por Maria Clara Lucchetti Bingemer
A pergunta que tento
responder com este artigo que celebra a nomeação de Dom Orani João
Tempesta a cardeal pelo Papa Francisco é: quem é Dom Orani? Respondo
consciente de que meu conhecimento do arcebispo é ainda recente e, portanto,
limitado. Mas não posso deixar de reconhecer que nos últimos tempos,
estando mais próximos, foi possível também para mim captar algo de sua rica
personalidade.
E por isso começo por seu lema: Para
que todos sejam um. Trata-se de uma frase extraída do capítulo 17 do
Evangelho de João, versículo 21. Jesus, às portas de sua Paixão, dirige
sua oração ao Pai, desejando e pedindo a união de todos os seres humanos no
caminho do amor e da verdade, aberto por Jesus. A citação completa
do versículo é: Para que todos sejam um, assim como tu, Pai, estás em mim
e eu em ti, para que também eles estejam em nós e o mundo creia que tu me
enviaste.
Trata-se, portanto, de um bispo que vê na
construção da unidade o centro de seu ministério episcopal e da sua
missão pastoral. Este é Dom Orani. Sempre trabalhando e agindo para
construir a unidade. E seu compromisso com essa unidade não
permanece apenas em desejo, mas utiliza meios apropriados para realizá-la. Um
exemplo é a importância que dá à comunicação. Antes de vir para o Rio de
Janeiro, enquanto era bispo de Belém e mesmo no início de seu ministério
episcopal no Rio, foi presidente da Comissão Episcopal para a Cultura, Educação
e Comunicação Social (reeleito até 2011).
A comunicação é, talvez, o meio mais
indicado para fomentar a unidade e o entendimento entre os seres
humanos. Por isso é tão valorizada. É verdade também que
quando distorcida pode provocar exatamente o inverso daquilo que pretende, ou
seja, desunião, separação, mentira e injustiça. Eis a razão pela qual é
tão importante para a Igreja usar a comunicação para sua missão evangelizadora
e pastoral. Não por outro motivo João Paulo II foi saudado como Papa
midiático. E até o tímido e refinado intelectual Bento XVI postava mensagens no
twiter. Papa Francisco, por sua vez, atrai sempre a atenção da mídia sob
todos os aspectos.
Desde que começou sua missão pastoral
como bispo, primeiro em São José do Rio Preto, depois em Belém e agora no Rio,
Dom Orani aproximou-se sem medo dos meios de comunicação. E não só os utiliza
como fomenta seu uso por meio dos vários agentes de pastoral, ordenados ou não,
que trabalham nas dioceses que comandou.
Aqui no Rio, os que o conhecemos mais
de perto temos oportunidade de ver como maneja com destreza as tecnologias
digitais mais eficientes e velozes, respondendo com rapidez mensagens recebidas
e fazendo-se presente em situações e
eventos aos quais não pode comparecer.
Assim vai criando na diocese um clima
de abertura e transparência, de informação e verdade, que faz com que a Igreja
não se torne algo misterioso e inacessível, encerrada em ambientes exclusivos
para uns poucos eleitos. Leva a boa notícia às pracas, aos lugares
públicos, convoca para eventos, aproveitando de forma competente o belo cenário
da Cidade Maravilhosa. E assim vai construindo a unidade, pois
levanta alto os sinais da fé, do amor, da fraternidade, os únicos que podem
unir a humanidade em torno de ideais comuns.
E o mais fascinante da personalidade do
arcebispo é o fato de de sua trajetória eclesial ter iniciado não em praça
pública ou à frente de paróquias ou dioceses, mas no claustro da contemplativa
ordem cisterciense, de silêncio, oração e estrita observância. Ali
Dom Orani bebeu sua formação espiritual, filosófica e teológica. Ali
aprofundou os mistérios divinos na leitura orante dos salmos e dos textos dos
Padres da Igreja. Ali certamente sentiu o apelo da unidade e de uma
vida a ela dedicada.
Ao tomar posse como arcebispo do Rio de
Janeiro, em 2009, disse: Me sinto muito emocionado em poder acolher o
chamado do Santo Padre de vir aqui ao Rio de Janeiro para servir, não só a
Igreja Católica, mas servir como um sinal para toda essa cidade que clama por
vida, por paz e por fraternidade.
O que o arcebispo entendia naquele
momento por sinal fica claro em seu discurso de posse, no qual começa
recordando sua família, que, segundo ele, devido à mistura de nacionalidades, o
fez experimentar a necessidade de unidade na diversidade.
Desde o começo de seu ministério,
portanto, Dom Orani quis imprimir uma direção a sua vida: ser sinal de
unidade. Tem convicção de que disso depende o anúncio do Evangelho e
o acontecimento da fé. Como Jesus rezou ao Pai: que todos sejam
um para que o mundo creia. Os que acompanhamos seu ministério
episcopal no Rio de Janeiro vemos como tem se empenhado em realizar essa
unidade. Suas iniciativas nesta cidade que é maravilhosa mas também
violenta, dividida, partida, tem sinalizado claramente que o lema da unidade
que o acompanha desde a juventude e está marcado em seu brasão episcopal continua
sendo sua prioridade.
Certamente, como cardeal, poderá
fazer ainda mais por essa unidade tão necessária e tão desejada por ele e por
todos nós. Sua vida tem sido pautada na fé de que essa unidade é
possível para além de todas as aparências de impossibilidade.
Maria Clara Bingemer, professora do
Departamento de Teologia da PUC-Rio. A teóloga é autora de “O mistério e
o mundo – Paixão por Deus em tempo de descrença”, Editora Rocco.
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