Por
MARIA CLARA LUCCHETTI BINGEMER

Outra surpresa, porém aguardava a multidão
que passara o dia sob o frio e a chuva para conhecer seu pastor. E também
aqueles que em todas as latitudes olhavam a televisão esperando o resultado da
fumaça branca. Tratava-se do nome que o novo Papa escolhera para seu
pontificado: Francisco. É o primeiro assim chamado na linhagem de todos os
pontífices que há mais de dois mil anos governam a Igreja Católica.
A escolha do nome por parte de um papa não
é acaso nem questão de gosto. No nome reflete-se um projeto: o projeto do
novo pontífice, um sinal ao mundo de que linhas teológicas, atitudes
pastorais e políticas de governo marcarão seu pontificado. Assim, em 1978
o cardeal Albino Luciani tornou-se o primeiro Papa a ter um nome duplo: João
Paulo I para homenagear seus dois antecessores imediatos, João XXIII e Paulo
VI. Deixava assim patente o Papa sorriso – como era chamado por sua
encantadora alegria - a intenção de aplicar durante seu pontificado os
decretos do Concílio Vaticano II na esteira dos dois papas que o haviam respectivamente
inaugurado e finalizado. Com sua prematura morte, o sucessor escolheu o nome de
João Paulo II a fim de afirmar que assumia como sua a tarefa do antecessor.
O nome Francisco segue essa linha.
Imediatamente se vê no Papa que veio do sul do mundo onde imperam a pobreza e a
injustiça, o desejo de identificar-se com a figura gigantesca e inspiradora de
Francisco de Assis, o “poverello” que amou a pobreza como Dama e noiva e serviu
os pobres como seus irmãos mais queridos. É o mesmo Francisco que ouviu do
Crucificado diante do qual rezava em São Damião o pedido amoroso que soou como
um mandato: “Francisco, reconstrói a minha Igreja”. Neste momento em que a
renúncia de Bento XVI surpreendeu o mundo, vieram a público inúmeras sombras
que obscurecem o rosto da Igreja. O novo Papa tem a missão de reconstruir
aquilo que se encontra fragilizado e destruído. E para isso adota o nome de
Francisco de Assis.
Porém, além de ser argentino, portenho,
latino-americano, o Papa Francisco é também o primeiro Papa jesuíta em toda a
história da Igreja. Tal fato encontra sua raiz na própria Companhia de
Jesus, fundada por Inácio de Loyola nos albores da modernidade. Tendo
vivido a situação calamitosa da Igreja que resultou na Reforma protestante, Inácio
sabia bem o quanto podem ser danosas para uma vida cristã autêntica as honras e
prestígios deste mundo. É assim que nas Constituições da nova Ordem
missionária que funda explicita claramente que o jesuíta não deve aceitar
dignidades eclesiásticas. E faz esta renúncia objeto de um voto próprio
da Ordem, que todos os jesuítas professos devem pronunciar.
Ao longo da história, houve ocasiões em
que este voto foi suplantado por uma necessidade eclesial imperiosa, ou por uma
circunstância de urgência, ou por uma prioridade missionária inegável. Por isso
há menos bispos jesuítas ou cardeais do que os há de outras ordens. E
nunca houve um Papa jesuíta. É próprio do espírito da Ordem não buscar e
- a não ser quando Deus mostre claramente sua vontade em sentido oposto –
aceitar postos hierárquicos.
Jorge Mario Bergoglio entrou jovem para a Companhia de Jesus e ali foi formado e configurado segundo o estilo único que os Exercícios Espirituais de Santo Inácio imprimem naquele ou naquela que faz esta experiência. Aquilo que é uma das características mais marcantes do novo Papa e que a mídia agora explicita, tal como viver austeramente, usar transporte público em vez de carro oficial, andar pelas periferias da cidade junto aos mais pobres são um reflexo da formação por ele recebida na escola do Peregrino de Loyola, fundador da Companhia.
Jorge Mario Bergoglio entrou jovem para a Companhia de Jesus e ali foi formado e configurado segundo o estilo único que os Exercícios Espirituais de Santo Inácio imprimem naquele ou naquela que faz esta experiência. Aquilo que é uma das características mais marcantes do novo Papa e que a mídia agora explicita, tal como viver austeramente, usar transporte público em vez de carro oficial, andar pelas periferias da cidade junto aos mais pobres são um reflexo da formação por ele recebida na escola do Peregrino de Loyola, fundador da Companhia.
E é aí que se pode ver e constatar que por
trás do nome escolhido pelo novo Pontífice existe outro Francisco além do de
Assis. Francisco Xavier, nobre espanhol navarro, brilhante estudante da
Universidade de Paris que um dia encontrou Inácio de Loyola em seu
caminho. A proximidade do mestre espiritual, a experiência dos Exercícios
revelaram e poliram a tempera extraordinária desse missionário que ainda muito
jovem foi enviado ao Oriente.
Pela mediação deste Francisco, o Evangelho
chegou à Índia e ao Japão. Aos 46 anos morria Xavier às portas da China. Muito
cedo sua fama de santidade correu mundo. E a Igreja o fez padroeiro das
missões.
Juntamente com o Poverello de Assis, o missionário Xavier está muito presente no nome do novo Papa. Resta-nos esperar que seu pontificado seja marcado pelo amor aos pobres do santo de Assis e pelo ardor e heroísmo missionário do jesuíta navarro. Graças a Deus, habemus Papam!
Juntamente com o Poverello de Assis, o missionário Xavier está muito presente no nome do novo Papa. Resta-nos esperar que seu pontificado seja marcado pelo amor aos pobres do santo de Assis e pelo ardor e heroísmo missionário do jesuíta navarro. Graças a Deus, habemus Papam!
Maria Clara
Lucchetti Bingemer é professora do Departamento de Teologia da
PUC-Rio, teóloga e autora de “Crônicas
de cá e de lá” (editora Subiaco), que pode ser encomendado
diretamente à escritora pelo e-mail – agape@puc-rio.br – R$ 20,00
Copyright 2013 – MARIA CLARA LUCCHETTI BINGEMER – Não é permitida a reprodução deste artigo em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização. Contato – MHPAL – Agência Literária (mhpal@terra.com.br)
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