Por MARCELO BARROS

Há quem julgue
isso mais difícil nas sociedades tradicionais da América Latina. Quando se
analisa a cultura de nossos povos, a sua literatura e arte, a música popular,
tanto a sertaneja como a de raízes e outras expressões como o Carnaval e as
festas juninas, pode-se pensar que a
América Latina, embora não seja o berço do machismo, foi onde ele foi
melhor cultivado e se encontra muito bem enraizado. De fato, não é justo fazer
análises genéricas e que não levam em conta as peculiaridades de cada cultura
local. Muitas vezes, determinadas culturas, patriarcais e machistas nas
relações afetivas e românticas, são matriarcais em outras instâncias. Também o
feminismo tem muitas correntes e variações. Cada uma delas nos chama a atenção
para um aspecto da realidade. Insiste que a luta seja de homens e mulheres e
não somente de mulheres pela dignidade e direitos femininos e propõe que essa
luta se dê a partir de tais princípios ou questões.
Hoje, vários
países da América Latina estão vivendo um momento social e político novo. A
Bolívia, o Equador e a Venezuela lideram um processo de independência do velho
colonialismo imperial, aprofundam um estilo novo de democracia participativa (e
não só parlamentar) e principalmente constroem uma verdadeira integração e
cooperação entre todos os países do continente, como a pátria grande, a
“nuestra América” que no século XIX, Simon Bolívar e José Marti sonharam e
projeto pelo qual deram a vida. Esse processo que hoje chamamos bolivariano não
é somente social e político. É também cultural. Baseia-se nos valores das
culturas indígenas e afro-descendentes e propõe como objetivo do Estado e da
sociedade civil o bem viver, noção indígena que corresponde ao que, para os
cristãos, o evangelho chama de “vida em plenitude”. O Brasil entra propriamente
no processo bolivariano, mas participa do seu caminho de integração. O governo
parece ainda acreditar no neoliberalismo em crise em todo o mundo, mas os
movimentos populares aprendem muito com o bolivarianismo e dialogam com os
companheiros e companheiras dos países mais inseridos no processo.
Nesse processo
bolivariano, é fundamental perceber e valorizar o papel especial das mulheres e
sua contribuição específica. Não basta que o Brasil tenha uma mulher como
presidenta da República pela primeira vez na história. O importante é perceber e
valorizar a participação das mulheres nos movimentos populares e organizações
da sociedade civil. Na América Latina, em movimentos indígenas e camponeses, as
mulheres têm sido profetizas do cuidado com a terra, na relação de amor com a
natureza e em propor novas relações no seio da família e da sociedade. A meta
do bem viver tem algo que somente uma justa e profunda relação de gêneros pode
alcançar.
Infelizmente,
embora o evangelho de Jesus tenha como princípio a igualdade absoluta entre
homens e mulheres, até hoje, a Igreja Católica e as Igrejas ortodoxas não se
abriram à participação igualitária da mulher e do homem nos ministérios e nos
cargos de maior responsabilidade na Igreja. Como Igreja é fundamentalmente
Igreja local, essa mudança só poderá ocorrer a partir das bases. E aí sim, as
comunidades cristãs poderão dar um verdadeiro e profundo testemunho do reinado
divino que vem a esse mundo.
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