Frei Betto
Uma boa notícia neste mês de maio é a oficialização da candidatura de
Lula à presidência da República. Diante do descalabro promovido pelo
(des)governo Bolsonaro, o candidato do PT desponta como a alternativa
preferencial dos eleitores nas eleições do próximo mês de outubro.
Ainda é cedo para
cantar vitória. Não se pode ignorar que, da parte do candidato à reeleição,
todas as tramoias são possíveis. E a Justiça Eleitoral se encontra debilitada,
acuada diante das frequentes ameaças que o Executivo e as Forças Armadas fazem
a todo o sistema judiciário, a começar pelo STF, desmoralizado pelo indulto
concedido por Bolsonaro a um deputado federal comprovadamente criminoso.
Um processo
eleitoral não deveria estar focado na figura do candidato. A centralidade seria
o programa de governo, os objetivos que persegue e os princípios que o
norteiam. Mas isso é um luxo na atual conjuntura brasileira. Há tempos os
partidos se transformaram em meros trampolins eleitorais. Não há seleção
ideológica de novos militantes, formação de quadros ou impedimento de filiação
daqueles cujas vidas pregressas não se coadunam aos princípios estatutários do
partido. São todos caldeirões que contêm os mais variados, estranhos e
antagônicos ingredientes. E como na história de José Leon Machado – “A bruxa e
o caldeirão”- todos os caldeirões têm seus furos.
As prioridades dos
candidatos que polarizam a eleição estão definidas. Para Bolsonaro, trata-se de
reeleger-se e prosseguir o desmonte Brasil e minar as instituições democráticas
até que ele possa governar como senhor absoluto da nação. Para Lula, enfrentar
as graves questões que afetam o país: desigualdade social, desemprego,
inflação, sucateamento da saúde e da educação e retomada dos
investimentos.
Aqueles que rejeitam
as duas candidaturas preferenciais não encontraram, até agora, uma alternativa
viável. Prevejo um volume expressivo, nas eleições de 2022, de abstenção e
votos nulos e brancos.
O que mais me
preocupa é o marasmo no qual se encontra a nação. Vide as pífias manifestações
no 1º de Maio em pleno ano eleitoral! Nada de protestos de rua, como se a
oposição estivesse desarticulada e desprovida de bases populares organizadas.
Nada do entusiasmo que se viu em campanhas eleitorais precedentes. Será
que os setores progressistas estão intimidados?
Acredito,
porém, que o problema maior se resume a dois pontos: os partidos
progressistas não têm clareza do Brasil que querem, das reformas estruturais
urgentes, da relação orgânica com os marginalizados e excluídos. Há que
valorizar a agricultura familiar e acabar com as isenções tributárias para o
agronegócio? Há que continuar a manter a economia dependente das exportações de
produtos primários (elegantemente chamados “commodities”) ou investir mais em
inovações científicas e tecnológicas?
O segundo ponto é a
falta de trabalho de formação política de militantes e fortalecimento dos
movimentos sociais. O poder de mobilização popular dos partidos é mínimo. Paulo
Freire permanece na estante.
Não há tempo
para reequacionar todos esses fatores. Resta a todos nós, convencidos de que é
preciso tirar Bolsonaro do Planalto definitivamente, abraçar com disposição e
ânimo a candidatura Lula.
Frei Betto é escritor, autor de “Calendário do
poder” (Rocco), entre outros livros. Livraria virtual: freibetto.org
Frei Betto é autor de 70 livros, editados no Brasil e no exterior. Você
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