Prof. Martinho Condini
Em
1985 Eduardo Galeano lançou a obra Espelhos
– uma história quase universal, onde ele analisa a história da humanidade –
de sua origem aos dias de hoje – sob o olhar dos desvalidos, dos esquecidos da
história oficial. O livro traz um inquietante panorama de acontecimentos e de
transformações do mundo, misturando o passado e o presente. São quase seiscentas
histórias breves onde viajamos através do tempo, sem limites, e de mapas,
sem fronteiras. Apesar desse livro ter
sido escrito há trinta e sete anos, nos
dias de hoje ele nos remete há muitas reflexões, sobre a história mundial e por
consequência a nossa realidade
brasileira. É uma pena que tão poucas pessoas tenham feito essa leitura,
que a meu ver seria primordial para a
nossa sociedade nos dias atuais.
Mas
confesso a vocês que o que me remeteu à lembrança deste livro, foi uma mensagem
que recebi no “uotesap” com fragmentos dessa obra, que compartilho com vocês.
“Este
livro foi escrito para que eles não se percam.
Nestas páginas se unem o
passado e o presente.
Os mortos renascem, os
anônimos têm nomes:
os homens que construíram
os palácios e templos de seus amos;
as mulheres, ignoradas
por aqueles que ignoram os próprios temores;
o sul e o oriente do
mundo, desprezados por aqueles que desprezam as
próprias ignorâncias;
os muitos mundos que o
mundo contém e esconde;
os pensadores e
sentidores;
os curiosos, condenados a
perguntar, e os rebeldes e os perdedores e os
loucos lindos têm sido e
são o sal da terra.”
Acredito
que valha a pena, parar e refletir sobre esse trecho, e cada um de nós
percebermos para quem, e com que intuito Galeano escreveu essa obra, afinal de
contas, na maioria das vezes só conseguimos ouvir a versão dos poderosos e
vencedores.
Abaixo
o outro fragmento:
“Os amigos de Adolf
Hitler têm má memória, mas a aventura nazi não teria sido possível sem a ajuda
que deles recebeu.
Como seus colegas
Mussolini e Franco, Hitler contou com o precoce beneplácito da Igreja Católica.
Hugo Boss vestiu seu
exército.
Bertelsmann publicou as
obras que instruíram seus oficiais.
Seus aviões voavam graças
ao combustível da Standard Oil [hoje Exxon e Chevron], seus soldados viajavam
em caminhões e jeeps da marca Ford.
Henry Ford, criador
desses veículos e do livro O judeu internacional, foi sua musa inspiradora.
Hitler agradeceu por tudo condecorando-o.
Também condecorou o
presidente da IBM, a empresa que tornou possível a identificação dos judeus.
A Rocckefeller Foundation financiou investigações raciais e
racistas da medicina nazi.
Joe Kennedy, pai do
presidente, era embaixador dos Estados Unidos em Londres, porém mais parecia
embaixador da Alemanha. E Prescott Bush, pai e avô de presidentes, foi
colaborador de Fritz Thyssen, quem pôs sua fortuna à disposição de Hitler.
O Deutsche Bank financiou
a construção do campo de concentração de Auschwitz. O consórcio IGFarben, o
gigante da indústria química alemã, que depois passou a se chamar Bayer, Basf
ou Hoechst, usava como ratos de laboratório os prisioneiros dos campos, e além
disso os usava como mão de obra. Estes operários escravos produziam de tudo,
incluindo o gás que iam mata-los. Os prisioneiros trabalhavam também para
outras empresas, como Krupp, Thyssen, Siemens, Vasrta, Bosch, Daimler Benz,
Wolkswagem e BMW, que eram a base econômica dos delírios Nazis. Os bancos
suíços ganharam uma nota preta comprando de Hitler o ouro de suas vítimas: suas
jóias e seus dentes. O ouro entrava na Suíça
com assombrosa facilidade, enquanto a fronteira estava completamente fechada
para os fugitivos de carne e osso.
A Coca-cola inventou a Fanta
para o mercado alemão em plena guerra. Nesse período, também a Unilever,
Westinghouse e General Eletric
multiplicaram ali seus investimentos e sua ganâncias.
Quando a guerra terminou,
a empresa ITT recebeu uma milionária indenização porque os bombardeios aliados
haviam danificado suas fábricas na Alemanha”.
O
imperialismo capitalista ocidental não tem limites para conseguir atingir os
seus interesses políticos e econômicos.
Se
fizermos uma analogia com o nosso Brasil dos últimos anos, perceberemos que chegamos
a essa condição por meio de um projeto político, como muitos já mencionaram,
onde muitas mãos e cabeças ajudaram a construir o governo de um simpatizante do
nazifascismo.
Não
venham atribuir a Pandemia ou guerras externas, o fosso ao qual nos encontramos,
há responsáveis por estarmos nessas condições sim, todos aqueles que
acreditaram nesse governo de hipócritas e maus caráteres que estão nos levando
a pior condição econômica e social da nossa história republicana.
Então,
cabe agora à todas e todos os cidadãos brasileiros de bom senso contribuir para
retirarmos o Brasil desse atoleiro de ignorância, truculência e incompetência
que nos aflige, pois todos dias somos surpreendidos com alguma atitude no
mínimo desagradável dessa cambada de sevandijas.
O
que nos resta é não perder a nossa capacidade de indignar-se e nem o esperançar
de que podemos ser feliz de novo e ter um país digno Para Todos.
*O Prof. Martinho Condini é historiador, mestre
em Ciências da Religião e doutor em Educação. Pesquisador da vida e obra de Dom
Helder Camara e Paulo Freire. Publicou pela Paulus Editora os livros ‘Dom
Helder Camara um modelo de esperança’, ‘Helder Camara, um nordestino cidadão do
mundo’, ‘Fundamentos para uma Educação Libertadora: Dom Helder Camara e Paulo
Freire’ e o DVD ‘ Educar como Prática da Liberdade: Dom Helder Camara e Paulo
Freire. Pela Pablo Editorial publicou o livro ‘Monsenhor Helder Camara um ejemplo
de esperanza’. Contato profcondini@g
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