Por Leonardo Boff
A gravidade de nossa crise
generalizada nos faz sentir como um barco à deriva, entregue à mercê dos ventos
e das ondas. O timoneiro, o presidente, é acusado de crimes, cercado de
marujos-piratas, em sua maioria (com nobres exceções) igualmente, corruptos ou
acusados de outros crimes. É inacreditável que um presidente, detestado por 90%
da população, sem nenhuma credibilidade e carisma, queira timonear um barco
desgovernado.
Nem sei se é obstinação ou vaidade,
elevada a um grau estratosférico. Mas, impávido, continua lá no palácio,
comprando votos, dispensando benesses, corrompendo a já corruptos para evitar
que responda junto ao STF a pesadas acusações que lhe são imputadas. Está pondo
57 empresas à privatização que inclui terras amazônicas e até a Casa da Moeda,
símbolo da soberania de qualquer país.
É uma vergonha internacional
apresentarmos tal figura apagada e sombria e termos, como país, chegado a este
ponto e conhecido a admiração de tantos outros países pelas políticas corajosas
feitas em favor das grandes maiorias empobrecidas graças aos governos
progressistas Lula-Dilma.
Pode a difamação dos opositores,
apoiados por grupos ligados ao stablishment internacional que
a todos quer alinhar a suas estratégias, tentar satanizar a figura de Lula e
desfazer o mérito dos benefícios que ele propiciou aos deserdados da terra. Mas
não estão conseguindo chegar ao coração do povo. Este sabe e testemunha:
“Apesar de erros e equívocos, é inegável que Lula sempre amou os pobres e
esteve do nosso lado. Mais que o pão, a luz, a casa, o acesso à educação
técnica ou superior, ele nos devolveu dignidade; somos gente e não somos mais
condenados à invisibilidade social”.
Querem destruir Lula, como líder
politico e como pessoa. Não o conseguirão, porque a mentira, a distorção, a
vontade raivosa e persecutória de um juiz justiceiro que julga mais pela raiva
do que pelo direito, jamais irão desfigurar alguém que se transformou em um
símbolo e em um arquétipo no Brasil e no mundo.
Dizem seguidores da psicologia
profunda de C. G. Jung que quem se transformou em símbolo pela saga de sua vida
e pelo bem que fez para os outros, se torna indestrutível. Virou símbolo de um
poder político benfazejo para os mais desvalidos de nossa história, marcados
por muitas chagas. O símbolo penetra o profundo das pessoas. Dispensa palavras.
Fala por si mesmo. O símbolo possui um caráter numinoso que atrái a atenção dos
ouvintes, até dos céticos. O carismático carrega uma estrela dentro e sua
irradiação é a mais potente que conhecemos. Lula possui este carisma e essa luz
que se traduz pela ternura que abraça e beija os mais humildes e pelo vigor com
que leva avante sua causa libertária. Aqueles antes silenciados, se sentem
representados por ele.
Além de símbolo, Lula se transformou
num arquétipo do lider cuidador e servidor. O arquétipo é uma figura ponderosa
que serve de referência a outros e por isso os anima e os transforma.
Este tipo de líder, consoante os mesmos analistas junguianos, serve a uma causa
que é maior do que ele próprio, a causa dos sem nome e dos sem vez. Tais
psicólogos sustentam que este tipo de líder faz coisas que parecem impossíveis.
Evoca nos seguidores os arquétipos escondidos neles de também de se
autosuperarem e de se sentirem parte da sociedade. Isso se expressa nas
palavras de muitos que dizem: “ao votar nele, nós estamos votando em nós
mesmos. Até hoje tínhamos que votar em nossos opressores, agora votamos em
alquém que é um dos nossos e que pode reforçar a nossa libertação”.
A atuação política de Lula possui uma
relevância de magnitude histórica. Ele tem a consciência deste desafio
formulado por um dos melhores dentre nós, Celso Furtado, em seu livro “Brasil:
a construção interrompida”(1992): ”Trata-se de saber se temos um futuro
como nação que conta na construção do devenir humano. Ou se prevalecerão as
forças que se empenham em interromper o nosso processo histórico de formação de
um um Estado-nação”(p.35).
O que nos dói é constatar que o atual
governo se empenha em interomper esse processo, pela violação da constituição e
da democracia, pelos ajustes e pelas privatizações que promove e até pela venda
de terras nacionais a estrangeiros. Celso Furtado que conhecia as práticas
dessas elites constatava pesaroso:”tudo aponta para a inviabilização do país
como projeto nacional”(obra citada,p.35). Mas recusamos este prognóstico.
Lutaremos para que o Brasil se tansforme numa nação pujante que sirva aos
desígnios maiores da própria humanidade, carente de bens e serviços naturais,
que nós dispomos em abundância e principalmente que reforce aqueles valores
humanísticos da solidariedade, da compaixão e da alegria de viver que nos tornam
mais felizes.
As elites dos endinheirados deixam-se
neocolonizar, para serem meros exportadores de commodities,
ao invés de criar as condições favoráveis para concluirmos a fundação de nosso
país. Além de corruptos, são vendilhões da pátria, cinicamente indiferentes à
sorte de milhões que da pobreza estão caindo na miséria e da miséria, na
indigência.
Temos que guardar os nomes destes
politicos traidores dos anseios populares. Representam mais seus interesses
pessoais e corporativos ou daqueles empresários que lhes financiaram as
campanhas do que os interesses coletivos do povo. Que as urnas os condenem,
negando-lhes a vitória pelo voto.
Leonardo Boff é articulista do JB on
line, teólogo, filósofo e escritor; escreveu A grande transformação na
economia, ma política e na ecologia, Vozes 2015;
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