Por Marcelo Barros
Nesses dias, o mundo recorda com dor as datas nas quais
o governo dos Estados Unidos jogaram sobre as populações civis de Hiroshima (06
de agosto de 1945) e de Nagazaki (dois dias depois) as bombas atômicas que fizeram
as guerras evoluírem de combates restritos para a destruição em massa. Atualmente,
comparadas às centenas de armas nucleares que nove potências mundiais têm
armazenado, as bombas de Hiroshima e Nagazaki são apenas inocentes brinquedos
infantis.
Atualmente, os grandes impérios mantêm guerras na
África e no Oriente Médio. Assim, suas empresas vendem armas cada vez mais
sofisticadas e caras. (O mercado de armas é a segunda fonte econômica do mundo,
logo atrás das drogas). No entanto, para seus interesses colonialistas, na
América Latina, o império norte-americano promove o que ele mesmo denomina de “guerra
de baixa intensidade” ou “guerra de quarta geração”. Nas ruas da Nicarágua,
jovens protestam violentamente contra um governo que trai suas propostas iniciais.
E a violência policial os reprime. No entanto, o que os espera será sem dúvida
muito pior. A guerra econômica contra o governo da Venezuela torna a vida do
povo muito dura e difícil. E ao governo dos Estados Unidos, essas
desestabilizações de governos eleitos custam apenas alguns poucos milhões de
dólares e não arriscam a vida de nenhum soldado norte-americano. Em poucos
anos, o império já conseguiu reconquistar quase toda a América Latina. Sempre
que possível, paga o que for necessário aos próprios governos locais e os próprios políticos brasileiros e chilenos
cuidam da recolonização. Cuba e Bolívia parecem a aldeia dos gauleses de
Asterix que, sem poção mágica, resistem ao Império. No entanto, os próprios
governos vassalos do império cuidarão de dificultar cada vez mais o projeto de
integração latino-americana de Bolívar e do presidente Chávez. No Brasil, o
único que ainda poderia lhes fazer frente (Lula), com ou sem respaldo da lei, é
mantido na prisão. Pouco importa que isso escancarou aos olhos do mundo todo o
projeto iníquo do império e dos seus vassalos.
Os grandes meios de comunicação recebem as somas
necessárias para manter o povo no sono da alienação. A cada hora morre mais de uma
criança, por doenças provocadas pelas condições de insalubridade e insegurança
alimentar. Cada dia, são assassinados jovens negros e pobres, vítimas da
violência que faz pobres matarem pobres. Nas ruas da cidade, se multiplicam as
pessoas abandonadas à própria sorte. E no sertão do Nordeste, o monstro da fome
volta a assustar. No entanto, as redes de televisão fazem as pessoas chorarem
por um gol perdido na copa e passam o dia a discutir se Neymar foi ou não
classificado entre os dez maiores atletas do mundo.
As bombas de Hiroshima e Nagazaki são anualmente recordadas.
No entanto, quem lembrará que entre maio e junho desse ano mais de 600
migrantes perderam a vida no Mar Mediterrâneo por culpa dos governos da Itália
e de países europeus que fecham os portos a suas embarcações? Quantos migrantes
estarão morrendo nesses dias tentando atravessar as fronteiras dos Estados
Unidos? Quantos verão seus filhos e filhas de seis ou oito anos serem levados a
campos de concentração do governo democrático da maior potência da Terra?
Nos Estados Unidos, há mais de século, as pessoas
respiram guerra e a sociedade fala de violência. O país tem 310 milhões de
pessoas. Existem registradas legalmente mais de 270 milhões de armas em mãos de
particulares. As pessoas são treinadas para matar e morrer. Nessa cultura
pautada pelas armas, o desequilíbrio psíquico e os acessos psicóticos de alguém
facilmente se expressarão através do canal que a sociedade mais oferece: a
violência. No Brasil, noite e dia, sem cessar, jornais, revistas e programas de
televisão semeiam e cultivam a mesma violência como política, para manter a
cultura que permite a desigualdade. Esse vírus provoca muito mal a toda a
sociedade, mas o risco é que o veneno acabe matando até quem o fabrica e o
vende.
Graças a Deus, os movimentos sociais se rearticulam. A
sociedade civil internacional se firma como sujeito de direitos e conquistas. As
religiões são chamadas a retomar sua vocação de testemunhas de Deus Amor e
Fonte de Paz. Todas as tradições espirituais podem se unir em um grande mutirão
para trabalhar pela paz, tanto no coração das pessoas, como nas estruturas sociais.
Ao recordar as bombas de Hiroshima e Nagazaki, temos de acabar também com a
bomba da fome que mata diariamente mais do que as armas de guerra. E precisamos
igualmente cortar pela raiz o germe da violência instalada na sociedade da
intolerância e da desigualdade social. Jesus falou: “são abençoadas as pessoas
que trabalham pela paz porque, ao fazer isso, elas fazem o que Deus faz” (Mt 5,
9).
Nenhum comentário:
Postar um comentário