Por MARCELO BARROS

Era a primeira vez em que um papa escrevia
não somente a patriarcas, cardeais, bispos e padres católicos. A Pacem in
Terris é dirigida também a cristãos das mais diversas Igrejas e ainda mais a
todas as pessoas de boa vontade. Alguns
meses antes da carta, o papa tinha interferido pessoalmente para impedir um
conflito entre os Estados Unidos e a Rússia. João XXIII recebeu o prêmio Nobel
da Paz. Na sua carta, ele insiste de que nunca haverá paz no mundo se não
houver respeito aos direitos humanos de cada pessoa e se um país não respeita a
liberdade e a independência do outro. Em uma carta anterior (a Mater et
Magistra), ele havia defendido o princípio da socialização. Embora não
signifique um regime social (o socialismo), a socialização tem a mesma base: a
preponderância do social sobre o individual e a vocação de todas as pessoas
humanas para viver a solidariedade e a responsabilidade fraterna.
Quem hoje analisa o mundo pode perceber
algumas conquistas importantes da humanidade nesses 50 anos: de lá para cá
alguns países da África que em 1963 ainda eram colônias completaram sua
independência política. Existe, atualmente, uma consciência maior dos direitos
humanos, da igualdade racial e de gêneros. Entretanto, as relações de trabalho
parecem mais precárias hoje do que há 50 anos, as guerras são mais perigosas e
com armamentos nucleares mais sofisticados e mortíferos. E mais perigoso do que
o terrorismo internacional é a ameaça de destruição da natureza, consequência
do sistema capitalista depredador.
Nesse contexto, a comemoração dos 50 anos
da Pacem in Terris vem nos lembrar de que a paz no mundo é um projeto divino e
que todas as pessoas que creem em Deus são chamadas a colaborar com esse
projeto. De acordo com a Bíblia, a paz não é apenas ausência de guerras, mas é
o bem viver que hoje vários povos indígenas almejam como política de estado. Na
Bíblia, Paz é Shalom, relação justa entre as pessoas, saúde e bem estar. É uma
forma de viver. É essa paz que Jesus desejava quando disse: “Felizes as pessoas
que constroem a paz porque serão chamadas filhos e filhas de Deus, ou seja,
fazem aquilo que Deus faz” (Mt 5, 9).
Marcelo Barros, monge
beneditino e peregrino de Deus
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