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sexta-feira, 21 de fevereiro de 2014

“Ut Omnes Unum Sint” (Para que todos sejam um)



por Maria Clara Lucchetti Bingemer 


     A pergunta que tento responder  com este artigo que celebra a nomeação de Dom Orani João Tempesta a cardeal pelo Papa Francisco é: quem é Dom Orani?  Respondo consciente de que meu conhecimento do arcebispo é ainda recente e, portanto, limitado.  Mas não posso deixar de reconhecer que nos últimos tempos, estando mais próximos, foi possível também para mim captar algo de sua rica personalidade.

     E por isso começo por seu lema: Para que todos sejam um.  Trata-se de uma frase extraída do capítulo 17 do Evangelho de João, versículo 21. Jesus, às portas de sua Paixão, dirige sua oração ao Pai, desejando e pedindo a união de todos os seres humanos no caminho do amor e da verdade, aberto por Jesus.  A citação completa do versículo é: Para que todos sejam um, assim como tu, Pai, estás em mim e eu em ti, para que também eles estejam em nós e o mundo creia que tu me enviaste.

     Trata-se, portanto, de um bispo que vê na construção da unidade  o centro de seu ministério episcopal e da sua missão pastoral.  Este é Dom Orani. Sempre trabalhando e agindo para construir a unidade.  E seu compromisso com essa unidade não permanece apenas em desejo, mas utiliza meios apropriados para realizá-la. Um exemplo é a importância que dá à comunicação.  Antes de vir para o Rio de Janeiro, enquanto era bispo de Belém e mesmo no início de seu ministério episcopal no Rio, foi presidente da Comissão Episcopal para a Cultura, Educação e Comunicação Social (reeleito até 2011).

       A comunicação é, talvez, o meio mais indicado para fomentar a unidade e o entendimento entre os seres humanos.  Por isso é tão valorizada.  É verdade também que quando distorcida pode provocar exatamente o inverso daquilo que pretende, ou seja, desunião, separação, mentira e injustiça.  Eis a razão pela qual é tão importante para a Igreja usar a comunicação para sua missão evangelizadora e pastoral.  Não por outro motivo João Paulo II foi saudado como Papa midiático. E até o tímido e refinado intelectual Bento XVI postava mensagens no twiter.  Papa Francisco, por sua vez, atrai sempre a atenção da mídia sob todos os aspectos. 

       Desde que começou sua missão pastoral como bispo, primeiro em São José do Rio Preto, depois em Belém e agora no Rio, Dom Orani aproximou-se sem medo dos meios de comunicação. E não só os utiliza como fomenta seu uso por meio dos vários agentes de pastoral, ordenados ou não, que trabalham nas dioceses que comandou.

         Aqui no Rio, os que o conhecemos mais de perto temos oportunidade de ver como maneja com destreza as tecnologias digitais mais eficientes e velozes, respondendo com rapidez mensagens recebidas e fazendo-se presente em situações  e eventos aos quais não pode comparecer. 

        Assim vai criando na diocese um clima de abertura e transparência, de informação e verdade, que faz com que a Igreja não se torne algo misterioso e inacessível, encerrada em ambientes exclusivos para uns poucos eleitos.  Leva a boa notícia às pracas, aos lugares públicos, convoca para eventos, aproveitando de forma competente o belo cenário da Cidade Maravilhosa.  E assim vai construindo a unidade, pois levanta alto os sinais da fé, do amor, da fraternidade, os únicos que podem unir a humanidade em torno de ideais comuns.

       E o mais fascinante da personalidade do arcebispo é o fato de de sua trajetória eclesial ter iniciado não em praça pública ou à frente de paróquias ou dioceses, mas no claustro da contemplativa ordem cisterciense, de silêncio, oração e estrita observância.  Ali Dom Orani bebeu sua formação espiritual, filosófica e teológica. Ali aprofundou os mistérios divinos na leitura orante dos salmos e dos textos dos Padres da Igreja.  Ali certamente sentiu o apelo da unidade e de uma vida a ela dedicada.

       Ao tomar posse como arcebispo do Rio de Janeiro, em 2009, disse: Me sinto muito emocionado em poder acolher o chamado do Santo Padre de vir aqui ao Rio de Janeiro para servir, não só a Igreja Católica, mas servir como um sinal para toda essa cidade que clama por vida, por paz e por fraternidade.  

          O que o arcebispo entendia naquele momento por sinal fica claro em seu discurso de posse, no qual começa recordando sua família, que, segundo ele, devido à mistura de nacionalidades, o fez experimentar a necessidade de unidade na diversidade.

        Desde o começo de seu ministério, portanto, Dom Orani quis imprimir uma direção a sua vida: ser sinal de unidade.  Tem convicção de que disso depende o anúncio do Evangelho e o acontecimento da fé.  Como Jesus rezou ao Pai: que todos sejam um para que o mundo creia.  Os que acompanhamos seu ministério episcopal no Rio de Janeiro vemos como tem se empenhado em realizar essa unidade.  Suas iniciativas nesta cidade que é maravilhosa mas também violenta, dividida, partida, tem sinalizado claramente que o lema da unidade que o acompanha desde a juventude e está marcado em seu brasão episcopal continua sendo sua prioridade.  

          Certamente, como cardeal, poderá fazer ainda mais por essa unidade tão necessária e tão desejada por ele e por todos nós.  Sua vida tem sido pautada na fé de que essa unidade é possível para além de todas as aparências de impossibilidade.

Maria Clara Bingemer, professora do Departamento de Teologia da PUC-Rio. A teóloga é autora de “O  mistério e o mundo –  Paixão por  Deus em tempo de descrença”, Editora  Rocco.
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