Marcelo Barros
A ONU propõe que se consagre o dia 15 de maio para
aprofundar o direito de “objeção de consciência” e divulgá-lo para que todos os
países o acatem. A objeção de consciência é a atitude de quem, por convicção religiosa,
social ou política, se nega a pegar em armas e a participar de guerras ou atos
violentos. Objetar é se negar a cumprir uma lei que fere a consciência pessoal
ou comunitária. Há objeção de consciência quando a pessoa se nega a cumprir
ordens antiéticas, ou que firam a vida. A violência, mesmo se esta é
institucional, ou seja perpetrada pelo Estado, nunca construirá um mundo de paz
e justiça.
Em Israel, jovens recrutados ao serviço militar
obrigatório se negam a combater palestinos. Nos Estados Unidos, muitos negros e
índios e brancos se negam a ir fazer guerra em outros países. Muitos desses
rapazes e moças invocam o direito de objeção de consciência. Jornalistas se
demitem para não serem obrigados a escrever notícias mentirosas que servem
apenas aos interesses dos proprietários dos meios de comunicação e a favorecer a
guerra da elite dominante do mundo contra os pobres.
Homens e mulheres, admirados no mundo inteiro, alguns
até premiados com o Nobel da Paz, foram ou ainda são, em seus países, considerados
como rebeldes e desobedientes. Para os budistas tibetanos, o Dalai Lama, é a 14a
reencarnação do Buda da Compaixão, mas, para o governo chinês, é um dissidente,
desobediente às leis. Na Índia da primeira metade do século XX, o Mahatma
Gandhi foi preso e condenado como subversivo. Atualmente, o mundo inteiro o
considera um profeta e libertador do povo. A partir dos anos 1950, nos Estados
Unidos, o pastor Martin-Luther King foi, diversas vezes, preso e condenado, mas
só assim conseguiu garantir o reconhecimento dos direitos civis da população
negra.
O prêmio Nobel da Paz foi dado a dois
latino-americanos ilustres: a Rigoberta Menchu que viveu anos sem poder voltar
à Guatemala para não ser morta e a Adolfo Perez Esquivel que, durante anos, era
constantemente ameaçado de prisão na Argentina. No Brasil da ditadura militar,
Dom Hélder Câmara, era escutado no mundo inteiro, enquanto, em nosso país, os
meios de comunicação não podiam divulgar nada que falasse em seu nome.
Se a objeção de consciência é direito de toda pessoa
diante do poder social e político, com maior razão ainda, as religiões e
Igrejas deveriam reconhecer um direito à dissidência e à objeção de consciência
diante de um poder religioso autoritário ou, por qualquer razão, injusto.
Nenhum pastor, padre ou bispo tem direito de impor aos
fieis suas preferências políticas ou partidárias. Ninguém tem direito de impor
convicções morais em nome da fé.
Conforme a Bíblia, quando as autoridades religiosas de
Jerusalém proibiram os apóstolos a falar no nome de Jesus, estes responderam:
“Entre obedecer a Deus e aos homens, é melhor obedecer a Deus”(At 5, 29).
A negação do direito à liberdade pessoal de opção
social e política abre a porta ao fundamentalismo religioso, hoje, responsável
por muitos atos de intolerância e mesmo de violência.
O que, na Bíblia, caracteriza a fé cristã é o
aprendizado da liberdade interior e social. Paulo escreveu aos coríntios: “Onde
estiver o Espírito do Senhor, aí haverá liberdade” (2 Cor 3, 17). E aos
gálatas: “Foi para que sejamos livres que Cristo nos libertou. Vocês não devem
aceitar, por nenhum pretexto, voltar à situação de não liberdade” (Gl 5, 1.
13).
Nenhum comentário:
Postar um comentário