por MARIA CLARA LUCCHETTI BINGEMER

No
entanto, a definição de necessidade e de supérfluo é algo relativo, já
que um produto considerado supérfluo para alguém pode ser essencial para
outra pessoa, de acordo com as camadas sociais a que a população
pertence. Isso pode gerar violência, pois as pessoas que cometem crimes
na maioria das vezes não roubam ou furtam por necessidade, e sim por
vontade de ter aquele produto e não possuir condições de adquiri-lo.
Nesses casos, a necessidade de consumo se torna uma doença, uma
compulsão, que deve ser tratada para evitar maiores danos à pessoa.
Muitas vezes, o consumismo chega a ser uma patologia comportamental.
Pessoas compram compulsivamente coisas que não irão usar ou que não têm
utilidade, apenas para atender à vontade de comprar.
A
explicação da compulsão pelo consumo talvez possa se amparar em bases
históricas. O mundo nunca mais foi o mesmo após a Revolução Industrial. A
industrialização agilizou o processo de fabricação, o que não era
possível durante o período artesanal. Trouxe o desenvolvimento num modelo
de economia liberal, que hoje leva ao consumismo alienado de produtos
industrializados. Trouxe também várias consequências negativas por não se
ter preocupado com o meio ambiente.
A
Revolução Industrial do século XVIII transformou de forma sistemática a
capacidade humana de modificar a natureza, provocou o aumento vertiginoso
da produção, resultando no barateamento dos produtos e dos processos de
produção. Assim, milhares de pessoas puderam comprar produtos antes
restritos às classes mais ricas.
A
sociedade capitalista da atualidade é marcada por uma necessidade intensa
de consumo, seja por meio dos mercados internos, seja pelos mercados
externos. Com o aumento do consumo há maior necessidade de produção e o
excesso de demanda leva à geração de mais empregos, o que aumenta a renda
disponível na economia e esta acaba sendo revertida para o próprio
consumo. Todo este processo leva a uma intensificação da produção e consequente
aumento da extração de matérias-primas e do consumo de energia, muitas
vezes de fontes não renováveis.
Às
vezes, uma pessoa compra por influência de outras que também são
influenciadas pelas propagandas, filmes, revistas etc. Ou seja, a
sociedade cria um padrão, que tende a ser seguido pelas pessoas. Algumas
mulheres, por exemplo, escolhem um corte de cabelo, roupas, sapatos e
acessórios da moda porque se inspiram em alguma atriz famosa.
Em
nossas sociedades houve uma tentativa trágica de reencantar o mundo pelo
consumismo e a diversão. O consumismo promete preencher os desejos,
necessidades e carências com diferentes produtos, mas o faz de tal
maneira que nunca fiquemos satisfeitos e desperte em nós a necessidade, a
compulsão de adquirir novos produtos que o mercado produz sem recesso. O
que começa como uma necessidade converte-se em compulsão ou em vício.
Qualquer privação inesperada, irrita e frustra.
A
fé cristã e a Eucaristia contam outra história sobre a fome e o consumo.
E essa não começa com a escassez, mas com um convite à vida, e vida em
abundância. O corpo e o sangue de Cristo não são bens escassos, a
hóstia e o cálice se multiplicam diariamente em milhares de celebrações
eucarísticas em todo o mundo. O consumidor do corpo e sangue de
Cristo, no entanto, não permanece alheio ao que consome, mas se torna
parte do Corpo. O ato de consumo da Eucaristia não implica a apropriação
de bens para uso privado, mas sim ser assimilado a um órgão público, o
Corpo de Cristo. Ali se comunicam alegria e dor, abundância e falta, e se
destaca a obrigação de os seguidores de Cristo para com os famintos. Na
dinâmica eucarística, famintos e bem-aventurados se integram em Cristo e
inauguram um novo modo de entender o mundo e viver a realidade.
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