Por ROBERTA BARROS

Vi recentemente em Recife, um
livrinho com várias expressões de Pernambuquês, mas o que me chama atenção atualmente
é o novo vocabulário trazido pelas crianças, sobretudo aquelas que vivem em
favelas. É quase uma nova língua que nos chega fortalecida pelas ondas sonoras
das rádios que invadem estes bairros, utilizando desde simples bicicletas , a potentes tuíteres, que são colocados em vias públicas, projetos de mini trio elétrico, que cruzam as
ruas, nas madrugadas, lembrando que
estamos permanentemente em um carnaval fora de época.
Neste novo dialeto, trazido dos
finais de semana das visitas aos pais nos presídios, da popularidade do uso das
drogas nas comunidades, e da omissão do
poder público neste bairros, estamos
prestes a conversar meio quilo e não entender cem gramas.
O comunicar chega carregando uma
dura realidade, a infância passa rapidamente, pois da bocas de crianças saem expressões
quase proféticas, na verdade relatos de suas
vidas supliciadas.
Nesta nova forma de comunicação,
precisamos muitas vezes, descobrir o que significa não a palavra falada, mas
sim o sentimento que ela carrega.
Saber por exemplo, o que
significa baratinar é fácil, difícil é entender como ficam quatro crianças,
sozinhas, em um pequeno casebre, durante toda a noite, porque a mãe, mais uma
vez, saiu para se prostituir e se drogar e novamente baratinou.
Entre dois mundos caminhamos, um
dentro de uma modernidade veloz, estrondosa e exuberante, digna de filmes antes
chamado de ficção científica, e outro, que
corre a céu aberto, nos canais e favelas que contornam a cidade banhada pelo
mar, fazendo suas ondas beijarem as areias negras de esgotos e tropeçarem nos lixões a céu aberto que povoam os rios Capibaribe e
Beberibe.
Roberta Barros é pedagoga e fundadora da CAMM
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