Chico Alencar
(Breve reflexão para cristãos ou não)
Nesse domingo, em milhares de comunidades cristãs pelo mundo, ecoa um clamor: o de Jesus de Nazaré contra a hipocrisia, a falsidade, o fingimento. Contra a cultura da aparência, que nega a essência. Contra os chefes do Templo e os doutores da Lei que não praticavam o que pregavam (Mc, 7, 1-8, 14-15, 21-23).
Na sociedade de consumo, hoje, esse "farisaísmo" do tempo de Jesus está mais forte ainda: o parecer vale mais do que o ser. A mentira faz morada nas pessoas e em quase todas as instituições. Jesus denuncia, citando o profeta Isaías, os que "honram (a Deus) com os lábios, mas têm o coração longe". Contesta aqueles muitos que vivem defendendo a "tradição" mas não exercem a compaixão. Denuncia os que fazem cultos e ritos e não escutam o grito dos aflitos.
Ele desafia sua gente, a começar pelos discípulos, a descobrir a sacralidade de todas as pessoas e coisas, e a ter uma postura de amor e respeito diante delas: "o que vem de fora não torna ninguém impuro, e sim o que sai dele". O nosso interior, o nosso coração é a grande usina da generosidade... ou das más intenções (maldade, roubo, inveja, calúnia, orgulho, ambição).
Toda religiosidade autêntica transforma a vida das pessoas. Faz com que o que ela reza, ora, celebra, transborde para a vida cotidiana, na relação com os outros e com a natureza. Sem isso, são palavras vazias de "gente estúpida, gente hipócrita".
Isso vale não apenas para quem professa uma fé - que "sem obras, é vã" - mas para todo ser humano que não faz o que fala, que é incoerente-raiz. Tantos por aí...
Ser autêntico, viver o que se diz é caminho para crescer e ser feliz: "Isso de querer ser exatamente aquilo que a gente é ainda vai nos levar além" (Paulo Leminski, 1944-1989).
D. Pedro Casaldáliga (1928-2020), bispo, poeta e profeta, nos desafia: "Ser o que se é, falar o que se crê, crer no que se prega, viver o que se proclama - até as últimas consequências".
Caminhemos e, junto/as, pratiquemos!
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