Marcelo Barros
No mundo inteiro, cresce o número de pessoas e grupos que sentem a
necessidade de restituir à Política um espírito e modo de atuar que parecem
esquecidos ou desvalorizados. No Brasil, as pastorais sociais ligadas à Igreja
Católica e a algumas confissões evangélicas desenvolveram o projeto “Reencantar
a Política”. Isso significa aprofundar a ação política como caminho de participação
de toda sociedade na construção do bem comum. A Política parlamentar e
representativa supõe um trabalho político de base que vai suscitando uma
Política participativa e, o quanto possível, mais direta.
Na Itália, no início de setembro, na Città di Castelo, um congresso
de organizações sociais tinha como tema: “A urgência da Política”. Apesar
disso, no domingo, 25 de setembro, o povo italiano elegeu como governo uma
coalizão de direita, populista e com ideias neofascistas, que apontam no
sentido contrário.
No Brasil, as eleições nacionais de 2 de outubro, mais do que
apenas representar a escolha de candidatos, revela que a maioria do povo sente
a necessidade de retomar a dignidade da Política, como campo no qual pessoas e
grupos das mais diferentes correntes sociais debatem com liberdade e respeito
ao diferente sobre a construção de uma pátria comum que cuide da mãe Terra e
promova a justiça eco-social, a mais integral possível.
Neste caminho, a Política se exerce como em duas dimensões:
A mais imediata é restabelecer a humanização da convivência
política na pluralidade de partidos e de tendências humanas, sem demonizar o
diferente. Isso supõe o embate entre propostas e projetos políticos, nos quais
dos dois lados, as pessoas respeitem a Ética e o caráter laical da sociedade,
sem dar lugar ao ódio, à intolerância e desumanização do outro.
Ao mesmo tempo que a Política é a arte de construir o que é
possível nas condições atuais, ela tem como vocação apontar para a ousadia de
promover a justiça eco-social, baseada em maior igualdade entre as pessoas e o
respeito aos direitos individuais e comunitários de toda pessoa humana e dos
povos como sujeitos coletivos. Essa
Política com P maiúsculo é a grande Política que traduz mais profundamente a
solidariedade que, como Pedro Casaldáliga dizia, expressa a ternura no nível
coletivo e comunitário. Este patamar da Política abre a porta para outro
horizonte que responde à vocação humana de construir a utopia.
Cada vez mais cresce o número de pessoas que, fieis aos diversos
caminhos da espiritualidade descobrem que a fé se vive na adesão ao projeto que
Deus revelou na Bíblia e em outros livros sagrados. Trata-se de construir um
mundo de Paz, Justiça e Amor. Nos evangelhos, Jesus propõe que peçamos a Deus
que “o seu reino venha” e nos encarrega de sermos testemunhas do reinado divino
na construção social e política de um mundo novo possível. Que nossa inserção
na Política seja expressão dessa esperança maior.
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