Por Padre Francisco Aquino Júnior
A expansão do agronegócio na Chapada do Apodi, divisa do Ceará com o Rio
Grande no Norte, vem tirando o sossego e ameaçando a vida de comunidades
camponesas que vivem na região há muitas décadas. A chegada de grandes
empresas, a desapropriação e o comércio de terras, a construção de
infraestruturas, a monocultura com uso intensivo de agrotóxico e o trabalho
assalariado transformaram profundamente a região.
A mídia e os governos (de direita e de “esquerda”) falam do agronegócio
como desenvolvimento, progresso e melhoria de vida da população. Diariamente
escutamos que o “agro é pop”. Mas a realidade é bem diferente: promove
concentração de terra, água e investimento público; transforma camponeses em
mão de obra barata; ameaça a agricultura familiar; destrói a biodiversidade
(flora, fauna, modos de vida); contamina a terra, a água, o ar e provoca muitos
problemas de saúde (a região se destaca pelos elevados índices de câncer). Sem
falar que não tem grandes impactos nos indicadores sociais da região: 39% da
população do Vale do Jaguaribe, interior do Ceará, vive em situação de pobreza
ou extrema pobreza. O caso de Limoeiro do Norte é ainda mais emblemático. Com o
segundo maior PIB agropecuário do Ceará, cerca de 35% de sua população vive em
situação de pobreza ou extrema pobreza. Tudo isso mostra, na verdade, que o agro é tóxico: produz concentração, exploração,
doença, destruição da natureza e ameaça a vida de comunidades inteiras que têm
nessa região seu espaço de vida e trabalho.
Tudo isso tem provocado muitos conflitos na região: trabalhadores que
lutam por aumento salarial e melhores condições de trabalho; camponeses que
lutam por terra e água; comunidades que denunciam o uso intensivo de
agrotóxicos (contaminação da água, problemas de saúde). O assassinato de Zé
Maria do Tomé, em 2010, com 25 tiros, deu visibilidade e projeção a essa
situação. E acabou fortalecendo a articulação de comunidades, Igreja,
movimentos sociais, universidades e diversas forças sociais na denúncia dos
males provocados pelo agronegócio e na defesa dos direitos das comunidades e
seus territórios. Frutos desse processo são o Acampamento Zé Maria do Tomé no
Perímetro Jaguaribe Apodi, a Lei Estadual Zé Maria do Tomé que proíbe a
pulverização aérea no Ceará e o fortalecimento da produção agroecológica com
tecnologias sociais e processos de comercialização.
A expansão recente com o cultivo de algodão e soja vem agravando a
situação e ameaçando a vida de várias comunidades da região. Uma única empresa
já se apropriou de mais de 25 mil hectares de terra e está em acelerado
processo de expansão. Dentre os impactos identificados e denunciados pelas
comunidades estão a especulação fundiária, o cercamento de comunidades, o
fechamento de estradas, o desmatamento assustador – até com uso de correntão
(proibido pelo Código Florestal!), a destruição da flora e da fauna, o uso
intensivo de agrotóxicos e de sementes transgênicas, barulho constante de
máquinas, poeira, redução da produção de mel e até mortandade de abelhas.
O caso das abelhas é particularmente grave. Apicultores denunciam
alteração no tamanho das abelhas e redução drástica da quantidade de colmeias
nas proximidades da empresa. Alguns tiveram que deslocar as colmeias para
outras regiões da Chapada e até para outros municípios. Tem havido mortandade
de abelhas. Na comunidade Carbomil, houve mortandade total de 52 colmeias. O
impacto financeiro é enorme. O apicultor perdeu não apenas a produção (estimada
em 5 mil reais), mas todo meliponário que garantia uma renda média entre 3,5 e
4 mil reais por ano. A mortandade aconteceu no mesmo período de pulverização da
área para produção de algodão.
As abelhas desempenham um papel fundamental na conservação da
biodiversidade, pois são responsáveis pela polinização de muitas plantas. E a
apicultura, além do valor nutritivo, tem um papel fundamental na renda de
muitas famílias e na economia da região. Sua ameaça com a destruição da
vegetação nativa e, sobretudo, com a mortandade de abelhas pelo uso intensivo
de agrotóxicos, causa grande desequilíbrio ambiental e enorme prejuízo aos
apicultores e à economia da região. É um crime que clama ao céu e exige de nós
indignação, protesto e apoio aos apicultores e suas comunidades na defesa das
abelhas, da apicultura e de seus territórios.
SOS abelhas e apicultores da Chapada do Apodi. Ajude a ecoar esse grito…
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