Por Marcelo Barros
Atualmente, as redes sociais da
internet permitem que tenhamos centenas ou mesmo milhares de amigos e amigas
com os quais nunca convivemos e, muitas vezes, só conhecemos virtualmente e por
mensagens eletrônicas. Há quem chame a atenção para o fato de que, com esse
tipo de comunicação, parece que damos menos atenção às amizades reais e temos
menos tempo para ler e para refletir. Seja como for, graças a esses novos meios
de comunicação, podemos nos comunicar de um país a outro e as informações que
recebemos podem ser mais diversificadas e plurais.
Sem dúvida, a internet pode ser
usada para fins não recomendáveis. No entanto, ela relativiza o poder
unilateral e às vezes arrogante dos tradicionais meios de comunicação que só
divulgam o que é do interesse de seus proprietários. Qualquer pessoa
medianamente informada percebe que as agências internacionais de notícia se
tornaram as armas do império para derrubar governos que ameacem a hegemonia
norte-americana. Centenas de emissoras de televisão, rádios e jornais se unem
para difundir as mesmas notícias, de forma a gerar uma opinião pública de
acordo com os interesses da elite que domina o
país e do governo norte-americano. As pesquisas de opinião pública
mostram a eficiência dessa guerra midiática.
Até aqui, os grupos e organizações
sociais comprometidos com a justiça e os direitos humanos não têm conseguido
nem fazer frente à desinformação programada, nem criar algum outro meio de
comunicação livre e alternativo. No Brasil e em outros países, movimentos
sociais e partidos políticos comprometidos com a transformação do mundo vão às
ruas e mobilizam manifestações. Os meios tradicionais de comunicação só
transmitem informações de quebra-quebra e geram no povo o medo de ir às ruas e
de protestar. Assim, tudo continua como sempre.
Na Venezuela, no Equador e Bolívia, as
novas constituições nacionais priorizam a educação como fator fundamental de
construção da cidadania. Organismos internacionais da ONU já declararam a República
Bolivariana da Venezuela como país livre do analfabetismo. Também o governo de
Evo Morales, na Bolívia, realizou uma grande campanha de alfabetização em
massa. No Equador, desde anos, o governo investe em uma campanha de educação de
base, alfabetização de adultos e democratização do ensino. No entanto, apesar
de todo esse esforço, a guerra da informação continua mostrando a Venezuela
como um país à beira da guerra civil e dominada por uma ditadura feroz. A
Bolívia e o Equador são apresentados como repúblicas de índios.
Cada vez mais são as redes sociais
que permitem a comunicação alternativa de notícias e a reflexão crítica sobre o
que acontece no mundo. Já há quase dez anos, jovens da Espanha se articularam
pela internet e, durante meses, acamparam nas praças de cidades maiores para
protestar contra o sistema econômico que os oprime. Pela internet, jovens do
norte da África se organizaram e derrubaram governos ditatoriais na Tunísia, no
Egito e em outros países. É verdade que o império norte-americano interferiu,
matou todas as lideranças jovens da chamada "primavera árabe" e
substituiu as velhas ditaduras por governos fantoches que lhes garantam acesso
ao petróleo do qual os Estados Unidos precisam.
Se queremos vencer essa onda de
desconscientização e desinformações que geram intolerância, ódio e violência,
precisamos nos organizar para desintoxicar a alma das informações falsas e
sectárias da imprensa partidária e golpista. A internet e suas redes sociais
pode ser nosso instrumento de resistência e de contrainformação. É preciso
divulgar agências de notícias alternativas como brasil247, cartacapital,
conversaafiada, revistaforum, brasildefato, ihu.unisinos e outras.
Segundo o evangelho, quando Jesus
entrou em Jerusalém para celebrar a Páscoa, os discípulos se juntaram ao povo
peregrino que também entrava na cidade e começaram a gritar o anseio de
esperança de libertação. Os chefes da religião, aliados do império romano
pediram a Jesus que fizesse os discípulos e o povo que gritava nas ruas se calarem.
Jesus lhes respondeu: "Se eles se
calarem, até as pedras gritarão" (Lc 19, 40).
Para quem tem fé e busca viver uma
espiritualidade ecumênica, o cuidado de favorecer uma comunicação verdadeira e
justa corresponde ao que, no mundo antigo, os primeiros cristãos chamavam de
"evangelho", boa notícia no sentido de comunicação verdadeira e
profunda. Atualmente, muitas vezes, quem está proclamando esse evangelho do
projeto divino são os comunicadores das redes alternativas que trabalham pela
justiça e pelo direito de todos. Assim, continuam o trabalho de profetas e de
Jesus Cristo que revelou: para que o projeto divino se realize nesse mundo, é importante
conhecer, praticar a verdade e divulgá-la. Como ele afirmou: “A Verdade vos
libertará” (Jo 8, 33).
Marcelo Barros, monge beneditino e teólogo católico é especializado em Bíblia e assessor nacional do Centro Ecumênico de Estudos Bíblicos, das comunidades eclesiais de base e de movimentos populares. É coordenador latino-americano da ASETT (Associação Ecumênica de Teólogos/as do Terceiro Mundo) e autor de 45 livros publicados no Brasil e em outros países
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