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quinta-feira, 6 de fevereiro de 2014

João Batista Libânio, teólogo (1932 – 2014)



Por Frei Betto


     Éramos primos. Ele jesuíta; eu, dominicano. Dotado de inteligência brilhante, doutor em teologia pela Universidade Gregoriana de Roma, falava espanhol, inglês, alemão, francês, latim e grego. Formou-se em neolatinas pela PUC-Rio.

     Estudou também em Frankfurt. Na Alemanha, foi aluno do celebre teólogo Karl Rahner. Especializou-se em teologia dogmática.

     Suas pregações eram acentuadamente bem humoradas e, no trato pessoal, surpreendia pela tiradas irônicas pinceladas de citações clássicas, muitas delas em alemão.

     Durante o Concílio Vaticano II, dirigiu, em Roma, o Colégio Pio Brasileiro, destinado a seminaristas do Brasil.  

     Em 1969, ao me ver perseguido pela ditadura, acolheu-me no Seminário Cristo Rei, em São Leopoldo (RS), onde ministrava teologia.

     Em 1974, ingressou no Grupo Emaús, esteio da teologia da libertação no Brasil. Duas vezes por ano nos reunimos em um fim de semana. Libanio jamais faltava. Era, de fato, o coordenador do grupo. Acolhia-nos na casa de retiro dos jesuítas em Corrêas (RJ) e anotava todos os assuntos debatidos  em cada reunião. Em abril próximo seria peça-chave nas comemorações dos 40 anos do Grupo Emaús.

     Embora erudito, tinha uma radical opção pelos mais pobres. Morava em Venda Nova, na Grande Belo Horizonte, e dava aulas no seminário dos jesuítas. Aos fins de semana celebrava em uma paróquia rural de Vespasiano (MG).
     Escritor talentoso, publicou 125 livros, dos quais 36 de autoria própria. Assessorou importantes reuniões de bispos e cardeais, do Sínodo dos Bispos, em Roma, às assembleias da CNBB. Foi um dos principais animadores das Comunidades Eclesiais de Base no Brasil e na América Latina.

     Nos últimos anos, recusava a maioria dos convites recebidos para dar palestras e prestar assessorias. Preferia ficar em casa para orar, ler e escrever.

     Disciplinado, andarilho, nadava quase todos os dias. Durante o retiro que pregava para as Irmãs de Sion, em Curitiba, dedicadas à pastoral popular, sofreu um infarto fulminante na manhã de quinta-feira, 30 de janeiro. Transvivenciou aos 82 anos.

     Agora a luz de sua profunda fé cristã desnudou-lhe todo o Mistério.

 Frei Betto é escritor, autor de “O que a vida me ensinou” (Saraiva), entre outros livros.

 http://www.freibetto.org/>    twitter:@freibetto.

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