O Jornal On Line O PORTA-VOZ surgiu para ser o espaço onde qualquer pessoa possa publicar seu texto, independentemente de ser escritor, jornalista ou poeta profissional. É o espaço dos famosos e dos anônimos. É o espaço de quem tem alguma coisa a dizer.

quinta-feira, 3 de agosto de 2017

APEGO AO PODER



por Frei Betto

        Para muitos, o poder é a suprema ambição. É a perversa maneira de se comparar a Deus. Vide Temer e os políticos que gastam somas bilionárias em campanhas eleitorais e, mesmo derrotados, voltam à cena. A sede de poder parece proporcional à fortuna que dilapidam. Temer inclusive usa o dinheiro público (nosso portanto) ao cooptar parlamentares com polpudas emendas parlamentares.

        Há homens que, fora do poder, sentem-se terrivelmente humilhados, expulsos do Olimpo dos deuses. Caem em depressão e, passada a ressaca, voltam à disputa pelo espaço de poder com mais garra e menos escrúpulos. 

        Modificado o modo de viver de quem ocupa o poder, em pouco tempo altera-se também o modo de pensar. Pois o poder faz girar a roda da fortuna e opera na pessoa uma mudança de lugar social e cultural. Ela se vê cercada de bajuladores, recebe convites e homenagens, ganha presentes, conta com vários assessores e, sobretudo, passa a disporde uma infraestrutura que a reveste de uma aura especial. Troca de guarda-roupa, de casa, de amigos e de mulher ou marido. 

        Aos olhos do comum dos mortais, possui as chaves da felicidade alheia. Tem o poder de aprovar projetos, liberar verbas, autorizar obras, permitir viagens, distribuir cargos, promover pessoas, conceder benesses e transformar seus gestos em fatos políticos. 

        Quem se apega ao poder mira-se todas as manhãs no espelho da bruxa da Branca de Neve e não suporta críticas, pois minam sua auto-imagem e exibem suas contradições aos olhos de outrem. Daí porque se isola, fecha-se num círculo hermético ao qual só têm acesso os que cumprem suas ordens, dizem "amém" às suas ideias e palavras. 

        O ser humano tem cinco grandes tentações. A primeira é o poder. A segunda, o poder. A terceira, o poder. A quarta, o dinheiro. A quinta, o sexo. 

        Por que o poder encanta tanto? Porque aparentemente compensa quem tem baixa autoestima. Só quem não se sente bem sendo o que é busca salvação na boia chamada poder, ainda que o mar da conjuntura se encontre agitado. 

        Quem se apega ao poder se sente desesperado diante da possibilidade de perdê-lo. Seu ego necessita de uma prótese, como o homem de baixa estatura que só se deixa fotografar ao lado de outros trepado em um tamborete ou o feio que divulga nas redes sociais a foto de Marlon Brando como se fosse a sua.

        Até trabalhar no Planalto, em 2003 e 2004, como assessor especial do presidente Lula, eu também pensava que o poder muda as pessoas. Descobri que não é bem assim. O poder faz com que a pessoa se revele. Qualquer poder, do senador ao gerente da agência bancária. Como bem diz o ditado espanhol: “Quieres conocer a Juanito, dale un carguito.” 

         São raros aqueles que fazem do poder, como ensinou Jesus, um dever de serviço à justiçá, à solidariedade e à paz. 

Frei Betto é escritor, autor de “A mosca azul – reflexão sobre o poder” (Rocco), entre outros livros.


 Copyright 2017 – FREI BETTO – Favor não divulgareste artigo sem autorização do autor. Se desejar divulgá-los ou publicá-los em qualquer  meio de comunicação, eletrônico ou impresso, entre em contato para fazer uma assinatura anual. – MHGPAL – Agência Literária (mhgpal@gmail.com) 

Nenhum comentário:

Postar um comentário