Por ROBERTA BARROS

Os homens eram colocados contra as paredes, suas
bermudas já sem marcas ou sem cor, eram sacolejadas.
As crianças que estavam na rua assistiam a tudo, com
direito à reprise, logo mais na televisão, uma espécie de programa social, ritual
obrigatório das favelas.
As mães escondiam os filhos pequenos dentro de casa,
por traz dos portões de ferros enferrujados.
Os bêbados, arriados nas calçadas das biroscas,
aplaudiam a ação, afinal, o álcool já tinha lhe subido a cabeça e toda aquela movimentação já era constante aos seus
embriagados olhos.
Dentro dos barracos, com as portas entreaberta as
pessoas esperavam tudo acontecer, alguns sofás com os forros já gastos, e
espumas à mostra, serviam de barricadas.
Valia até se esconder das balas perdidas, se deitando
no chão até tudo voltar ao normal.
Mas que normalidade esperamos quando se vive em casebres nas beiras das encostas, sem
sanitários, onde as mangueiras que levam água potável faz seu caminho junto as
águas poluídas e infectas dos esgotos?
Onde homens e cães disputam lugar para dormir em casas de
terra batida, e onde também meninas e meninos são usados como mercadorias e
famílias inteiras são dizimadas pela força de uma Pedra, assim como na idade da
Pedra.
A degradação nestes bairros, nos salta a vista. É uma
parcela inteira da população que vive a mercê de sua própria sorte.
Driblando a AIDS, leptospirose, tuberculose, em uma
corda bamba, guiados apenas pelo sangue que ainda pulsa em suas veias.
Roberta Barros é pedagoga e fundadora da CAMM
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