Por FREI BETTO

Temos novo papa com o nome de dois Francisco: o de Assis (1182-1226) e o Xavier (1506-1552), este jesuíta como ele. Papa que, ao se apresentar ao mundo, da sacada do Vaticano, dispensou as vestes pontificais e pediu aos fiéis que rezassem por ele.
É significativo que dom Cláudio Hummes, cardeal brasileiro, tenha aparecido ao
seu lado no momento em que se apresentou. Agora sabemos que foi um convite do
próprio eleito. Dom Cláudio se sentou ao lado do cardeal Bergoglio durante o
conclave. E foi o principal articulador de sua eleição. Não me surpreendeu
saber que o nome de Francisco foi sugerido pelo ex-bispo do ABC paulista, pois
dom Cláudio é franciscano e, no início da década de 1980, defendeu os
metalúrgicos em greve liderados por Lula.
O nome de um papa revela um programa. No caso de Francisco, vários fatores são
relevantes. São Francisco de Assis é o santo que, filho de Bernardone, pioneiro
do capitalismo, criticou o novo sistema produtivo que gerava miséria. Até então
a pobreza na Europa Ocidental decorria de guerras e pestes. Todos tinham ao
menos uma gleba de terra para cultivar seus alimentos e criar uns poucos
animais que garantissem seu sustento.
Graças à sua manufatura, Bernardone levou à falência inúmeros artesãos que
produziam tecidos. As tinturas eram importadas da França. Tamanha a sua
admiração pela nação que exercia hegemonia sobre a Europa Ocidental que batizou
o filho com o nome de Francesco – aquele que vem da França.
Ao despir-se na praça de Assis, Francisco rejeitou o processo produtivo
inaugurado por seu pai e fez opção pelas vítimas, os pobres. São Francisco é também
o padroeiro da ecologia, amigo dos animais e enamorado do Sol e da Lua, aos
quais dedicou cânticos.
Ao entrar na capelinha de São Damião, em Assis, o jovem Francisco escutou Jesus
pedir-lhe que reconstruísse a igreja. Com seus amigos, Francisco se dispôs a
restaurar a igreja da Porciúncula (hoje dentro da catedral de Assis) que estava
em ruínas. Até que se deu conta de que a voz divina lhe fazia um apelo mais
abrangente: tratava-se de reformar a Igreja Católica, o que o levou a fundar a
Ordem dos Franciscanos.
Bergoglio é jesuíta. E nos primórdios dessa Ordem religiosa se destaca São
Francisco Xavier, que evangelizou indianos e japoneses. Com certeza o novo
papa, ao adotar o nome de Francisco, pensou no que significam para a Igreja os
exemplos dos dois Francisco.
A notícia de que Bergoglio, quando padre e bispo, teria sido cúmplice da
ditadura argentina (1976-1983) não procede, segundo afirmação de Adolfo Perez
Esquivel, prêmio Nobel da Paz, em quem confio. Bem comparando, Bergoglio não
teve uma atuação profética como tiveram, sob a ditadura no Brasil, dom Paulo
Evaristo Arns, dom Helder Camara e dom Pedro Casaldáliga. Esteve mais próximo
da atuação de dom Eugenio Sales, que preferiu agir nos bastidores em defesa dos
perseguidos.
Um detalhe merece atenção. Karol Woityla, cardeal da Polônia, foi eleito papa
no momento em que a Guerra Fria esquentava e Reagan desempenhava forte ofensiva
ao socialismo no Leste Europeu. O pontificado de João Paulo II foi marcado pela
queda do Muro de Berlim.
Nessa atual conjuntura em que governos populares e progressistas se disseminam
pela América do Sul – Kirchner, Maduro, Dilma, Mujica, Morales, Correa – e Raúl
Castro, de Cuba, preside a CELAC (Comunidade de Estados Latino-Americanos e Caribenhos),
verá a Casa Branca no novo papa um aliado para recuperar sua hegemonia sobre o
Sul de nosso Continente?
Frei Betto é escritor,
autor do romance “Minas do Ouro” (Rocco), entre outros livros.
http://www.freibetto.org/>
twitter:@freibetto.
Copyright 2013 – FREI BETTO – Não é permitida a reprodução deste artigo em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização do autor. Se desejar, faça uma assinatura de todos os artigos do escritor. Contato – MHPAL – Agência Literária (mhpal@terra.com.br)
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