Marcelo Barros
Na segunda-feira, 25 de abril até o 6 de
maio, na sede das Nações Unidas, em Nova York, acontece mais uma sessão do
Fórum Permanente sobre Questões Indígenas. Este encontro acontece em formato
híbrido, com centenas de representantes dos povos originários e também com
participação de comunidades que acessam o Fórum através da internet. Apesar de
que a maioria é de etnia indígena, também participam pessoas de outras raças
que sabem da importância dos povos indígenas para toda a humanidade e para o
futuro da vida na Terra. O tema é sugestivo: “Povos indígenas, negócios,
autonomia e os direitos humanos”. Durará duas semanas e tem como objetivo
aumentar a integração e promover a coordenação de atividades que ligam as
questões indígenas com a ONU.
Na abertura, Abdulla Shahid, atual
presidente da Assembleia Geral da ONU, destacou que este encontro celebra a
diversidade linguística e cultural que as comunidades indígenas representam.
Afirmou que as comunidades indígenas têm muito a ensinar a toda a humanidade,
especialmente na relação com a Mãe Terra e toda a natureza. Falou dos muitos desafios
que eles enfrentam e reafirmou que governos e sociedades têm obrigação moral de
proteger os direitos e bem-estar das comunidades indígenas. E concluiu: “Só se
apoiarmos as culturas indígenas, poderemos preservar a biodiversidade da Terra
e avançar no cumprimento dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável da ONU”.
Ao fazer essas afirmações, o presidente da
Assembleia Geral da ONU não estava se dirigindo ao presidente do Brasil, nem ao
seu governo. Certamente, a ONU não tinha recebido ainda o relatório anual das pastorais
da Terra e da pastoral indigenista que denunciam os 1.768 conflitos no campo
brasileiro, ocorridos somente durante o ano de 2021, com 35 assassinatos, que
envolveram povos indígenas, quilombolas, sem terra e todas as comunidades
tradicionais. Não tinham ainda notícia do caso recente da criança Yanomami, de
12 anos, estuprada e assassinada por garimpeiros, nas comunidades Aracaça, em
Amajarí, no norte de Roraima.
Um dos falsos pretextos que o governo
atual e os ruralistas brasileiros alegam contra a demarcação das terras
indígenas é de seria “muita terra para pouco índio”. Contra isso, neste fórum, o
doutor Shahid confirmou: de fato, os povos indígenas representam menos de 5% da
população global. No entanto, a ONU tem
provas de que esses grupos tão minoritários são guardiães fieis de 80% da
biodiversidade do mundo inteiro.
Nesta assembleia, Dario José Mejía
Montalvo, indígena colombiano, líder da Organização dos Povos Indígenas da
Colômbia, foi eleito presidente do Fórum Permanente da ONU sobre Questões
Indígenas. Em suas primeiras palavras no fórum, ele denunciou que, em todos os
países do continente, os povos originários sofrem ataques e são vítimas de
perseguições, na maioria das vezes, exatamente por serem defensores da natureza
e dos direitos da Terra, das águas e das florestas.
Dados da ONU confirmam que 1,6 bilhão de
pessoas dependem diretamente das florestas para obter alimentos, abrigo,
energia, medicamentos e renda. Muitas comunidades e povos indígenas são
beneficiados com sustento e refúgio oferecido pelas matas. Ao mesmo tempo, protegem as matas.
Atualmente, as comunidades indígenas são perseguidas por empresas de mineração,
garimpeiros e grandes fazendeiros, justamente porque a presença de comunidades
indígenas é a última defesa que resta para que as florestas fiquem de pé, os
rios possam ainda se manter limpos e os biomas minimamente protegidos. A ONU
denuncia que somente no ano de 2021, foram destruídos no mundo dez milhões de
hectares de florestas, a maioria deles na África e na América Latina.
Neste tempo em que as Igrejas cristãs
celebram a Páscoa, é importante recordar que os evangelhos falam da
ressurreição de Jesus como início de uma renovação da vida para a humanidade,
mas também para toda a criação, ou seja, a Terra e toda a natureza. Dom Pedro
Casaldáliga dizia que a missão cristã é espalhar ressurreição. Isso pede de
todas as comunidades cristãs, solidarizar-se aos povos indígenas e ser, cada
vez mais, como eles, guardiães da Vida no planeta Terra.
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