por Frei Betto
Para
muitos, o poder é a suprema ambição. É a perversa maneira de se comparar a
Deus. Vide Temer e os políticos que gastam somas bilionárias em campanhas
eleitorais e, mesmo derrotados, voltam à cena. A sede de poder parece
proporcional à fortuna que dilapidam. Temer inclusive usa o dinheiro público
(nosso portanto) ao cooptar parlamentares com polpudas emendas parlamentares.
Há
homens que, fora do poder, sentem-se terrivelmente humilhados, expulsos do
Olimpo dos deuses. Caem em depressão e, passada a ressaca, voltam à disputa
pelo espaço de poder com mais garra e menos escrúpulos.
Modificado
o modo de viver de quem ocupa o poder, em pouco tempo altera-se também o modo
de pensar. Pois o poder faz girar a roda da fortuna e opera na pessoa uma
mudança de lugar social e cultural. Ela se vê cercada de bajuladores, recebe
convites e homenagens, ganha presentes, conta com vários assessores e,
sobretudo, passa a disporde uma infraestrutura que a reveste de uma aura
especial. Troca de guarda-roupa, de casa, de amigos e de mulher ou
marido.
Aos
olhos do comum dos mortais, possui as chaves da felicidade alheia. Tem o poder
de aprovar projetos, liberar verbas, autorizar obras, permitir viagens,
distribuir cargos, promover pessoas, conceder benesses e transformar seus
gestos em fatos políticos.
Quem
se apega ao poder mira-se todas as manhãs no espelho da bruxa da Branca
de Neve e não suporta críticas, pois minam sua auto-imagem e exibem
suas contradições aos olhos de outrem. Daí porque se isola, fecha-se num
círculo hermético ao qual só têm acesso os que cumprem suas ordens, dizem
"amém" às suas ideias e palavras.
O
ser humano tem cinco grandes tentações. A primeira é o poder. A segunda, o
poder. A terceira, o poder. A quarta, o dinheiro. A quinta, o sexo.
Por
que o poder encanta tanto? Porque aparentemente compensa quem tem baixa
autoestima. Só quem não se sente bem sendo o que é busca salvação na boia
chamada poder, ainda que o mar da conjuntura se encontre agitado.
Quem
se apega ao poder se sente desesperado diante da possibilidade de perdê-lo. Seu
ego necessita de uma prótese, como o homem de baixa estatura que só se deixa
fotografar ao lado de outros trepado em um tamborete ou o feio que divulga nas
redes sociais a foto de Marlon Brando como se fosse a sua.
Até
trabalhar no Planalto, em 2003 e 2004, como assessor especial do presidente
Lula, eu também pensava que o poder muda as pessoas. Descobri que não é bem
assim. O poder faz com que a pessoa se revele. Qualquer poder, do senador ao
gerente da agência bancária. Como bem diz o ditado espanhol: “Quieres conocer a
Juanito, dale un carguito.”
São raros aqueles que fazem do poder, como ensinou Jesus, um dever de
serviço à justiçá, à solidariedade e à paz.
Frei Betto
é escritor, autor de “A mosca azul – reflexão sobre o poder” (Rocco), entre
outros livros.
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