Por FREI BETTO

O papa Bento XVI, ao renunciar ao trono de Pedro a 28 de fevereiro, deu sinal verde à abertura do novo conclave, que em março reunirá o Colégio de Cardeais para eleger seu sucessor.
Serão
115 cardeais com menos de 80 anos a participar da eleição em Roma, mesmo que
estejam sob censura ou tenham sido excomungados. Durante o tempo que durar a
reunião ficarão isolados do mundo, recolhidos em aposentos especiais, próximos
à famosa Capela Sistina, onde ocorrerá o processo eleitoral.
O
conclave é aberto com missa solene celebrada na Basílica de São Pedro. Cada
cardeal faz o voto de manter a eleição em segredo, e todos rezam para que o Espírito
Santo inspire suas escolhas. Em seguida, se recolhem.
O
verdadeiro motivo do isolamento dos cardeais, ocorrido pela primeira vez em
1268, por ocasião da morte de Clemente IV, é apressar a decisão. Aquele
conclave esteve reunido durante quase quatro anos, sem que as divergências
políticas abrissem caminho às luzes do Espírito Santo. Para apressar os
cardeais a votar, foi preciso destelhar a sala em que se reuniam. Suas
eminências temeram mais os rigores do frio que a claustrofobia. Por fim, em
1271, o conclave elegeu Teobaldo Visconti, que, aliás, era monge, mas não
sacerdote. Adotou o nome de Gregório X.
Antes
de os cardeais se recolherem, as salas e os apartamentos são examinados para
detectar possíveis microfones; as entradas são seladas, as janelas vedadas, as
cortinas, fechadas.
Na
Capela Sistina, seis velas são acesas no altar, onde está o cálice sagrado.
Nele serão colocados os votos. Os cardeais adentram à capela sem chapéu. As
cabeças descobertas e os baldaquinos simbolizam que a autoridade suprema nasce
apenas dessa reunião, e não pertence a nenhum deles, individualmente.
O
voto é secreto. Duas sessões de votação são realizadas a cada dia, uma pela
manhã e outra à tarde.
Cada
cardeal deposita seu voto no cálice sobre o altar. Após cada sessão, os papéis
da votação são queimados. Se a votação não foi conclusiva, uma substância
química é adicionada aos papéis, para que produzam fumaça preta ao queimar. A
fumaça que sai pela chaminé, no telhado do Palácio do Vaticano, é o sinal para
a multidão que espera na Praça de São Pedro. Enquanto for preta, significa que
a Igreja permanece sem a sua principal figura.
Eleito
o novo pontífice, com 2/3 dos votos, o decano ou o mais velho dos cardeais
pergunta ao novo papa se aceita a eleição e por qual nome deseja se tornar
conhecido. Esse costume vem desde o século X. É uma lembrança de que Jesus
mudou o nome daquele que viria a ser o primeiro chefe da Igreja, de Simão para
Pedro.
Nesse
momento, todos os baldaquinos cor púrpura são levantados, menos o que cobre o
assento do escolhido. Os papéis da votação são queimados e a fumaça branca
avisa ao povo na praça e ao mundo que um novo papa foi eleito.
O
escolhido, conduzido a um quarto ao lado, veste as roupas de papa (os alfaiates
as deixam prontas em três tamanhos). Os cardeais prestam a ele sua primeira
homenagem. O decano vai até o balcão e proclama: "Habemus papam!"
(Temos papa). E o novo pontífice aparece no balcão para abençoar a multidão.
Como
o conclave que se aproxima é inusitado, pois corre paralelo a um papa
renunciante que continuará morando no Vaticano, não se sabe ainda em que
momento o pontífice que se afastou saudará o eleito. O cerimonial da Santa Sé
quebra a cabeça para criar rubricas que respondam a inúmeras questões: é o papa
renunciante que deverá ir ao encontro do eleito ou o contrário? Os dois
permanecem dotados de infalibilidade em questões de fé e moral ou apenas o novo
pontífice? Já se sabe, porém, que Bento XVI perde o Anel do Pescador e os
sapatos vermelhos, embora permaneça com direito às vestes brancas,
adotadas desde o pontificado de Pio V, entre 1566 e 1572, e inspiradas no
hábito dos frades dominicanos, a cuja família religiosa ele pertenceu
antes de ser ordenado bispo.
Enfim,
com dois papas vivos, a Igreja Católica será, agora, foco das atenções por
muito tempo. Tomara que saiba aproveitar para fazer transparecer melhor a
mensagem de Jesus.
Frei Betto é escritor, autor de “Conversa sobre fé e ciência” (Agir), em parceria com Marcelo Gleiser e Waldemar Falcão, entre outros livros.
Frei Betto é escritor, autor de “Conversa sobre fé e ciência” (Agir), em parceria com Marcelo Gleiser e Waldemar Falcão, entre outros livros.
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